Medo de câncer, dores e problema com prótese: os principais motivos que levam mulheres a tirar silicone


Número de explantes tem crescido no Brasil. Médicos destacam que nenhuma prótese dura para sempre e é preciso acompanhamento. Próteses de silicone
Voisin/Phanie/Arquivo AFP
Problemas com as próteses, medo de câncer e sintomas que podem estar associados ao silicone. Estes são alguns dos motivos pelos quais mulheres procuram os cirurgiões plásticos para retirar os implantes dos seios.
Dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (Isaps) mostram o crescimento do número de explantes no Brasil, mesmo a cirurgia sendo mais complexa que a do explante (leia mais abaixo). Em 2016, foram feitas 14.190 retiradas de implantes. No ano passado, foram 41.314 (gráfico abaixo).
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Os cirurgiões plásticos William Itikawa, de Curitiba, e Eduardo Arnaut, que atua em Florianópolis, disseram que o principal motivo do pedido pela retirada do silicone está relacionado às próprias próteses. É importante lembrar que elas não são vitalícias (leia mais abaixo).
Mulheres explicam por que decidiram retirar implantes
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Itikawa declarou que a maioria dos pacientes se queixa de problemas mecânicos como contratura capsular e próteses deslocadas ou rompidas.
Arnaut explicou que geralmente esse caso são de mulheres que fizeram o implante há algum tempo. “Essas pacientes envelheceram, tiveram filhos e estão em outra fase da vida. Por exemplo, a paciente de hoje estava com uma contratura capsular, que a mama fica endurecida porque a cápsula ao redor da prótese fica muito dura, e estava com dor. A maioria das pacientes acabam procurando por conta disso, por conta da prótese já estar mais antiga”.
De acordo com ele, essas mulheres representam 95% do movimento do consultório relacionado a explantes.
Cirurgião Eduardo Arnaut fala principal motivo para pacientes procurarem por explante
Em segundo lugar, para os dois cirurgiões, estão sintomas que podem estar associados às próteses, como a chamada doença do silicone (leia mais abaixo).
“A paciente muitas vezes associa sintomas que são diversos. Muitas vezes é difícil de a gente associar diretamente com o implante. Ou pacientes que pioraram ou começaram a desenvolver uma doença autoimune e daí a gente acaba explanando sobre todas essas essas doenças e as possibilidades. E a gente faz um teste terapêutico, em que a gente vai remover a prótese para ver se realmente é a prótese que está causando esse efeito”, explicou Arnaut.
O cirurgião Itikawa também disse que há pacientes que o procuram preocupadas com o câncer ligado ao implante mamário.
Entenda mais sobre o silicone
Para tirar dúvidas sobre o assunto explante, o g1 conversou com o presidente da regional de Santa Catarina da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cirurgião-plástico Rogério Schützler Gomes, com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, o mastologista Cícero Urban, e com o cirurgião-plástico especializado em explantes William Itikawa.
Risco de câncer
“A prótese, vamos dizer assim, é um corpo estranho dentro do corpo da mulher e que, em algumas mulheres, essa prótese pode desencadear alguns problemas. Não não quero dizer que toda mulher que tem prótese vai ter algum problema, mas existem algumas mulheres que desenvolvem alguns problemas com a prótese”, explica William Itikawa.
Um dos riscos é o Linfoma Anaplásico de Grandes Células Associado ao Implante Mamário, conhecido pela sigla em inglês BIA-ALCL, relatado por Janaína de Oliveira. “Ele começa a ter alguns nódulos assim normalmente, que se formam dentro do tecido capsular”, explica Rogério Gomes.
“Ele tem manifestações locais. Aparece tardiamente algum sintoma, começa a formar um seroma tardio, que é aquela coleção líquida ao redor do implante depois de alguns anos”, completa. A doença é resolvida com o explante, segundo ele. A incidência desse câncer é de um a cada 100 mil implantes.
O BIA-ALCL foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde em 2016. “É uma doença que tem rotina de diagnóstico, de tratamento. Tudo isso já tem definido”, diz William Itikawa.
Outros riscos associados às próteses de silicone
Em relação a outros sintomas que possam estar associados às próteses, ainda são feitos estudos. “Esses efeitos sistêmicos, que a gente vê, por exemplo, no que eles chamam de doença do silicone, ainda são objetos de muito debate”, resume Cícero Urban.
Existem duas situações que podem estar relacionadas ao silicone e são objeto de estudos. A primeira é a chamada doença do silicone, que seriam sintomas sentidos pelas pacientes e que melhoram com a retirada das próteses.
“É um conjunto de sintomas inespecíficos que mulheres ao redor do mundo começaram a referir ter esses sintomas, sintomas que melhoraram após a retirada do implante. Não chega a ser uma doença amplamente pesquisada, não chega a ser uma doença amplamente aceita, mas existem mulheres que, pela presença da prótese, desenvolvem alguns graus de intoxicação no corpo, levando a esses tipos de sintomas”, diz William Itikawa.
A outra situação é conhecida como síndrome ASIA, que seria uma doença autoimune associada ao silicone. “Existem artigos, existem trabalhos falando disso, mas não é uma doença, vamos dizer assim, unânime. Não é uma doença amplamente aceita”, diz Itikawa.
Dificuldades nos estudos
Rogério Gomes detalha que há dificuldades nesses estudos. “É muito difícil conseguir isolar, do ponto de vista científico, fazer uma análise é conclusiva, em função das grandes variáveis. A gente tem contato no dia a dia com vários clássicos vários materiais sintéticos e isso pode também ter sido a causa desses sintomas dessas pessoas”.
“O silicone também é um corpo estranho. O silicone é um material muito inerte, mas ele não é algo do organismo, ele é algo externo. Então essa dificuldade de isolar e dizer ‘ó, realmente é um silicone que causou”, explica.
“A Organização Mundial de Saúde não reconhece hoje a doença do silicone. É uma possibilidade aberta. Não está fechada essa possibilidade, mas está em estudo”, finaliza.
Cuidados necessários com as próteses
Os três médicos reforçam que próteses não são para sempre. “Não existe implante de silicone definitivo”, destaca Rogério Gomes.
“O silicone certamente vai exigir uma troca. Ele tem uma durabilidade que é, em média, 10 a 15 anos. Porém, pode precisar trocar por alguma manifestação antes desse prazo de 10 anos ou pode até demorar um pouco mais”, diz Gomes.
O mastologista reforça que é preciso fazer exames para checar se tudo está bem com as próteses.
“Ela vai ter que cuidar dessas mamas a vida toda. Vai ter que fazer pelo menos um ultrassom anual desta mama para avaliar as próteses. Eventualmente, algumas ressonâncias magnéticas”, declara Cícero Urban.
“Qualquer alteração que exista nesses exames rotineiros anuais, tanto para o tecido mamário quanto para o silicone, aí tem que procurar o cirurgião-plástico para ver se existe alguma condição de anormalidade que mereça algum tratamento”, completa Rogério Gomes.
A cirurgia do explante é mais complexa do que a do implante
Um alerta dado por Cícero Urban é que as operações de implante e explante têm características diferentes. “A cirurgia do explante é mais complexa do que a cirurgia de colocação de próteses e o resultado nem sempre é o resultado estético satisfatório”.
“Uma paciente que já tem uma prótese por muitos anos tem uma mama que tem uma projeção e está sendo sustentada total ou parcialmente pela prótese. Na hora que você tira a prótese, ela perde essa sustentação e fica, se você só retirar a prótese e não reconstruir, fica com aquela mama totalmente caída e sem nenhum tipo de sustentação”, explica.
Por isso, é necessária uma outra intervenção do médico. “Você tem que fazer uma mamoplastia, uma mastopexia que a gente chama, você tem que injetar gordura e tem que criar uma forma desta mama que fique com a forma adequada, mesmo que seja com o volume menor”.
Gomes reforça que é necessário que a paciente entenda que a aparência ficará diferente. “Vai ficar com seio menor, com o seio normalmente com menos densidade. Muitas vezes, a gente consegue associar enxertos de gordura na mama para compensar essa saída do silicone, ele dá uma compensada parcial que certamente contribui para uma melhor estética”.
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