Força-tarefa prende 5 pessoas em operação conjunta na Cracolândia de São Paulo


A ação foi para desarticular um esquema criminoso de tráfico de drogas e de exploração de dependentes químicos. Promotores e policiais de São Paulo fizeram nesta terça-feira (6) uma operação na região conhecida como Cracolândia contra o tráfico de drogas e, também, contra a exploração das vítimas dos traficantes: os dependentes químicos – que na reportagem aparecem com os rostos borrados.
Um homem sentado na calçada usa os dentes como ferramenta. Ele descasca o fio para vender o cobre. A cena degradante faz parte de mais de 30 horas de gravações feitas pelo Ministério Público, que concluiu que ferros-velhos do Centro de São Paulo exploravam dependentes químicos, oferecendo álcool, moedas e até pedras de crack como pagamento pela coleta de materiais recicláveis.
Durante um ano, os investigadores monitoraram durante um ano a rotina na Cracolândia, uma área no Centro da capital paulista onde há 30 anos a venda e o consumo de crack ocorrem no meio da rua. Ali, os agentes flagraram até crianças pequenas trabalhando, separando plástico.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que essas empresas que têm até CNPJ, mas nenhum funcionário registrado, serão fechadas.
“Nós tínhamos evidências de que havia esse trabalho análogo à escravidão que se dá nos ferros-velhos, que se dá nas reciclagens que são estabelecimentos de fachada. Estabelecimentos que servem, no final das contas, para trocar produtos que são objetos de roubo, objetos de receptação por droga”, afirma |Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.
Força-tarefa prende 5 pessoas em operação conjunta na Cracolândia de São Paulo
Jornal Nacional/ Reprodução
Nesta terça-feira (6), 1,3 mil agentes das forças de segurança participaram da operação. A Justiça proibiu a prisão de usuários de drogas e pessoas em situação de vulnerabilidade por considerar que eles são vítimas do esquema de exploração e de violação de direitos.
As equipes cumpriram, ao todo, 117 mandados de busca e apreensão. Quarenta e quatro hotéis, bares e estacionamentos usados para esconder drogas foram lacrados.
Entre os cinco presos está Leonardo Moja, conhecido como Leo do Moinho. Ele é suspeito de fazer parte do PCC e comandar o tráfico de drogas na Cracolândia a partir da Favela do Moinho.
Dentro da comunidade, as equipes localizaram uma antena de comunicação. Os investigadores suspeitam que esse equipamento era usado para escutar a frequência de rádio das polícias Civil e Militar e assim se antecipar às operações policiais.
Em outra frente de investigação, o Ministério Público descobriu que guardas civis metropolitanos passaram a extorquir dinheiro de comerciantes em troca de proteção. Policiais civis e militares também são investigados por participar do esquema, que os promotores afirmam ser uma “milícia de agentes públicos”.
O Ministério Público diz, ainda, que os núcleos criminosos estavam conectados e que um se beneficiava da existência do outro.
“Existe ali um ecossistema criminoso que inclusive conta com a dominação do território e mesmo ali a disciplina feita pelo PCC. O papel do PCC aqui é central. E ali, a gente conseguiu comprovar, por exemplo, que as pessoas inclusive que estão no fluxo são regidas e regradas por disciplinas do PCC”, afirma o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.
A Prefeitura de São Paulo declarou que os guardas suspeitos já tinham sido afastados antes da operação desta terça-feira (6) por causa de outras irregularidades; e que a Guarda Civil Metropolitana tem 7 mil agentes e repudia qualquer tentativa de uso do episódio para comprometer a imagem e a credibilidade da corporação.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de Leonardo Moja.
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