Junto há 50 anos, casal mostra o que fazer para ser feliz no relacionamento

Quando Elaine Spaulding conheceu Arthur Aron em uma aula na Universidade da Califórnia, Berkeley, no final dos anos 1960, ela estava em conflito. Ambos estudavam psicologia social. Elaine estava em seu último ano da graduação, e Arthur estava começando seu programa de doutorado.

Com uma camiseta rasgada e cabelo comprido, Arthur era o assistente de ensino de sua turma. “Eu achava ele bem interessante e empolgante”, conta Elaine. Ainda assim, ela revela que não gostava de como ele conduzia a aula.

Mas ao sair depois da última aula, Elaine conta: “Ele me parou e disse: ‘Acho que estou tendo sentimentos por você’”. Eles se olharam e se beijaram, Arthur, 79, relembrou recentemente com um sorriso.

“E nos apaixonamos perdidamente”, diz Elaine, 80, lembrando daquele beijo perto da Telegraph Avenue, a famosa via que simboliza Berkeley. “Foi muito apaixonado. Temos muitos sentimentos sobre isso. Era uma época muito apaixonante, Berkeley nos anos 60. Tudo era muito intenso”.

Os dois se tornaram um casal pessoal e profissionalmente, psicólogos que dedicaram suas vidas a estudar relacionamentos e amor. Passariam-se mais 30 anos até que eles seriam coautores do estudo de 1997 que originou “As 36 Perguntas Que Levam ao Amor” [“The 36 Questions That Lead to Love”, no título original em inglês]. Essa lista de perguntas foi popularizada em um ensaio de 2015 para a coluna Modern Love do The New York Times, “Para Se Apaixonar por Alguém, Faça Isto“.

Os Arons celebrarão 50 anos de casamento em 13 de fevereiro entre amigos e familiares na Cidade do México. E são os anos que passaram juntos que podem dizer tanto sobre manter o amor vivo quanto aquelas perguntas.

Quem precisa de uma licença de casamento?

Depois daquele primeiro beijo, as coisas entre Elaine e Arthur aconteceram rapidamente. Eles almoçaram, começaram a se ver constantemente e, alguns meses depois, foram morar juntos. Pouco depois, seguiram para o Canadá para continuar a pós-graduação em Toronto, com a expectativa de que Arthur eventualmente seria convocado se permanecessem nos Estados Unidos.

Como parte do espírito rebelde prevalente nos anos 1960, eles nunca foram muito interessados em se casar. Antes de se conhecerem, cada um havia se casado com outras pessoas aos 19 anos. “Essa é simplesmente uma idade muito tola para achar que você sabe o que está fazendo”, reflete Elaine.

Depois de admitirem que haviam cometido erros no passado, nenhum dos dois queria passar pelo casamento novamente.

“Em Berkeley, andávamos por aí dizendo que éramos casados. Só não dizíamos que éramos casados com outras pessoas”, Elaine lembra com uma risada.

Não deixe que o casamento atrapalhe


Os Arons, mostrados no dia do casamento em 1975, decidiram se casar depois de viverem juntos por sete anos • Arthur e Elaine Aron

Foi apenas quase uma década depois que eles começaram a repensar a ideia quando seu filho de 4 anos fez a pergunta. “Ele chegou em casa um dia e nos perguntou o que era um bastardo”, conta Elaine. “E decidimos que era melhor nos casar”.

Depois de viverem juntos por sete anos e terem um filho, eles finalmente se casaram em meados dos anos 1970. Arthur lembra de ter recebido algumas palavras sábias de seu rabino no dia do casamento. Ele disse: “Não deixe que o casamento interfira no seu relacionamento”.

Mais de cinco décadas após o primeiro encontro, os Arons ainda estão juntos, vivendo no norte da Califórnia, fazendo pesquisas e incluindo suas experiências pessoais em palestras sobre relacionamentos, especialmente sobre elogios e conflitos. Na verdade, Elaine compartilhou que eles quase se separaram algumas vezes.

“Eu chamo de ‘dividir os móveis’ quando você começa a tentar descobrir como vai viver quando estiver separado um do outro”, diz ela, “mas realmente aprendemos algo”.

Tire um tempo para ouvir um ao outro

Um grande erro que eles acreditam que as pessoas cometem é não ouvir adequadamente um ao outro, então eles estabeleceram regras a serem seguidas durante uma discussão.

“Uma pessoa falaria por cinco minutos, e a outra pessoa não interromperia, não diria uma palavra, apenas escutaria”, conta Elaine. “Você pode fazer anotações se discordar, mas não pode dizer nada”.

Então, a outra pessoa teria o mesmo tempo e permitiria uma réplica antes de adiarem a discussão por 24 horas. “O que acontece é que você é forçado a ver quanta dor está causando à outra pessoa”, afirma Elaine. “Quando você encara a dor que está causando, isso realmente faz você pensar sobre o que está fazendo e se quer continuar fazendo.”

Os parceiros também podem precisar pedir ajuda externa, segundo o casal. Em diversos momentos durante seu casamento, Elaine passou por dificuldades e consultou um terapeuta. “Isso a fez se sentir muito melhor, e melhorou nosso relacionamento”, conta Arthur.

“É muito tentador partir”, afirma Elaine, “e tenho amigas que deixaram seus casamentos aos 50 e 60 anos. Agora, elas desejam estar casadas porque, em determinado momento, é realmente bom ter um parceiro. Mas tem que ser alguém que você realmente respeite e goste (e) se dê bem.”

Eles ainda trabalham e brincam juntos


O casal está comemorando seu 50º aniversário de casamento em 13 de fevereiro com familiares e amigos na Cidade do México • Laura Oliverio/CNN

O casal realizou, recentemente, um estudo demonstrando os benefícios para o relacionamento de ter amigos próximos que são casais. “Isso meio que expande você. Faz você se sentir mais amplo”, afirma Arthur, que também investigou os benefícios para o relacionamento de frequentemente explorar atividades novas e desafiadoras com seu parceiro.

Em 2020, quando a pandemia começou, Elaine e Arthur fizeram uma videochamada com outro casal para fazerem as 36 perguntas uns aos outros.

“Isso foi realmente bom para nós. Estamos sempre procurando coisas novas e interessantes para fazer”, relata Arthur, acrescentando que nem sempre precisa ser sobre trabalho.

“Gostamos de estar na natureza juntos e caminhar juntos”, afirma Arthur. “Tentamos encontrar trilhas diferentes. E praticamente todo verão vamos à Europa (e) caminhamos em novos lugares na Europa, de vila em vila, por uma ou duas semanas.”

Eles apreciam as diferenças um do outro

Embora Elaine e Arthur frequentemente compartilhem trabalho e interesses externos, eles diferem em personalidade e temperamento.

“Não temos nenhuma evidência nas pesquisas de que as pessoas se saem melhor com o mesmo tipo ou melhor com um tipo diferente, mas ambos funcionam”, conta Elaine. “Mas funcionam de maneira diferente. E para funcionar quando você tem temperamentos diferentes, é necessário muita apreciação pelo outro.”

Elaine, cuja pesquisa se concentra em pessoas altamente sensíveis, diz que ela é a pessoa mais sensível do que Arthur. Ela também costuma liderar na tomada de decisões.

“Eu tendo a fazer isso um pouco mais do que ele, e ele me respeita por isso e aprecia muito”, afirma Elaine, observando que ela escolhe quais trilhas fazer. “Sei como será em determinada hora do dia, em determinada época do ano, quanta sombra haverá, quanto calor fará, quão enlameado estará. Então, eu tomo as decisões sobre onde vamos caminhar.”

Respeito e admiração


Não é surpresa que os dois psicólogos tenham sido reconhecidos por seus colegas tanto por seu trabalho quanto por sua fofura • Laura Oliverio/CNN

Olhando para trás, Elaine diz que acredita que o respeito é mais importante que o amor a longo prazo. “Há tantos problemas que acontecem durante a duração de um casamento.”

E ela também aprendeu muito com seu marido, que ela diz ser “absolutamente a pessoa mais gentil” que conhece. “Eu realmente gosto de gentileza, realmente gosto”, afirma. “Nós dois nos esforçamos muito para sermos realmente legais um com o outro, mas é com muitos “por favor e obrigado.”

Anos atrás, Arthur lembra orgulhosamente, com um sorriso alegre, de aplicar pesquisas ao seu relacionamento com Elaine que mostravam o valor de celebrar os sucessos do parceiro.

“Tínhamos, recentemente, submetido um artigo sobre seu trabalho, sobre uma pessoa altamente sensível, a uma revista muito importante que achávamos ter apenas uma chance modesta de ser aceito.”

No mesmo dia em que leu um artigo sobre apoiar os sucessos do parceiro, ele recebeu a carta dizendo que os revisores adoraram o artigo de pesquisa de Elaine. Naquela noite, ele surpreendeu sua esposa com um pôster feito à mão com o artigo e as boas notícias.

“Tivemos uma ótima noite”, relata Arthur, observando que, embora uma vida sexual saudável seja importante para um relacionamento, ele não compartilhará detalhes.

Quanto a Elaine, ela admira profundamente a honestidade e integridade de Arthur. Ela cresceu em uma família onde, ela contou, se uma garçonete ou caixa cometesse um erro a seu favor, você não dizia uma palavra.

“Você saía correndo e apenas ria”, diz Elaine com uma risada. Mas Art, como ela chama seu marido, ensinou-lhe que “é melhor ter a consciência tranquila ao dormir à noite do que qualquer coisa que você possa conseguir não sendo tão honesto”.

Voltando para essas 36 perguntas

Se você ainda está procurando aquele questionário agora famoso — usado em primeiros encontros, em salas de aula, em festas e eventos corporativos de team building — para encontrar o amor, saiba que ele nunca foi concebido com o amor em mente.

“Desenvolvemos esse procedimento, que permitiu em cerca de 45 minutos fazer com que duas pessoas aleatoriamente pareadas sentissem uma forte proximidade uma com a outra”, diz Arthur. “Elas não necessariamente se apaixonavam — esse não era o objetivo. Era apenas para criar uma sensação de proximidade”.

“Ao final dos 45 minutos, elas se sentem tão próximas da pessoa com quem nunca interagiram antes quanto se sentem da pessoa mais próxima em suas vidas”, acrescenta. “Agora, isso não necessariamente dura, mas causa um efeito muito intenso”.

Então, as perguntas podem aproximá-lo de alguém, mas é preciso mais para manter essa conexão.

Tome como exemplo o aniversário de casamento de Elaine e Arthur. Ter um aniversário de casamento no dia anterior ao Dia dos Namorados poderia ser como ter um aniversário logo antes do Natal — o marco individual poderia se perder no feriado, ou as festividades poderiam ser mescladas por conveniência.

Mas Elaine e Aron tentam manter o romantismo e celebrar tanto seu aniversário quanto o Dia dos Namorados separadamente. No aniversário, Arthur geralmente faz cartões artesanais para Elaine, agradecendo pelas maravilhosas saladas que ela prepara e apreciando-a por ser a “santa que ela é” para ele.

No Dia dos Namorados, eles costumam jantar fora e talvez até fazer uma caminhada que Elaine planejou com antecedência.

Para eles, não foram tanto as 36 perguntas, mas mais de 50 anos vivendo juntos, trabalhando juntos, apreciando um ao outro e celebrando um ao outro que levaram a um amor duradouro.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Junto há 50 anos, casal mostra o que fazer para ser feliz no relacionamento no site CNN Brasil.

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