Mãe que recebeu doações após dizer que bebê tinha leucemia admitiu farsa à amiga em Monte Alto, SP


Mulher perdeu a guarda da menina após Conselho Tutelar denunciar caso à Polícia Civil; ela teria até raspado os cabelos da bebê para simular efeito de quimioterapia. Fraldas, alimentos e até dinheiro foram doados após pedidos dela nas redes sociais. Mãe é suspeita de mentir sobre doença da filha bebê para conseguir doações em Monte Alto, SP
Reprodução/Facebook
Em uma troca de mensagens com uma amiga por celular, a mãe suspeita de inventar que a filha de oito meses estava com leucemia para pedir doações e obter vantagem pessoal em Monte Alto (SP) confessou a farsa.
Segundo a mulher, que prefere não se identificar, após ser pressionada, a suspeita respondeu que a criança não estava doente e que assim como o restante das pessoas, ela poderia lhe dar as costas.
O caso é investigado pela Polícia Civil desde que o Conselho Tutelar fez a denúncia. A menina está sob os cuidados de um lar provisório até que sejam feitos os esclarecimentos.
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De acordo com o delegado Marcelo Mello Garcia, a mulher pode responder por estelionato e maus-tratos. Ela teria até raspado os cabelos da bebê para fingir que a menina estava careca por efeito de quimioterapia.
Procurada pelo g1, a suspeita não comentou sobre o caso.
Mãe suspeita de farsa em Monte Alto, SP, faz publicação em perfil com nome da filha para falar da luta da menina pela vida
Reprodução/Instagram
Comportamento suspeito
As suspeitas contra a mãe surgiram em maio deste ano depois que ela relatou a colegas de trabalho em uma lanchonete que a filha estava com leucemia. As faltas ao serviço passaram a ser comuns, sempre atribuídas às consultas e ao tratamento da bebê, segundo conta uma funcionária ouvida pelo g1 e que também prefere não se identificar.
No entanto, a mãe não apresentava atestados médicos para justificar as faltas ou demonstrava qualquer tipo de preocupação com o estado de saúde da filha.
“Como ela faltava muito no serviço, meu patrão pedia os atestados [para justificar as faltas], mas ela não trazia nenhum documento comprovando a doença da menina e queria receber o salário inteiro. No dia 17 de junho, ela disse que iria para Barretos levar a menina, e meu patrão pediu um documento, pois fazia cinco dias que ela não ia trabalhar e não apresentava nada. Foi então que ela pediu demissão, pois se sentiu encurralada”, diz.
De acordo com a funcionária, a mãe começou a usar as redes sociais para expor a doença da criança e a pedir doações de alimentos e fraldas. Boa parte da ajuda de pessoas sensibilizadas era por meio de transferências via Pix.
Segundo denúncia, mãe raspou cabelos de bebê para atribuir a efeito de quimioterapia em Monte Alto, SP
Reprodução/Facebook
Postagens enganosas
Nas redes sociais as pessoas compartilhavam os pedidos e até veículos de comunicação da cidade chegaram a abordar o drama da família.
A funcionária da lanchonete afirma que, nas últimas semanas, a mãe começou a publicar fotos da menina com a cabeça raspada, atribuindo ao tratamento de quimioterapia, o que causou ainda mais comoção.
“Quando começamos a desconfiar, ela raspou a cabeça da menina e mandou uma foto dizendo que o cabelo estava caindo por causa da quimioterapia. Depois descobrimos que ela usou uma lâmina para fazer isso”, afirma.
Fotos da bebê no meio de varias doações de leite em pó e fraldas recebidas por meio de doações também foram publicadas pela mãe nas redes sociais.
Na última semana, no entanto, uma denúncia anônima levou o Conselho Tutelar a acompanhar o caso. Diante das suspeitas encontradas, o órgão procurou a Polícia Civil.
Segundo o delegado Marcelo Mello Garcia, até o momento, a Polícia Civil apurou junto com o Conselho Tutelar que a criança está sendo acompanhada no Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto (SP), mas para tratar outra doença.
“O que sabemos até agora, por meio do Conselho Tutelar, é que essa criança não tem leucemia, mas sim uma doença gastrointestinal (bem menos grave) e que a mãe teria solicitado doações via rede social alegando a leucemia”, afirma.
Delegacia da Polícia Civil de Monte Alto (SP)
Arquivo/EPTV
Decepção
A amiga que obteve a confissão da mãe diz que chegou a receber várias fotos da criança no hospital, tomando medicações, mas que não desconfiou de nada.
“Eu não cheguei a pedir para ver exame porque a última coisa que a gente vai pensar é que é mentira, né?”, diz.
Apesar de já ter buscado a mãe após as alegadas consultas médicas, inclusive em Barretos (SP), onde fica um hospital especializado no tratamento oncológico, ela diz que nunca chegou a acompanhar consultas.
Com intuito de ajudar a amiga e a criança, a jovem até colaborou com a organização de rifas para levantar fundos. A revelação da farsa causou decepção e ela acredita que a mulher tenha agido por ganância.
“Ao meu ver, ela é uma pessoa gananciosa porque eu acredito que ela fez tudo isso para ganhar fama, dinheiro. É a única coisa que eu consegui enxergar.”
Revolta de quem ajudou
A ex-colega de trabalho da mulher conta que sofre a perda de um filho que morreu com leucemia. Ela se sente revoltada com a situação e afirma que os moradores de Monte Alto não recusariam ajudá-la se houvesse uma real necessidade de qualquer natureza.
“Dói muito em mim. Eu não consigo parar de pensar na menina. Parece que ela é um pedaço de mim e eu fico muito triste. Eu perdi um filho há dois anos e sei a dor de ter uma criança doente. É revoltante ver uma criança saudável passar por isso”, diz.
As mulheres ouvidas pelo g1 torcem para que a Justiça mantenha a bebê afastada da mãe. Segundo elas, por mais difícil que seja a situação, a mãe se mostrou irresponsável.
“Depois disso tudo que aconteceu, do fundo do meu coração, eu não queria que a bebê voltasse para ela. Porque eu não confio mais que ela seria uma boa mãe. Uma mãe que inventa que a filha tem um câncer, para mim, não é uma mãe”.
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