Menopausa precoce: entenda como a insuficiência ovariana prematura ocorre

Ao nascer a mulher possui um número pré-determinado de células nos seus ovários, que serão consumidas durante a sua vida reprodutiva. Estima-se que ao início das menstruações (entre 10 a 14 anos) um corpo com ovário possui cerca de trezentas a quatrocentas mil células nos ovários, e que durante toda a vida reprodutiva estas células serão consumidas.

A menopausa costuma ser esperada por volta dos 48 anos. No entanto, algumas mulheres veem esse ciclo chegar bem antes do previsto — muitas vezes antes mesmo dos 40 anos. Essa condição é conhecida como Insuficiência Ovariana Prematura (IOP), também chamada de falência ovariana precoce, ou ainda menopausa precoce, e embora não seja muito comum, pode afetar até 1% das mulheres nessa faixa etária, segundo dados da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE).

A IOP ocorre quando os ovários deixam de funcionar adequadamente antes do tempo, levando à interrupção da ovulação e à queda dos níveis dos hormônios sexuais, como o estrogênio e a progesterona. O impacto vai além da fertilidade: a ausência precoce desses hormônios pode comprometer a saúde óssea, cardiovascular, metabólica e emocional da mulher.

Sintomas e diagnóstico precoce são fundamentais

A mulher com IOP pode apresentar sintomas semelhantes aos da menopausa: irregularidade menstrual, ondas de calor, secura vaginal, perda de libido, insônia e alterações de humor. Algumas, no entanto, só descobrem a condição ao investigar dificuldades para engravidar.

O diagnóstico é feito por meio de exames hormonais, especialmente a dosagem do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do estradiol, além da avaliação da reserva ovariana por meio da dosagem do hormônio antimülleriano (AMH). Geralmente associamos estes exames hormonais ao exame de ultrassonografia endovaginal, que poderá mostrar uma quantidade de folículos antrais (pequenos folículos distribuídos no interior dos ovários) reduzida ou ausente, assim como o tamanho dos ovários. Quanto mais cedo a condição for identificada, mais eficaz será o acompanhamento e o planejamento do tratamento.

Desafios emocionais e impacto na fertilidade

Receber o diagnóstico de IOP pode ser um baque emocional significativo, especialmente para mulheres que desejam engravidar. A notícia de uma falência ovariana precoce pode gerar sentimentos de frustração, tristeza, ansiedade e perda de identidade feminina. Por isso, o suporte psicológico é parte essencial do cuidado, junto ao acompanhamento ginecológico e endocrinológico.

No campo da fertilidade, embora a chance de gravidez espontânea seja reduzida, ela não é impossível: algumas mulheres com IOP ainda apresentam ovulações esporádicas. Além disso, com o avanço das técnicas de reprodução assistida, a fertilização in vitro com óvulos doados pode permitir a maternidade em muitos casos.

Tratamento e realidade brasileira

O tratamento principal da IOP é a reposição hormonal — que deve ser feita com estrogênio e progesterona até a idade média da menopausa (por volta dos 50 anos). Isso ajuda a proteger o coração, os ossos e o metabolismo da mulher. Ainda assim, no Brasil, um dos maiores desafios é o acesso ao diagnóstico e ao tratamento especializado, que muitas vezes demora a chegar, especialmente fora dos grandes centros urbanos.

Outro entrave está na baixa oferta de serviços públicos voltados à reprodução assistida. Apesar da legislação brasileira garantir o acesso a tratamentos de infertilidade no SUS, na prática, a fila de espera e os recursos limitados dificultam o atendimento.

A Insuficiência Ovariana Prematura é uma condição séria e pouco falada. Quanto mais cedo for diagnosticada, maiores são as chances de preservar a saúde e o bem-estar da mulher. É fundamental que se fale mais sobre o tema, para que todas tenham acesso à informação, ao cuidado e às possibilidades — inclusive a de realizar o sonho da maternidade.

*Texto escrito pelo ginecologista Luiz Eduardo T. Albuquerque (CRM -SP 61351 / RQE Nº: 30799 – RQE Nº: 307991), especialista em Reprodução Assistida, diretor médico do Centro de Reprodução Humana Fertivitro e membro da Brazil Health

 

Este conteúdo foi originalmente publicado em Menopausa precoce: entenda como a insuficiência ovariana prematura ocorre no site CNN Brasil.

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