EUA: população de baixa renda passa por dificuldades financeiras mesmo após melhora na economia

Chiugo Akujuobi tem sobrevivido com a ajuda de bancos de alimentos e doações de amigos desde que deixou a casa da família em Houston, Texas, no início deste ano. Ele afirma estar cansado dos frequentes comentários transfóbicos de parentes.

Aos 26 anos, Akujuobi dorme atualmente no sofá de um amigo no norte do Texas. Ele se formou em 2021 com um diploma de bacharel pela Universidade de Scripps e tem enfrentado dificuldades para conseguir um emprego em tempo integral, realizando trabalhos pontuais como design gráfico, marketing em redes sociais e redação publicitária de forma freelancer.

Akujuobi é uma das milhões de pessoas nos Estados Unidos que enfrentam dificuldades na economia atual. Neste ano, eles estimam ter ganhado menos de US$ 10 mil. A linha de pobreza para uma pessoa solteira foi de US$ 15,48 mil em 2023, segundo os dados mais recentes do Departamento do Censo dos Estados Unidos.

A crise do custo de vida nos Estados Unidos diminuiu um pouco, mas os americanos de baixa renda ainda lutam após anos de alta inflação e taxas de juros elevadas. A situação pode piorar se o presidente eleito Donald Trump cumprir sua promessa de impor pesadas tarifas aos três maiores parceiros comerciais dos EUA, o que poderia reacender a inflação, de acordo com economistas.

“Não sei como consegui sobreviver por tanto tempo”, disse Akujuobi. “Se piorar, sei que as pessoas pobres continuarão sendo criativas. A gente simplesmente se vira com o que tem.”

Ainda sentindo os efeitos

A inflação caiu consideravelmente em relação aos picos de 40 anos registrados em 2022, quando os preços da gasolina ultrapassaram US$ 5 por galão (cerca de 3,78 litros) e os preços das casas subiram dois dígitos.

No entanto, os preços aumentaram 22,2% cumulativamente em novembro deste ano em comparação com janeiro de 2020, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), que mede as mudanças nos preços de bens e serviços comumente comprados.

Após elevar as taxas de juros ao maior nível em 23 anos, o Fed começou a reduzi-las em setembro, embora autoridades tenham dito recentemente que os custos de empréstimos ainda pressionam partes da economia. Elas também indicaram que não há pressa para reduzir essas taxas.

Muitos americanos continuam enfrentando dificuldades: quase 30% de todas as famílias dos EUA relataram neste ano gastar mais de 95% de sua renda disponível em necessidades como moradia, alimentação e contas de serviços públicos, segundo o Bank of America Institute.

Em 2019, esse índice era menor. Entre as famílias que ganham menos de US$ 50 mil por ano, a proporção sobe para cerca de 35%.

“As famílias de baixa renda sempre sentirão mais os impactos da inflação e das taxas de juros altas”, disse Elizabeth Renter, economista sênior da NerdWallet.

O crescimento salarial finalmente começou a superar a inflação no início de 2023, com os trabalhadores na base da pirâmide de renda vendo seus salários crescerem em segundo lugar mais rápido, segundo dados do Fed de Atlanta.

Porém, os ganhos desaceleraram significativamente desde então, ficando atrás do crescimento salarial dos americanos mais ricos em novembro.

Empresas que oferecem preços baixos e itens essenciais, como Ross Stores, Dollar General e Walmart, colheram os frutos do comportamento econômico cauteloso dos consumidores. O Walmart registrou receitas acima do esperado nos primeiros três meses do ano, e o Dollar General observou um aumento no tráfego de clientes.

Ainda assim, os varejistas notaram sinais de que os consumidores de baixa renda estão sob pressão.

“Se você ouvir os relatórios de lucros de alguns varejistas que atendem pessoas de renda baixa e moderada, eles dizem de forma unânime que os consumidores estão sentindo a pressão”, afirmou Jerome Powell, presidente do Fed, em um evento em Nova York no início deste mês.

Mais problemas à vista?

Se Trump avançar com a imposição de tarifas de 25% sobre bens importados do Canadá e México, além de imposto adicional de 10% sobre produtos chineses, preços poderiam subir 0,75% no próximo ano, segundo estimativa de economistas do Yale Budget Lab fornecida à CNN.

Isso equivaleria a uma perda de cerca de US$ 1.200 no poder de compra anual por família, em dólares de 2023, de acordo com a estimativa. No entanto, o impacto poderia ser um pouco menor se os americanos comprarem produtos fabricados no país ou de países com tarifas mais baixas.

Contudo, um novo episódio de alta inflação seria diferente do mais recente, iniciado em 2021 e impulsionado pela demanda e pelos choques na oferta causados pela pandemia em grande parte, dizem os economistas.

Desta vez, os americanos não terão o suporte das economias acumuladas durante pandemia nem de benefícios de programas emergenciais que expiraram, como extensão do crédito tributário infantil e almoços escolares gratuitos.

“Famílias não estão em tão boa situação como estavam logo após a pandemia, mas estamos falando de um cenário de inflação diferente”, disse Shannon Grein, economista do Wells Fargo.

“Você pode pensar nas tarifas como ajustes únicos de preços. As empresas não continuarão aumentando os preços mês após mês devido às novas tarifas, ao contrário dos desequilíbrios de oferta e demanda durante a pandemia.”

Ainda assim, as famílias de baixa renda seriam fortemente impactadas nesse cenário, segundo Grein.

“No próximo ano, provavelmente teremos um ambiente em que o consumo será positivo, mas estará desacelerando, mascarando muitas dessas vulnerabilidades que estão chegando ao limite e impactando os segmentos de renda mais baixa, que enfrentam a inflação e as taxas em uma escala muito maior”, concluiu.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em EUA: população de baixa renda passa por dificuldades financeiras mesmo após melhora na economia no site CNN Brasil.

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