Dia do Fusca: O carro que marcou gerações e também a política brasileira

O dia 20 de janeiro celebra o “Dia do Fusca”, um dos carros mais famosos, não só da história do Brasil, mas do mundo. O dia é tão importante entre os amantes de automóveis, que ganhou até apelido: DNF.

A data remete a 20 de janeiro de 1959, dia em que o carro passou a ser fabricado no Brasil pela Volkswagen. A partir de então, o veículo conquistou o coração dos brasileiros, se tornando um verdadeiro ícone cultural.

A história do Fusca no Brasil não pode ser dissociada do contexto político e econômico do país.

“Fusca, um símbolo”

Um dos maiores amantes deste modelo de carro foi o presidente Itamar Franco, que tomou posse após o impeachment de Fernando Collor, em 1992.

Nos anos 90, o Brasil enfrentou uma grave crise econômica, e foi nesse cenário que o presidente Itamar Franco se destacou. Itamar implementou o Plano Real, que estabilizou a economia e trouxe uma nova esperança para os brasileiros.

Durante o governo dele, o carro popular era muito associado à ideia de um Brasil em transformação.

O político tanto gostava do carro, que Itamar virou nome de um modelo desse tipo de veículo. Em agosto de 1993, o mandatário foi até a fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para reinaugurar a linha de montagem do Fusca.

Naquela época, o carro já tinha saído de fabricação, sendo sido substituído pelo Gol.

“O que nós queremos é que o Brasil tenha seu carro popular e esse carro popular significa hoje, através do Fusca, um símbolo. Esperamos, evidentemente, que ele possa ser acessível às classes mais populares do país”, disse o então presidente.

A empresa atendeu ao pedido. Lá, foi produzido o modelo que ficou conhecido como “Fusca Itamar”, básico, com motor 1.600 cilindradas, movido a álcool. O próprio presidente adquiriu um desses carros, que hoje é exibido no “Memorial Itamar Franco”, em Juiz de Fora.


O Fusca do ex-presidente Itamar Franco
O Fusca do ex-presidente Itamar Franco • Divulgação/Memorial Itamar Franco

Na reinauguração da linha de produção, Itamar desfilou em um fusca conversível dentro da fábrica, cumprimentando os funcionários.

No entanto, essa não foi a primeira vez que essa cena ocorreu. Na verdade, ele estava fazendo referência a um feito de Juscelino Kubitschek.

Desfile icônico

Antes de Itamar Franco, um outro presidente que ficou famoso pela relação com o carro foi Juscelino Kubitschek.

O governo do ex-presidente ficou conhecido, dentre outros pontos, pelas medidas e apoios à indústria brasileira de veículos. Em 1959, Juscelino Kubitschek desfilou, num fusca conversível, ao lado do governador de São Paulo, Carvalho Pinto, na inauguração da Anchieta, a primeira fábrica da Volkswagen instalada fora da Alemanha.

A cena serviu como referência para os outros mandatários ao longo dos anos.


Juscelino na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo em 1959
Juscelino na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo em 1959 • Reprodução

Carro popular

O sonho do carro popular não é de hoje, nem de ontem, é de muito tempo atrás. A maioria dos presidentes, quando assume o cargo, fala no carro popular e promete a redução no valor dos veículos, de forma que se tornem mais acessíveis à população.

No entanto, a ideia do fusca como um carro popular, levantada por Itamar, já não se encaixaria perfeitamente nos dias de hoje. De acordo com uma pesquisa realizada no primeiro semestre do ano passado, um fusca custaria em torno de R$ 80 mil, se tivesse o valor atualizado.

No início do ano passado, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acompanhou o anúncio da Volkswagen, de um investimento adicional de R$ 9 bilhões na produção de veículos na América Latina entre 2026 e 2028.

“Ótimas recordações, como era bom namorar num Fusca”

Na cerimônia de anúncio do investimento, que ocorreu em São Bernardo do Campo, na unidade da Anchieta, Lula estava acompanhado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

Os dois entraram na fábrica em um conversível da marca – assim como fizeram Kubitschek e Itamar -, repetindo o que fez também nas visitas de 2003 e 2005. Só que, dessa vez, o carro já não era mais um Fusca.


02.02.2024 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita à linha de produção da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP)
• Ricardo Stuckert / PR

Emocionado durante discurso aos funcionários da empresa, Lula ressaltou a trajetória que começou em São Bernardo do Campo. “Um metalúrgico saiu daqui, da porta de fábrica, para consertar o país”, afirmou Lula.

O vice-presidente comentou sobre lembranças que a geração dele guarda com o mais famoso carro da Volkswagen.

“Todos nós temos uma história com a Volkswagen, todo brasileiro, toda brasileira. A última vez que eu estive aqui, faz 20 anos, eu lembrei isso, a minha geração, nós temos ótimas recordações… como era bom namorar num Fusca!”, declarou.

Em resposta, o presidente Lula brincou, afirmando que Alckmin exagerou na declaração.

“O Alckmin disse uma coisa aqui que eu acho que ele exagerou, dizer que era bom namorar em um Fusquinha… companheiro, o diretor da Volkswagen me disse que, até hoje, ele tem um problema na coluna de namorar no Fusquinha”, disse.

No mesmo evento, Lula também lembrou de momentos marcantes com o Fusca.

“Eu aprendi, em 1970, a dirigir no Fusca, o Fusca 1200, que para você sair de 0 e chegar a 100, você ficava pisando meia hora, cansava a perna e o carro só chegava a 99. Depois, o primeiro carro que eu tive, também do Sindicato, era um Fusca”, revelou o presidente.

Altos e baixos

O Fusca também se tornou um símbolo de resistência e nostalgia. Mesmo com a chegada de novos modelos e tecnologias, o carro manteve a popularidade e se tornou um objeto cultuado entre colecionadores e entusiastas.

A relação do Fusca com a política brasileira é um reflexo das mudanças sociais e econômicas que o país enfrentou ao longo das décadas.

Ao longo da história do Fusca no Brasil, o veículo teve momentos de altos e baixos, mas nunca saiu do gosto dos brasileiros.

A montagem desse tipo de veículo foi interrompida em 1996, no governo Fernando Henrique Cardoso. Apesar de não ser mais produzido, amantes da indústria automobilística colecionam o carro. Hoje, é possível encontrar Fuscas usados à venda. Os valores variam muito, podendo ultrapassar os R$ 200 mil em alguns casos.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Dia do Fusca: O carro que marcou gerações e também a política brasileira no site CNN Brasil.

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