Cria de projeto social de Guarulhos, na Grande SP, Rebeca Andrade leva equipe brasileira a conquistar medalha inédita em Paris


‘Daianinha de Guarulhos’, como ficou conhecida em referência a Daiane dos Santos, vencedora de nove medalhas de ouro em campeonatos mundiais, fez história nesta terça e garantiu a medalha inédita da equipe brasileira na modalidade de equipes na ginástica. Rebeca Andrade no solo
Hannah Mckay/Reuters
A equipe de ginástica feminina do Brasil conseguiu uma medalha inédita nesta terça-feira (30). Com 25 anos, a nota no salto de Rebeca Andrade garantiu o bronze para a equipe. Ela conseguiu 15.100 pontos.
Além de Rebeca, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Julia Soares e Lorrane Oliveira também brilharam na competição. Durante o aquecimento, Flavia caiu das barras, bateu com o rosto no chão e abriu o supercílio, mas, ainda assim, continuou competindo.
A equipe brasileira fechou a final em 3º lugar, com pontuação final de 164.497. Rebeca conseguiu as maiores pontuações do time em todos os aparelhos, com 15.100 no salto, 14.200 no solo, 14.133 na trave e 14.533 nas paralelas.
Com sangue, suor e brilho, Brasil é bronze por equipes na ginástica nas Olimpíadas 2024
Em 2021, o g1 conversou com a mãe de Rebeca, Rosa Rodrigues (veja abaixo) quando a “Daianinha” levou a medalha de ouro e prata em Tóquio. De lá para cá, Rebeca já ganhou:
9 medalhas em campeonatos mundiais
4 medalhas em Jogos Pan-Americanos
5 medalhas em Campeonatos Pan-Americanos
6 medalhas em Copas do Mundo de ginástica
E agora, com o bronze em Paris, ela se igualou a Fofão (do vôlei) e Mayra Aguiar (do judô) no ranking de mulheres medalhistas olímpicas do Brasil.
“Daianinha de Guarulhos”
Rebeca nasceu em Guarulhos, na Grande São Paulo, e começou a treinar aos 4 anos no Ginásio Bonifácio Cardoso. Ela iniciou a carreira no projeto social Iniciação Esportiva, da prefeitura da cidade.
VÍDEO: Rebeca começou a treinar em Guarulhos aos 6 anos de idade
Lá, ela ganhou o apelido de “Daianinha de Guarulhos”, em referência a Daiane dos Santos, vencedora de nove medalhas de ouro em campeonatos mundiais no solo entre 2003 e 2006. Ela chegou a conhecer Daiane na ocasião (veja vídeo acima).
Rebeca Andrade conquista prata nas Olimpíadas de Tóquio nesta quinta (29); medalha olímpica é da ginástica brasileira
Reuters/Dylan Martinez
Rebeca é atleta do Flamengo. No solo desta terça, mais uma vez ela se apresentou ao som de “Baile de Favela”, de Anitta, escolha já tradicional da ginasta.
“A Rebeca desde pequena sempre foi muito travessa, tudo que ela fazia era pulando, ela levava muito jeito para a coisa, mas eu não tinha muita noção de como funcionam as coisas, onde tinha ginásio”, conta a mãe da ginasta, Rosa Rodrigues.
Segundo Rosa, o acaso interveio, e a tia de Rebeca, que era funcionária pública, teve que cobrir a licença de uma outra pessoa que trabalhava no ginásio da cidade. Na semana em que a tia começou a trabalhar por lá, estavam abertas as inscrições para testes de novos atletas. Ela levou Rebeca, que na época tinha 4 anos, para se inscrever. Foi nesse dia de teste que ela ganhou o apelido de “Daianinha”.
O passo seguinte foi dado por Mônica Barroso dos Anjos, técnica da equipe de ginástica de Guarulhos e árbitra internacional. Foi ela quem descobriu Rebeca na Iniciação Esportiva.
Mônica treinou a jovem por um ano e meio. Em seguida, a encaminhou para o grupo de alto rendimento, onde Rebeca disputou competições representando Guarulhos, como o estadual, o brasileiro e até um interclubes em Cuba, em 2009.
Rebeca Andrade em Cuba em uma competição por Guarulhos
Arquivo pessoal
“Me lembro que peguei na mãozinha dela e perguntei: ‘Quer fazer o teste?’. Pedi para que ela pulasse no tablado e na hora eu brinquei: ‘Uau! essa é a futura Daiane dos Santos!’. Depois pedi para ir para a barra, abrir espacate, dar estrelinha. Eu, que trabalho há muito tempo na área, já via que ela levava jeito, era veloz, explosiva, tinha o biotipo com muito músculo, bem definida.”
Rebeca treinou por cinco anos, entre 2005 e 2010, no ginásio de Guarulhos com o projeto do município que atende crianças e jovens com idade entre 7 e 17 anos.
Além da ginástica artística, há diversas modalidades, como futsal, voleibol, basquete, futebol, handebol e natação, entre outras. Atualmente, cerca de 5 mil jovens são atendidos pelo projeto.
Rosa Rodrigues, que além de Rebeca tem outros sete filhos, conta que a família enfrentou dificuldades para que a jovem continuasse treinando. “No começo, eu trabalhava como empregada doméstica, então estava tudo certo. Mas teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar por falta de condições financeiras. Mas quando retornou, não parou mais. Ia de ônibus e, quando não tinha dinheiro, ia a pé, mesmo com a distância do local do treino — cerca de duas horas a pé.”
Quando a jovem parou de frequentar os testes por falta de dinheiro, os treinadores de Rebeca criaram um esquema de rodízio para levá-la até o local. Na época, a Prefeitura de Guarulhos disponibilizou uma espécie de bilhete único para que os atletas frequentassem os treinos, porém, quando o valor disponível no cartão acabava, demorava muito tempo para cair a recarga novamente.
Aos 9 anos, Rebeca recebeu um convite da atual treinadora para acompanhá-la em Curitiba. Em 2012, a jovem foi para o Rio de Janeiro para competir pelo Flamengo. Atualmente, ela é atleta do time.
Apoio da família
Rosa conta que foi nesse período que o irmão de Rebeca, Emerson Rodrigues, hoje com 34 anos, comprou uma bicicleta para levar e buscar a atleta nos treinos. “No começo, ele levava ela a pé, mas teve a ideia de comprar a bicicleta em uma fábrica de reciclagem. Ela tinha entre 6 e 7 anos, e ele, cerca de 15.”
Segundo ela, nos dias de treinos Emerson realizava apenas uma refeição por dia porque ele ficava esperando até o fim dos treinos e depois disso ia para a escola. “Ela almoçava no ginásio por ser atleta, depois disso os dois iam para a escola, ele não conseguia chegar a tempo de comer no local, só a noite, depois que chegava em casa”.
Rosa conta que muitas pessoas ajudaram a família a pagar a condução para que a jovem não deixasse de treinar em Guarulhos. Havia até um motorista de ônibus que dava carona para Rebeca e Emerson sempre que encontrava os dois no caminho.
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