‘Enem dos concursos’: candidato consegue carona em cima da hora e viaja mais de 100 quilômetros para fazer prova no Recife


Até a noite do sábado (17), José Alberto Lins não sabia se conseguiria fazer a prova, pois não tinha transporte para ir da Zona da Mata até a capital pernambucana. José Alberto Júnior mora em Barreiros, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, e fez a prova do ‘Enem dos concursos’ na Unicap, no Centro do Recife
Artur Ferraz/g1
Milhares de pessoas fizeram, neste domingo (18), as provas do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), o “Enem dos concursos”, no Recife. Entre elas, estava José Alberto Lins da Silva Júnior, que mora em Barreiros, cidade da Zona da Mata Sul de Pernambuco localizada a 108 quilômetros da capital do estado.
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Até a noite do sábado (17), ele não sabia se conseguiria fazer a prova, já que não tinha transporte para ir ao Recife, um dos sete polos de realização do concurso em Pernambuco. No entanto, conseguiu uma carona de última hora com um parente.
“Um tio meu se disponibilizou para me levar. Até ontem, às 20h, não sabia se vinha […]. Mesmo assim, me empenhei, estudei um pouco. Não me dediquei vários meses como acho que muitas pessoas se dedicaram, mas, como, no passado, tive contato com a área de ciências humanas, muitos conteúdos dessa prova já vi antes”, disse José Alberto.
Ele fez a prova na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no bairro da Boa Vista, no Centro da capital pernambucana. José Alberto se candidatou para sete cargos, tendo como prioridade o de analista de políticas públicas no Ministério da Ciência e Tecnologia e o de agente de indigenismo na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
“A motivação é ter uma regularidade no meu aporte mensal de renda, não ficar dependendo de cliente, sair da incerteza”, declarou José Alberto, que não tem trabalho fixo.
Primeira policial com deficiência em PE fez prova
Maria Eugênia Bispo, jornalista e escrivã que ficou paraplégica e voltou a andar depois de um ano, fez a prova do Concurso Público Nacional Unificado na Unicap, no Recife
Artur Ferraz/g1
Quem também fez a prova no Recife foi a jornalista e escrivã Maria Eugênia Bispo, que se tornou a primeira mulher com deficiência a se tornar policial civil no estado. Gena, como é conhecida, ficou paraplégica e fez três cirurgias para voltar a andar depois de fraturar a coluna na academia, em 2013.
Como não solicitou assistência especial ao se inscrever para o concurso, ela fez a prova no 7° andar do no Bloco G da Unicap. Gena usa uma bengala para andar e disse ao g1 que sentiu uma “falta de respeito à prioridade” das pessoas com deficiência durante a prova, sobretudo na fila do elevador.
“Tem uma placa lá dizendo que é prioridade para gestantes, idosos e pessoas com deficiência. Foi difícil passar na frente, e ainda teve gente me olhando estranho. Algumas pessoas têm consciência, outras acham que é um favor e algumas não respeitam […]. É algo estrutural, a acessibilidade atitudinal é a que mais pesa na sociedade”, afirmou Gena.
No “Enem dos concursos”, Eugênia se inscreveu para o cargo de auditor fiscal do trabalho. Para poder se preparar, conciliando os estudos com o trabalho na polícia, ela trancou a faculdade de psicologia.
“Estabilidade financeira, de certa forma, já tenho, mas é óbvio que a gente sempre quer melhorar, até pelos gastos de saúde. Acho que [busco] um ambiente de trabalho mais adequado para mim, porque ser uma pessoa com deficiência na Polícia Civil é complicado […]. Se você trabalha em delegacia, só carregar o nome ‘policial’ e o distintivo já traz um certo perigo. E eu, com a deficiência física, fico um pouco vulnerável”, explicou.
Migração de área no serviço público
Outra candidata que se dedicou bastante para fazer a prova foi Thaisi Melo. Atualmente, ela é técnica judiciária no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e tenta mudar de área no serviço público para se tornar auditora fiscal do trabalho.
A servidora também se inscreveu para especialista em políticas públicas e gestão governamental, cargo ligado ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Um sonho compartilhado com o marido, que também foi fazer a prova e estudou com ela até a véspera do concurso.
“A gente está estudando há um ano e dois meses, desde que anunciaram o concurso [para auditor fiscal do trabalho], com todos os perrengues que a gente passou. […] Inicialmente, coletei todos os materiais que seriam necessários. Fiz um edital ‘verticalizado’, eu mesma fiz em casa, com a descrição das datas em que iria estudar, quantidade de questões, fiz indicadores e mapeei as apostilas que ia estudar e ia repetindo. Teve assuntos que vi seis, sete vezes”, contou Thaisi.
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