‘Quando bandidos davam tiros, a gente se jogava no chão’, diz paciente do Hospital da Marinha; moradores relatam insegurança


Na terça (12), a capitão de Mar e Guerra e médica Gisele Mello foi atingida dentro de uma sala do Hospital Marcílio Dias, no Lins de Vasconcelos. Mizael Alves, militar aposentado da Marinha
Rafael Nascimento / g1 Rio
Moradores da região do Complexo do Lins e funcionários e pacientes do Hospital Marcílio Dias estão apreensivos com a insegurança na região.
Na terça-feira (10), a capitão de Mar e Guerra e médica da Marinha Gisele Mendes de Souza e Mello, de 55 anos, morreu após levar um tiro na cabeça dentro no Hospital Marcílio Dias.
Segundo o militar aposentado da Marinha Mizael Alves, há muitos anos a insegurança assusta as pessoas que frequentam a unidade de saúde. De acordo com ele, desde a década de 90 é comum os pacientes e funcionários se esconderam para não ser atingido por bala perdida quando há tiroteio nas comunidades do entorno da unidade de saúde.
“A violência aqui sempre existiu. Quando os bandidos davam tiros lá de cima, a gente se jogava no chão para se proteger. Mas, hoje, a situação piorou muito. Venho aqui com frequência e sempre tem violência. É um absurdo uma pessoa morrer dentro do trabalho. Não é normal”, critica o militar que já fez curso no Marcílio Dias.
Na manhã desta quinta (12), pelo menos oito veículos blindados da Marinha começaram a patrulhar o entorno do Complexo do Lins. Em nota, a Marinha informou que está realizando uma ação ostensiva para garantir a segurança dos profissionais e pacientes que precisam circular pelo hospital.
Criminosos não se intimidam, dizem moradores
Para moradores da região, a presença dos militares não intimida os criminosos que atuam nas comunidades do entorno.
“Os militares da Marinha aqui e nada é a mesma coisa. Eles acabam sendo intimidados pelo crime que domina a comunidade há anos. Até eles são assaltados. Ninguém toma providências. Agora, com a porta arrombada, colocaram esses blindados aqui. Mas até quando?”, questiona uma aposentada de 72 anos que mora ao lado do hospital.
Nem mesmo a presença dos militares dentro do complexo hospital intimidam os criminosos que dominam as 16 favelas do entorno.
Alguns moradores dizem que a única saída é rezar e se apegar na fé, esperando que o pior não aconteça.
“Não me sinto segura. Moro aqui há 40 anos e sempre foi assim. Às vezes, a troca de tiro é tão intensa, que temos medo de sermos atingidos. Aqui deveria ser um local de paz, segurança. Mas, não é o que acontece. Pago quase R$ 600 de condomínio para correr o risco de ser baleada. Na última semana, uma bala perdida atingiu a parede de um dos blocos aqui do condomínio”, conta a mulher que, por medo, não quis se identificar.
Segundo o Comando do 1º Distrito Naval, a ação vai acontecer por tempo indeterminado.
Blindados da Marinha circulam pelo entorno do Complexo do Lins
Médica estava no auditório do hospital
Gisele foi baleada enquanto participava de um evento no auditório da Escola de Saúde da Marinha, no interior do hospital. Gisele foi imediatamente socorrida e levada para o centro cirúrgico, mas não resistiu e morreu horas depois.
Naquele momento, segundo a PM, ocorria uma operação na comunidade do Gambá, no Complexo do Lins. A operação tinha como objetivo prender criminosos envolvidos em roubos de veículos na região do Grande Méier.
Peritos da Marinha e do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) calculam que o tiro veio de uma posição acima do 2º andar, onde fica a sala em que a médica acompanhava a cerimônia. Segundo os investigadores, o disparo atingiu sua testa e se alojou na nuca.
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