Troca de paralelepípedos por asfalto no Morro do Pinto divide opiniões de moradores


De acordo com a Secretaria de Conservação, o serviço de asfaltamento está sendo feito a pedido da Subprefeitura do Centro, atendendo a solicitações de moradores. A comunidade vem ganhando destaque nos últimos anos e tem atraído turistas do mundo todo. Rua Sara, principal via de acesso para o Morro do Pinto, começou a ser asfaltada.
Arquivo Pessoal
A Prefeitura do Rio de Janeiro começou no dia 24 de julho a asfaltar as ruas do Morro do Pinto, no Santo Cristo, na Zona Portuária da cidade. A ação, que já pavimentou parte da Rua Sara, principal via de acesso à comunidade, divide as opiniões dos moradores locais.
A região tem lotado de turistas e cariocas com a programação de seus bares e centros culturais, que inclui apresentações de samba, jazz e outros eventos com vista para o pôr do sol da Baía de Guanabara.
De acordo com a Secretaria de Conservação, o serviço de asfaltamento está sendo feito a pedido da Subprefeitura do Centro, que teria, por sua vez, atendido a solicitações de moradores.
Por um lado, alguns residentes reclamam que a substituição do pavimento descaracterizará o bairro, uma vez que as ruas possuem diversas residências tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Por outro, há quem reclame dos clássicos paralelepípedos, que prejudicariam a mobilidade de idosos e carrinhos de bebê e limitariam o acesso de táxis e carros por aplicativos, que se recusam a acessar a vizinhança.
O g1 ouviu moradores que defendem e criticam o asfaltamento.
Dayane Alves, moradora do Morro do Pinto há 36 anos, diz que era uma questão de tempo para que as obras chegassem no bairro. Ela afirma que o mesmo já havia acontecido no Morro da Providência, comunidade vizinha no bairro da Gamboa.
Ela também diz que, além das dificuldades de mobilidade, a permeabilidade do calçamento antigo gera infiltração nas residências.
“Eu resido nessa mesma casa esses 36 anos e sofro pela infiltração esse tempo todo. Minha casa vai sofrer com menos danos porque eu fiz uma obra recentemente, há três anos. Eu tenho que fazer urgentemente uma outra obra porque a minha casa não aguenta mais de 4 anos sem uma reforma”, explica.
Já para Alexandre Belmonte, historiador e morador da comunidade há 48 anos, é responsabilidade da Prefeitura conservar o Santo Cristo, como é feito em outros locais históricos da América do Sul e Europa, e isto não vem sendo feito pelo poder público.
“O morro é uma das primeiras áreas a serem calçadas com paralelepípedo na cidade. Tem uma arquitetura neocolonial ainda preservada. A prefeitura, ao invés de asfaltar, tem que assumir o Morro do Pinto como um patrimônio cultural histórico material e imaterial da cidade do Rio de Janeiro e conservar”, explica.
Alexandre diz que os paralelepípedos são uma opção ecológica de pavimento e que os danos causados aos automóveis é fruto da ausência de manutenção do bairro.
“Muitas pessoas têm realmente problema com a suspensão do carro porque é caro. Isso não é a culpa do paralelepípedo, isso é culpa da má preservação”, diz.
Moradores que são contra a troca do pavimento da comunidade dizem que a obra está sendo feita por interesse eleitoreiro.
“Nunca procuraram a comunidade antes para realizar essa obra, então fazer em ano eleitoral é no mínimo estranho”, alega um morador que prefere não se identificar.
A Subprefeitura do Centro foi procurada pelo g1 para saber quantas vias da comunidade serão asfaltadas e para entender se a opção de manter os paralelepípedos com a realização de manutenção foi considerada. Contudo, até a última atualização desta reportagem, não houve resposta.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.