“Um Completo Desconhecido”: figurinista conta como transformou Timothée Chalamet

Se a moda é uma linguagem, Arianne Phillips, figurinista do mais recente filme de James Mangold, “Um Completo Desconhecido“, é uma poliglota.

Em 2005, ela dominou o léxico visual do estilo de Johnny Cash para outro filme do realizador, “Johnny & June”, vestindo a lenda do Rockabilly com camisas de trabalho western e trajes de palco totalmente pretos. Para “Era uma Vez em… Hollywood” (2019), Phillips revisitou o guarda-roupa real de Sharon Tate para vestir Margot Robbie com o mesmo casaco de pele de cobra e short amarelo que a atriz e modelo usou antes de sua trágica morte em 1969.

Mas, nos últimos cinco anos, Phillips tem estudado Bob Dylan — tornando-se “fluente” tanto em sua visão de mundo quanto em seu guarda-roupa.

Com previsão de lançamento para 25 de fevereiro no Brasil, “Um Completo Desconhecido” traz Timothée Chalamet no papel de Dylan, acompanhando a ascensão meteórica do músico desde sua chegada a Nova York aos 19 anos até se tornar uma estrela consagrada aos 24.

“Estávamos recriando eventos conhecidos que são amplamente documentados”, disse Phillips à CNN em uma entrevista em vídeo. “Esse foi o ponto de partida para mim, em termos de pesquisa. Escavar e analisar o roteiro de forma minuciosa para eventos conhecidos.”

O filme abrange os anos de 1961 a 1965 e cobre momentos seminais da carreira inicial da estrela do folk-rock, incluindo a agora icônica sessão de fotos de 1963 para a capa de seu álbum “Freewheelin’“, sua turbulenta turnê de 1964 com Joan Baez e sua performance divisiva no Festival Folk de Newport em 1965.

65 trocas de figurino e fluência em Bob Dylan

Os figurinos relacionados a essas ocasiões foram mais fáceis de executar porque Phillips os recriou fielmente. Pegue, por exemplo, a jaqueta de couro e a camisa vermelha de botão que Dylan usou ao se apresentar em Newport, durante a qual foi vaiado incansavelmente pela plateia por tocar guitarra elétrica, ou sua blusa verde e branca com poás do mesmo fim de semana. Mas Chalamet tem mais de 65 trocas de figurino, nas cenas dos bastidores, explica Phillips, quando Dylan ainda não era famoso ou estava de folga em casa.


Timothée Chalamet em "Um Completo Desconhecido"
Timothée Chalamet em “Um Completo Desconhecido” • Divulgação/Searchlight Pictures

“Você conhece a persona de palco dele, conhece as filmagens de notícias”, disse Phillips. “Mas o que não vemos são muitas fotos dele em seu tempo privado, quando ele não está no palco ou promovendo algo.”

Para preencher as lacunas, ela precisou se envolver com Dylan, imaginando qual par de jeans ele escolheria para andar por Manhattan, a camisa que usaria para ir ao estúdio ou qual jaqueta pegaria para dar uma volta em sua motocicleta Triumph Tiger 100. “Nós não tínhamos acesso a fotografias pessoais. Então, a minha forma de entrar nisso foi realmente me tornando fluente em Bob, na pesquisa… entendendo sua estética, como ele se vestia e também aprendendo com as pessoas que o conheciam”, explicou.

De acordo com Phillips, Dylan deu algumas observações sobre o roteiro do filme para Mangold, mas esse foi o total envolvimento da estrela do rock. Também não foi concedido acesso ao seu guarda-roupa pessoal, então Phillips se baseou em várias biografias e livros sobre sua vida.

A autobiografia de 2008 “A Freewheelin’ Time: A Memoir of Greenwich Village in the Sixties“, escrita pela ex-namorada de Dylan, Suze Rotolo, também foi particularmente útil para capturar a essência dos primeiros anos de Dylan.

“Eu aprendi muito com ela”, disse Phillips sobre Rotolo, que faleceu em 2011 e é interpretada por Elle Fanning no filme como a personagem Sylvie Russo.

“Como Bob se vestia e (como ele) queria se apresentar ao mundo — sua persona. Acho que é a história de uma pessoa jovem encontrando seu caminho no mundo, (descobrindo) como quer que as pessoas a percebam, (vivenciando) liberdade e se afastando de casa. Acho que todos nós podemos nos identificar com isso, quando temos 19 ou 20 anos, encontrando nosso próprio estilo pessoal.”

Após receber o convite para participar do filme em 2019, Phillips passou anos pesquisando sobre o novo tema e construindo um robusto arquivo visual de imagens. Aos poucos, surgiu uma fórmula de moda Bob Dylan. “Minha linha guia foi realmente o denim que ele usava”, disse ela. Phillips se associou a Paul O’Neill, chefe das coleções vintage na sede da Levi Strauss em San Francisco, para rastrear e verificar o par de jeans preferido de Dylan. No início da década, eram os clássicos 501s.

“Você pode vê-lo usando a versão de 1963 dos 501s na capa de ‘Freewheelin’’,” disse ela. “Eles puderam me ajudar a encontrar muitos Levi’s vintage para o filme.” Mas não demorou muito para que seus gostos sartoriais mudassem. Em 1965, após passar algum tempo com os Beatles no Reino Unido, Dylan foi influenciado pelo estilo mod elegante, frequentemente encontrado na Carnaby Street, em Londres. Ele trocou seus jeans de corte mais largo por algo mais justo.

A Levi’s trabalhou com Phillips para recriar o estilo de jeans favorito de Dylan, a silhueta 501 de 1963.

“Esses jeans eram chamados de Super Slims e são colecionáveis e super difíceis de encontrar”, disse Phillips sobre o estilo. “Então, para nossa sorte, a Levi’s os recriou e fez sob medida para nós, o que foi emocionante.” No início deste mês, a Levi’s anunciou que iria relançar o jeans 501 de 1955, favorito de Dylan, bem como sua clássica jaqueta de camurça Trucker, por um tempo limitado.

Estilo experimental e paciência


Timothée Chalamet interpreta Bob Dylan no filme “Um Completo Desconhecido”
Timothée Chalamet interpreta Bob Dylan no filme “Um Completo Desconhecido” • Creative Commons/Divulgação/Searchlight Pictures

O estilo experimental de Dylan e sua abordagem descontraída em relação à roupa significaram muitas trocas de figurino para Chalamet. “Tínhamos um cronograma de filmagens muito ambicioso”, disse Phillips.

“Em certos dias, estávamos fazendo looks de ’61 e ’62, depois looks de ’65 e voltando para ’63. Foi uma loucura. Realmente, muito corrido. Então, poder ser o apoio para os atores no sentido de ajudá-los a alinhar onde estávamos no tempo durante a filmagem dessas cenas é uma parte do meu trabalho que eu adoro… Os figurinos realmente oferecem uma experiência tátil para o ator e ajudam a acessar o personagem.”

Chalamet já enfrentou dramas históricos e adaptações de memórias antes, mas “Um Completo Desconhecido” marca a primeira incursão do ator no território das cinebiografias de celebridades. Embora ele estivesse muito ocupado com ensaios musicais, aulas de canto e pré-gravação das performances, Phillips faz um elogio à paciência de Chalamet com seus muitos ajustes de figurino.

“É um trabalho muito íntimo, o design de figurino”, disse ela. “Somos o único departamento no set que diz: ‘Oi, prazer em conhecê-lo. Tire suas roupas.’ Há muita confiança envolvida.”

Desde que a turnê de imprensa começou, o elenco e a equipe de “Um Completo Desconhecido” receberam o reconhecimento de Dylan. “Vai ter um filme sobre mim em breve”, twittou Dylan, de 83 anos, acrescentando que Chalamet estava interpretando ele (o que o ator prontamente compartilhou para seus 19,3 milhões de seguidores no Instagram). “Timmy é um ator brilhante, então tenho certeza de que ele será completamente convincente como eu. Ou como um eu mais jovem. Ou algum outro eu.”

“É uma experiência diferente trabalhar em um filme sobre uma pessoa viva”, disse Phillips. “Espero que ele (Dylan) veja o filme e espero que ele goste.” No entanto, ela não lamenta o fato de sua equipe não ter tido acesso ao guarda-roupa do astro; como ela observou: “Não estamos fazendo um documentário.”

“E filmar é bem intenso”, acrescentou Phillips. “Eu não esperaria que Bob Dylan tivesse alguma (roupa) que durasse 60 anos, e se ele tivesse, isso deveria estar em um museu, não em um filme.”

Assista ao trailer de “Um Completo Desconhecido”

Este conteúdo foi originalmente publicado em “Um Completo Desconhecido”: figurinista conta como transformou Timothée Chalamet no site CNN Brasil.

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