
O projeto foi idealizado por Josafá Rebouças, e ganhou o Prêmio LED, da Fundação Roberto Marinho e da TV Globo. Cearense cria projeto para ensinar cores pelo olfato a pessoas com deficiência visual.
Os cheiros marcam a memória humana de diversas formas: uma comida favorita, o perfume de alguém inesquecível e até a passagem da chuva por algum local. Mas um cearense achou um jeito de colorir o mundo através dos aromas. O químico Josafá Rodrigues criou uma iniciativa que ensina as cores para pessoas com deficiência visual através de associações pelo olfato.
O projeto chamado “Amigos do Lou”, que surgiu em 2023, inclusive, venceu o Prêmio LED — iniciativa da Fundação Roberto Marinho e da TV Globo. O anúncio da vitória aconteceu, nesta sexta-feira (25), durante o programa Encontro com Patrícia Poeta. O cearense Josafá Rodrigues concorreu em uma votação popular com outros dois finalistas.
“Todos que entraram nessa jornada são vencedores, mas só um leva o troféu no voto popular. E nós ficamos muito felizes porque a gente faz a verdadeira inclusão através dos aromas”, agradeceu Josafá.
A metodologia surgiu com uma simples questão. “Como ensinar cores para pessoas com deficiência visual?”, questionou Josafá, que é doutorando em propriedade intelectual e inovação na Academia do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Ele trabalha, há 35 anos, com a produção de tintas.
Josafá recebeu um convite do professor Luís Sérgio Santos, do curso de jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), para falar sobre inovação no design. Na turma, havia um aluno com deficiência visual. Por isso, o questionamento surgiu na cabeça do pesquisador.
Ele disse que, em uma conversa informal com a própria esposa, ela deu uma dica inicial que ele poderia adicionar cheiro nas tintas. Assim, desenvolveu a metodologia em parceria com o professor Luís Sérgio.
Metodologia criada no Ceará venceu o Prêmio LED.
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“Depois dessa metodologia, eu tive a ideia de criar uma iniciativa para submeter para o Prêmio LED. Eu criei todos os ativos intelectuais, marcas, patentes, desenhos industriais e um personagem chamado Lou”, explicou Josafá.
Josafá ministra workshops ensinando a associar os aromas às cores. O vermelho é morango, o verde é hortelã, o amarelo é maracujá, etc. “E aí, eu pensei ‘eu vou agora criar os Amigos do Lou para levar as cores da inclusão para todos, não só para deficientes visuais”, disse o idealizador. Ele percebeu, durante a propagação da iniciativa, que outros públicos — como as pessoas com Transtorno do Espectro Autista — também poderiam ser beneficiadas.
Dr. Cor pelo mundo
Josafá criou o personagem “Dr. Cor” para ministrar workshops com a metodologia.
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Para simbolizar o projeto, Josafá criou também um personagem que é uma mistura de super-herói e cientista: o Dr. Cor. “Eu criei o kit do aluno, o kit do professor, o kit da alfabetização. Nós criamos vários produtos para auxiliar nessa educação de cores através dos aromas”, explicou.
Os workshops do Dr. Cor já voaram ao redor do mundo: percorreu cidades do Ceará, foi até o Rio de Janeiro e depois atravessou o oceano até os Estados Unidos.
“Eu brinco que a nossa metodologia é de Nova Russas [no Ceará] a Nova York”, disse Josafá.
O idealizador disse que teve também a oportunidade de apresentar a metodologia a um pesquisador que coordena um centro de pesquisa sobre o olfato na Universidade da Pensilvânia, no estado americano da Filadélfia.
“Quando eu cheguei lá, ele perguntou ‘O que é que o senhor tenta me mostrar? Eu falei: ‘Dr. Richard, vou fazer o contrário. Eu vou lhe cegar de forma poética, eu vou tirar a sua visão e o senhor vai enxergar as cores pelos aromas”, declarou Josafá.
Ele disse também que vem fazendo contatos com pessoas de outros países para levar a metodologia o mais longe possível. A meta é “os quatro cantos do mundo”, mas um sonho se destaca: o Museu do Louvre, em Paris.
“Pintar telas com os cegos e expor no Museu do Louvre. Por que o cego não pode ser um artista e fazer uma exposição no museu referência mundial? Esse é o meu desejo, é o meu sonho, e espero realizá-lo”, reforçou.
Metodologia criada no Ceará ensina cores através do olfato a pessoas com deficiência visual.
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