
Percurso exige processo de aclimatação para que o corpo se acostume a acessar áreas de maior altitude. Pedro Hauck, de Itatiba (SP), já escalou mais de 160 montanhas. Pedro Hauck é de Itatiba (SP) e trabalha como guia de montanhas
Arquivo pessoal
Uma aventura a mais de oito mil metros de altitude está sendo vivida por um guia de montanhas de Itatiba, interior de São Paulo, que, junto de quatro amigos, está participando de uma expedição para escalar a montanha mais alta do mundo acima do nível do mar, o Monte Everest.
📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp
Atualmente, o geógrafo e guia Pedro Hauck, de 43 anos, mora em Curitiba (PR), mas está há dias longe de casa, planejando e organizando os equipamentos necessários para a expedição ao Everest, montanha com 8.848 metros de altitude, localizada na fronteira entre o Nepal e o Tibete, na China.
Além de Pedro, a equipe da expedição comemorativa dos 30 anos desde que brasileiros chegaram até o cume do Monte Everest pela primeira vez, em 14 de maio de 1995, é composta por Pedro Cirino, Freddy Rangel, Waldemar Niclevicz e Samuel Figueiredo. A previsão é que eles cheguem ao cume no dia 15 de maio.
Da esquerda para a direita estão Pedro Cirino, Freddy Rangel, Waldemar Niclevicz, Pedro Hauck e Samuel Figueiredo, que estão escalando o Monte Everest
Pedro Hauck/Arquivo pessoal
Mesmo estando a mais de 6.400 metros de altitude, o aventureiro contou ao g1 que escala desde os 16 anos e que começou em Itatiba, de onde saía para acampar na Serra da Mantiqueira, Pedra Grande de Atibaia e Serra do Mar. Aos 18, escalou uma montanha pela primeira vez.
Pedro, de Itatiba (SP), começou a se aventurar aos 16 anos. Em 1999 foi para o Pico das Agulhas Negras de carona
Pedro Hauck/Arquivo pessoal
“Fiquei planejando o ano inteiro de ir até a Patagônia de carona, ou seja, cair na estrada, ‘levantar o dedão’ e ir embora. E a ideia era ir até a Cordilheira dos Andes e escalar o máximo de montanhas que eu pudesse escalar”, disse Pedro.
Na época, Pedro ainda não tinha muito conhecimento sobre escalada, então viveu uma aventura improvisada. Ele acabou escalando apenas uma montanha chamada Cerro del Plata, em Mendoza, na Argentina, que tem 5.950 metros de altitude.
Pedro Hauck, em 2002, em Aconcágua, montanha na Argentina
Pedro Hauck/Arquivo pessoal
Depois disso, na mesma viagem, escalou outras quatro montanhas em seis meses. Mesmo com pouco dinheiro e contando com a ajuda de estranhos, foi uma experiência que marcou sua vida e fez com que ele se apaixonasse por escalar.
“Foi tudo feito com muito improviso, sem dinheiro, contando com a ajuda das pessoas que davam carona. Dormi embaixo de ponte, em casa abandonada. E aí que o montanhismo nunca mais saiu de mim. De lá para cá, já se foram 25 anos, 27 desde quando eu comecei e, nesse meio de tempo, eu já escalei mais de 160 montanhas de grandes altitudes”, contou.
Initial plugin text
Estratégias e perigos ao escalar o Everest
Segundo o especialista em geociências, escalar o Everest hoje em dia não é da mesma maneira como as pessoas faziam há 30 anos. O percurso feito para chegar ao topo é dividido, além da base, em quatro acampamentos, feitos para auxiliar os escaladores com comida e abrigo. Segundo Pedro, para chegar até o cume, é necessário respeitar o tempo do próprio corpo, para que ele se acostume a estar na montanha, onde há menos oxigênio.
Pedro Hauck, de Itatiba (SP), está participando de expedição comemorativa para escalar o Monte Everest
Pedro Hauck/Arquivo pessoal
“Antes de chegar à base do Monte Everest, são oito dias de caminhada. A gente sai de Katmandu, que é a capital do Nepal, a gente pega um aviãozinho, chega em uma cidade chamada Lukla, que fica a 2.800 metros, e vamos subindo, sempre gradativamente”, explicou.
“Para que o corpo se acostume com a altitude, é necessário um processo chamado de aclimatação, então a gente só chega ao acampamento base, que fica a 5.300 metros de altitude, no oitavo dia”, acrescentou.
Ao menos quatro acampamentos são instalados no Monte Everest para auxiliar escaladores, segundo guia de montanhas de Itatiba (SP)
Pedro Hauck/Arquivo pessoal
A aclimatação, segundo Pedro, é feita com rotações e nunca subindo apenas em direção ao cume. O processo é importante para que o corpo produza glóbulos vermelhos para alimentar as células, uma vez que, quanto mais alto sobem, menos pressão há na atmosfera, o que pode provocar mal agudo das montanhas, que são endemas cerebrais e pulmonares.
“Escalar o Everest é uma tarefa difícil. Eu sempre prezei pela experiência. Então, são 27 anos que eu faço montanhismo. Ou você é um montanhista muito experiente ou você compensa sendo um atleta muito focado e muito forte”, disse Pedro.
Outro desafio enfrentado pelos escaladores são os trechos onde precisam atravessar geleiras com precipícios. O grupo já passou por um lugar assim, na Cascata de Gelo Khumbu, e precisou da ajuda de uma escada para passar para o outro lado. Veja um vídeo da equipe atravessando a geleira abaixo.
“Esse é um local perigoso, onde já morreram muitas pessoas. Então, a gente fez uma aclimatação para passar por esse local. Não estava muito perigoso esse ano, a gente achou que estava bem seguro. Mas, quando eu cheguei ao campo 1, passei a primeira noite com um pouco de dor de cabeça, um pouco de ânsia de vômito. Um dos meus parceiros também sofreu com a altitude, então a gente decidiu ficar uma noite a mais ali, e a gente chegou onde a gente está agora, que é o acampamento 2”, relatou o escalador.
Guia de montanhas de Itatiba participa de jornada para escalar Monte Everest
Viver aventuras é de família
O espírito aventureiro de Pedro foi herdado de sua mãe, que, quando era mais jovem e fazia faculdade, fez amizade com uma boliviana e foi com ela para a Bolívia, onde viveu experiências únicas e cheias de curiosidades culturais.
Ela viajou para Santa Cruz de La Sierra. De lá, pegou um ônibus e foi para Cochabamba, depois para La Paz, Lago Titicaca, Puno e Cusco, no Peru, onde encerrou a visita em Machu Picchu.
“Eu ficava vendo as imagens dela [mãe], as fotos, as poucas fotos que ela tinha na década de 70, e achava tudo aquilo muito impressionante. Eu sempre fiquei muito impressionado com a paisagem da Bolívia, as montanhas e ainda mais essa questão da população boliviana, que é uma população indígena que vive na cidade. Achei isso muito impressionante. Então, minha próxima aventura, depois de ter ido para a Patagônia, seis meses mais tarde eu fiz o caminho que minha mãe fez e fui até Machu Picchu”, pontuou Pedro.
Assim que concluiu o percurso de sua mãe, Pedro fez um outro roteiro e escalou todas as 14 montanhas acima de seis mil metros espalhadas pela Bolívia.
“Eu sou o único brasileiro que fez esse projeto, de escalar todas essas montanhas na Bolívia. E, aliás, uma coisa que eu faço é incentivar as pessoas a conhecer a Cordilheira dos Andes. Ela é magnífica, é belíssima. Ela é pouco conhecida, pouco explorada, há mais de 10 anos eu me dedico em escalar as montanhas mais altas da nossa cordilheira”, disse.
Foto do Monte Everest tirada pelo geólogo e guia Pedro Hauck, de Itatiba (SP)
Pedro Hauck/Arquivo pessoal
Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM