Em gravação antes da prisão, Nego Di citou ‘estornos estratégicos’ para ‘acabar com incômodos’; ÁUDIO


Influencer estaria se referindo à insatisfação dos clientes que não teriam recebido produtos que adquiriram de loja virtual. g1 entrou em contato com a defesa do humorista, mas não obteve resposta até a mais recente publicação desta reportagem. O influenciador e humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di
Arquivo Pessoal
Em uma gravação de áudio obtida pelo g1 (ouça abaixo), o influenciador e humorista Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, fala em “estornos estratégicos” para “acabar com manifestação e incômodos”.
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Segundo a polícia, ele estaria se referindo à insatisfação dos clientes que não teriam recebido produtos que adquiriram da loja virtual “Tadizuera”.
“Preciso fazer uns estornos estratégicos, tá? Porque acho que não é novidade pra ninguém, eu não vou conseguir ressarcir todas as pessoas, né? Preciso fazer uns estornos estratégicos, assim, a fim de acabar com manifestação e incômodos, assim”, diz Nego Di.
O áudio integra a investigação sobre a suposta venda de produtos pela loja virtual, pela qual Dilson foi indiciado. Não está claro quem é o interlocutor que recebe as mensagens.
Na gravação, o influencer pede uma lista com clientes que se fossem ressarcidos dariam “uma boa amenizada”.
“Então, queria ver se tu tinha mais ou menos uma relação de umas 10 mais, assim. Que tipo tu acha, vai, esses aqui pagando vai dar uma boa amenizada e tal, entendeu?”, complementa o humorista.
Em áudio antes da prisão, Nego Di citou ‘estornos estratégicos’
O g1 entrou em contato com a defesa de Nego Di, mas não obteve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.
Na terça-feira (30), as advogadas Tatiana Borsa e Camila Kersch, responsáveis pela defesa de Nego Di, haviam afirmado, em nota, que “já há uma grande quantia paga às supostas vítimas” e que “seguirão trabalhando e acreditando no real esclarecimento dos fatos que envolvem as acusações”. Leia a manifestação abaixo.
Nego Di está preso preventivamente em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, desde o dia 14 deste mês. O sócio dele, Anderson Boneti, foi preso no dia 22. Os dois foram investigados e indiciados por suspeita de estelionato no caso da loja.
Nego Di foi preso pela Polícia Civil do RS, em Florianópolis, Santa Catarina
Divulgação/ Polícia Civil
Na sexta-feira (26), a Justiça do RS negou um pedido de revogação da prisão do influencer.
No inquérito da Polícia Civil que indiciou Nego Di por estelionato, quase 400 vítimas do golpe foram identificadas. O influenciador usaria a própria imagem para aumentar o alcance dos anúncios pela internet – com abrangência nacional, o que fez com que houvesse supostas vítimas até de fora do RS. Em perfis nas redes sociais, Nego Di tem mais de 10 milhões de seguidores.
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Loja ‘Tadizuera’
A loja virtual “Tadizuera” operou entre 18 de março e 26 de julho de 2022 – ocasião em que a Justiça determinou que ela fosse retirada do ar. Nego Di, que segundo a polícia era um dos sócios, fazia a divulgação em seus perfis nas redes sociais dos produtos à venda, como aparelhos de ar-condicionado e televisores, muitos deles com preços abaixo de mercado – uma televisão de 65 polegadas, por exemplo, era vendida a R$ 2,1 mil.
Parte dos seguidores do influenciador comprou os produtos, mas nunca recebeu, de acordo com a Polícia Civil. A investigação aponta que não havia estoque, e que Nego Di teria enganado os clientes prometendo que as entregas seriam feitas, apesar de saber que não seriam. Ainda assim, movimentou dinheiro que entrava nas contas bancárias da empresa, diz a investigação.
A Polícia Civil afirma que tentou por diversas vezes intimar Nego Di para prestar esclarecimentos, mas ele nunca foi encontrado.
A Polícia estima que o prejuízo dos 370 clientes lesados seja superior a R$ 330 mil, mas como as movimentações bancárias são milionárias, a suspeita é de que o número de vítimas do esquema seja maior e inclua pessoas que não procuraram a polícia para representar criminalmente contra o influenciador.
Nego Di é preso pela polícia em Santa Catarina
Quem é Nego Di
Gaúcho de Porto Alegre, Dilson Alves da Silva Neto, mais conhecido como Nego Di, participou do Big Brother Brasil em 2021. Ele entrou como integrante do grupo Camarote, pois já trabalhava como influenciador digital e comediante. Ele foi o terceiro eliminado do programa, com 98,76%.
Após o reality, ele começou a promover rifas em redes sociais, divulgando no regulamento que “quem comprar mais números” ganha o prêmio. A prática é investigada pelo Ministério Público (MP) e motivou uma operação contra ele e sua companheira.
Nego Di já sofreu sanções da Justiça do Rio Grande do Sul por divulgação de fake news em seus perfis nas redes sociais. Em decisão em maio este ano, o Tribunal de Justiça (TJ), ele teve que apagar publicações sobre as enchentes.
Na ocasião, Nego Di alegou que as autoridades estariam impedindo barcos e jet skis de propriedade privada de realizar salvamentos na região de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por falta de habilitação dos condutores. Além disso, ele também compartilhou imagens de cadáveres boiando que não eram da tragédia em questão, inclusive uma de uma inundação no Rio de Janeiro.
A Justiça determinou a exclusão imediata das publicações e proibiu Nego Di de reiterar as afirmações mentirosas, sob pena de multa no valor de R$ 100 mil.
Carro de luxo foi apreendido durante cumprimento de ordens judiciais contra o influenciador Nego Di
Divulgação
Nota da defesa de Nego Di
NOTA À IMPRENSA
A defesa de Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, lamenta que tenha sido negado o seu pedido de revogação da prisão preventiva. Juridicamente, não há fundamentos sobre os fatos narrados na denúncia para manutenção da prisão. Cabe ressaltar, ainda, que a Juíza de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Canoas não considerou que já há uma grande quantia paga às supostas vítimas.
É de conhecimento público as ações realizadas por Dilson durante o estado de calamidade pública que assolou o Rio Grande do Sul, bem como as manifestações dele relacionadas à inércia do Poder Público nas medidas necessárias para salvar vidas naquele momento. Chama a atenção da defesa a coincidência de instauração de procedimento para investigação de lavagem de dinheiro e o andamento da ação de estelionato, que teve início em 2022, com relatório final da autoridade policial em agosto de 2023, mas só em maio deste ano começou a tramitar com pedidos relativos à prisão preventiva.
Lamentamos o pré-julgamento e espetacularização do caso, principalmente, daqueles que são responsáveis por conduzir as investigações. Registra-se, ainda, a preocupação com os constantes vazamentos de informações do processo que tramita em segredo de justiça, sem que exista um posicionamento claro da Justiça quanto a isso, nem qualquer movimento para estancar essas falhas.
A defesa seguirá trabalhando e acreditando na justiça, com total confiança na inocência de Dilson e no real esclarecimento dos fatos que envolvem as acusações.
Tatiana Borsa – OAB/RS 47.419
Camila Kersch – OAB/RS 70.616
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