Homem que teve crânio perfurado por estaca tem alta e volta pra casa

Vitor Soares sofreu acidente de trabalho: 6 cm perfuraram o crânio na altura da testa. Previsão de recuperação é de seis meses. Fantástico acompanha a alta médica do carpinteiro atingido com uma estaca na cabeça
O Fantástico deste domingo (28) repercutiu um acidente envolvendo um homem que sobreviveu após ter uma estaca de madeira cravada no crânio. Saiba mais abaixo.
O socorro
O extraordinário interrompeu o café de sempre do SAMU. A notícia não chegou pelo telefone. A 150 metros da carpintaria, os socorristas levaram dois minutos pra chegar.
“A gente foi mobilizando ele com a mão, segurando a cabeça dele até o hospital. O melhor jeito de mobilizar é esse, pra não correr risco de ele virar a cabeça. Até mesmo durante o trajeto, por quebra-molas”, conta Marcos Vitoriano, socorrista do SAMU de Mangaratiba.
Transferência
A pressa e a delicadeza guiaram Vitor Soares até o Hospital de Mangaratiba, na Região Metropolitana do Rio. O carpinteiro de 28 anos conversava com os socorristas: ele disse que não tinha doença nem alergia — avisou só que estava “com dor de cabeça”.
A empresa afirmou que Vítor serrava uma ripa que resvalou na lâmina e acertou a testa dele – a mesma versão de um colega.
Vitor chegou na emergência perto meio dia. E duas horas depois, já dava entrada no hospital de referência pra traumatismo na região. A urgência fazia dele um “paciente vaga zero”: alguém que fura todos trâmites normais; a equipe já estava à espera.
“Todo o helicóptero que chega aqui no Adão Pereira Nunes sempre causa, chama muita atenção. Tanto dos familiares que estão na parte externa esperando, como da equipe de saúde. E a gente tenta de toda forma preservar a imagem do paciente que está chegando”, pontua Thiago Pereira, diretor do hospital Adão Pereira Nunes.
As imagens exclusivas do Fantástico mostram o irmão do Vitor acolhendo a mãe, que ora pelo filho. Aparelhos modernos também iluminam o caminho dele na tomografia de crânio. O exame de 360 graus é como um mapa de voo.
“Com essas imagens, a gente já vai ter uma noção dentro do centro cirúrgico, e o que já tinha de lesão aproximada”, diz Vinícius Zogbi, neurocirurgião.
Cirurgia
Foram seis horas de exames e espera até a operação. O chefe da neurocirurgia estava pronto para fazer o que ninguém pode tentar: a retirada do perfurante.
Todo objeto cravado já cortou o corpo, mas fica bloqueando vasos sanguíneos. Então para extração não causar hemorragia, a equipe precisa cauterizar o local ou dar uma espécie de nó.
Eles drenaram a contusão e lavaram a cavidade. Ao final das quatro horas de cirurgia, Vinícius estava otimista.
“Quando a gente chama ele, interage, fala o nome dele, conversa com a gente, palavras simples. E mexendo os quatro membros; não teve déficit motor nenhum”, conta o neurocirurgião.
A estaca
A estaca tinha 40 centímetros – e seis estavam dentro do crânio, no lobo frontal.
“Se tivesse pego uma veia dessa de grande calibre ou uma artéria de grande calibre, certamente teria sido fatal. Ficou a mais ou menos uns 2 centímetros”, diz Zogbi.
EPI
A madeireira onde Vitor trabalha declarou que ele é um excelente funcionário. E que o carpinteiro estava sem o capacete fornecido, mas com óculos de proteção.
A empresa escreveu que, com oito funcionários, estaria desobrigada a ter um técnico de segurança. Essa especialista explica que, sem um inspetor, todos podem se supervisionar. E que às vezes não há necessidade de equipamento, basta uma proteção entre o trabalhador e a máquina.
“Pode ser uma proteção de vidro ou outro material que faça, que tenha resistência e faça essa proteção”, explica Dayanni Brito, engenharia de segurança do trabalho.
Desfecho
A previsão é de que Vitor se recupere dentro de seis meses.
“O importante é saber que ele está bem, que está com vida, e torcer, claro, em nome de Jesus, que ele vai sair dessa para uma melhor, já vai sair recuperado e futuramente aí com certeza vai voltar ativa que é fazer o que ele mais gosta, que é trabalhar, jogar bola”, diz o irmão da vítima, Rafael Soares dos Santos.
Segundo os médicos, a memória e a função motora do Vítor estão inalteradas. Ele tem total capacidade de lembrar e abraçar a filha de novo.
Outros casos
Um marco na compreensão do cérebro foi o caso Phineas Gage, em 1848 nos Estados Unidos. Uma explosão acidental numa ferrovia fez uma barra de ferro atravessar o crânio dele. Esse operário ficou sob cuidados três meses e parecia que não tinha acontecido nada.
A mãe notou primeiro que ele estava com a memória ruim. Depois, nem reconhecia mais o jeito do filho: o homem trabalhador e equilibrado ficou impulsivo, irreverente e inadequado.
A medicina entendeu nesse episódio que o córtex pré-frontal [let] é uma área ligada também à moralidade. Mas a mudança de personalidade não é regra:/ outra região do cérebro pode compensar a perda num acidente.
Aconteceu no Rio de Janeiro em 2012. Um vergalhão caiu na cabeça de um pedreiro. A barra de ferro saiu pelo meio dos olhos dele – um impacto de cerca de 300 quilos. Mas Eduardo ficou bem.
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