Patrimônio da Humanidade, Serra do Japi acompanha Jundiaí crescer e contribui para preservação da fauna e flora: ‘Pulmão da cidade’


Serra do Japi é casa para inúmeras espécies de plantas e animais. E, além da importância para a biodiversidade da região, o local também possui uma relação estreita com os moradores de Jundiaí (SP), município que celebra 368 anos neste sábado (14). Gigante, imponente e centenária. Com seus 350 km², a Serra do Japi pode ser vista de qualquer lugar da cidade de Jundiaí (SP) e chama a atenção não só pelo verde vibrante, mas pelas histórias que carrega.
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Ela é um raro remanescente da Mata Atlântica no interior de São Paulo e faz divisa com quatro municípios: Jundiaí, Pirapora do Bom Jesus, Cajamar e Cabreúva.
Em 1983, a serra foi tombada como Patrimônio Natural da Humanidade pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e, em 1992, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Serra do Japi “rodeia” a cidade de Jundiaí (SP)
TV TEM/Reprodução
Formada por uma pequena cadeia montanhosa, a Serra do Japi é casa para inúmeras espécies de plantas e animais. E, além da importância para a biodiversidade da região, o local também possui uma relação estreita com os moradores de Jundiaí, município que celebra 368 anos neste sábado (14).
Aos pés da serra, a moradora Mafalda Gobbo compartilha a rotina com a natureza, e celebra a oportunidade de viver em meio ao verde das árvores.
“Moro aos pés da serra há 70 anos. Nasci aqui. Morar nesse ar livre, nessa pureza, é saúde, alegria. É abrir a janela e sentir o ar puro. A natureza da serra nos dá água pura, frutas, animais. É tudo muito bom”, afirma a dona de casa.
Mafalda Gobbo vive aos pés da Serra do Japi e compartilha a rotina com a natureza em Jundiaí (SP)
Wânyffer Monteiro/TV TEM
Para alguns, 70 anos pode ser muito tempo, mas para a Serra do Japi, é apenas uma fração de sua história. O imenso verde acompanhou o nascimento de Jundiaí e, como uma mãe que vê o filho crescer, fez parte de marcos importantes para a cidade.
Um deles foi a construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí em 1867, a principal responsável pelo transporte de café, outros produtos agrícolas e passageiros até a década de 1930. Com ela, chegaram os italianos, que fugiam da guerra. Os primeiros “moradores” de Jundiaí trouxeram consigo a produção de uvas, e fizeram dos vinhedos uma paisagem vizinha da serra.
Estrada de Ferro Jundiaí-Santos trouxe os primeiros imigrantes para Jundiaí (SP)
TV TEM/Reprodução
O agricultor João Bardi é descendente destes imigrantes. Segundo ele, mesmo com a falta de maquinário, os italianos consolidaram o cultivo de uvas na região. Uma das variedades produzidas atualmente é a Niágara Rosada, originária da própria terra jundiaiense.
“Meus quatro avós vieram da Itália, compraram terras aqui e começaram plantando café, abacaxi. E aí, começamos a produzir a uva Isabel e, depois, veio a Niágara branca, que é dos Estados Unidos. Só que surgiu aqui em Jundiaí a Niágara rosada. Naquela época era difícil, era tudo braçal. Mas o pessoal era arretado. Faziam mesmo”, conta.
João Bardi é produtor de uvas aos pés da Serra do Japi, em Jundiaí (SP)
TV TEM/Reprodução
Em 1948, Jundiaí ganhou “cara de metrópole” graças ao nascimento da Rodovia Anhanguera (SP-330), que colocou a cidade no centro logístico do país. São cerca de 50 km que cortam o município e fazem ligações importantes com aeroportos, possibilitando o escoamento da produção e o transporte de serviços e pessoas.
E, mesmo com todos os avanços e modernidades, a Serra do Japi sempre “rodeou” a cidade. Com o tempo, sofreu “na pele” a maldade e inconsequência do ser humano, sendo alvo de inúmeras queimadas e desmatamento.
Construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí em 1867, a principal responsável pelo transporte de café
Maurício Ferreira/Acervo
“A serra vem sofrendo uma pressão muito grande com a plantação de mandioca, milho, cana de açúcar, café… A parte do extrativismo, não só de madeira, mas de mineral também, devastou muito a região”, explica o historiador Maurício Ferreira.
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Divulgação/Prefeitura de Jundiaí
Mas, graças a estreita relação de amor e companheirismo construída com os moradores de Jundiaí, aos poucos consegue se reerguer. Um deles é Joaquim Paula Moraes, de 85 anos, membro do grupo Japi Viva, que faz um trabalho voluntário de reflorestamento da mata nativa da serra desde 2020.
“Nosso grupo planta para preservar a mata e trazer a fauna para próximo da Serra. Hoje temos um grande reflexo desse trabalho, mas eu acredito que, se continuarmos com a preservação, vai marcar nossas vidas. São iniciativas simples, sem gasto nenhum, mas que são feitas com muita vontade e entusiasmo”, relata.
Joaquim Paula Moraes, de 85 anos, membro do grupo Japi Viva, que faz um trabalho voluntário de reflorestamento da mata nativa da serra desde 2020
TV TEM/Reprodução
Além de ser Patrimônio Natural da Humanidade, a Serra do Japi é também patrimônio de Jundiaí, e é protegida por uma lei municipal, que criou Sistema de Proteção das Áreas da Serra do Japi, a fim de garantir a não exploração imobiliária do entorno da serra.
“A Serra do Japi se impôs, e se impõe até hoje pra nossa sociedade. Tanto é que temos uma grande mobilização dessa sociedade, que hoje tem conhecimento técnico e científico, principalmente apoiado em centenas de estudos feitos pelas universidades brasileiras e até com pesquisadores de outros países”.
Superintendente da Fundação Serra do Japi, Vânia Plaza Nunes
Wânyffer Monteiro/TV TEM
“Na atualidade, especialmente com a crise climática, o que nós temos percebido é que, cada dia mais, a Serra do Japi se mostra, como quem dissesse ‘estou aqui e preciso ser preservada, junto com toda a vida que vem comido, seja fauna, seja flora'”, afirma a superintendente da Fundação Serra do Japi, Vânia Plaza Nunes.
A imensidão verde envolve Jundiaí, quase como se desse um grande abraço na cidade e em seus moradores. Pela idade, pode ser considerada uma senhora mas, em seu interior, permanece com a vivacidade de uma jovem, com muito a crescer e se desenvolver.
“Todo jundiaienses tem uma relação especial com a Serra. Porque, de qualquer lugar da cidade, você pode vislumbrá-la, e ter essa visão maravilhosa. Nos remete à infância, aos nossos parentes… Ela é o orgulho da cidade. Nossa protetora, o pulmão da cidade”, finaliza Maurício Ferreira.
Serra do Japi é paisagem querida pelos moradores de Jundiaí (SP)
TV TEM/Reprodução
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