Até o final da semana, espera-se que um júri seja formado no julgamento federal de tráfico sexual de Sean “Diddy” Combs. É uma reviravolta impressionante para aquele que já foi um influente nome na música, um homem que alcançou o status de bilionário como rapper, produtor e empresário.
Combs se declarou inocente das acusações criminais que incluem conspiração de extorsão, tráfico sexual e transporte para fins de prostituição. Se condenado, ele pode ser sentenciado à prisão perpétua. Independentemente do resultado, os problemas legais de Combs não terminarão com seu julgamento criminal. Ele enfrenta mais de 60 ações civis nas quais é acusado de agressão sexual ou outras irregularidades. Ele negou todas as alegações.
O advogado Andrew Van Arsdale, que representa 37 indivíduos que já apresentaram ações civis de agressão sexual contra Combs, disse à CNN em uma entrevista exclusiva que tem mais de 400 novas potenciais ações civis.
O advogado disse que pretende apresentar ações civis contra Combs após o julgamento criminal, em grande parte porque seus clientes temem possíveis retaliações caso o veterano da indústria musical em dificuldades seja absolvido.
“Da perspectiva de meus clientes, a razão pela qual eles hesitaram tanto em se apresentar por tanto tempo, em muitos casos, foi por causa do poder que esse indivíduo exercia e das ameaças às suas oportunidades profissionais que eles sentiam que ele poderia criar”, disse Van Arsdale.
“Eu acho que existe a ideia de que, ‘Meu Deus, e se, e se ele não for considerado culpado dessas acusações, certo? E se ele estiver de volta às ruas em dois meses? O que teria acontecido comigo se eu tivesse feito essas alegações?’”
“Eu ouço sobre isso todos os dias. Nossos clientes ainda estão com medo”, acrescentou.
Um “afluxo de ligações telefônicas”
Van Arsdale opera uma central de atendimento através de sua empresa, Reciprocity Industries, com sede em Billings, Montana. A empresa foi estabelecida em 2008, muito antes de as alegações contra Combs começarem a surgir.
Durante anos, a central ajudou a analisar as queixas dos chamadores em questões legais que vão desde a recuperação de desastres naturais até alegações de agressão sexual, auxiliando escritórios de advocacia no processamento de reclamações para litígios e divulgando a linha direta como um meio pelo qual as empresas podem obter potenciais clientes.
De acordo com o site da empresa, a Reciprocity emprega mais de 150 profissionais de triagem jurídica e seus serviços foram contratados por mais de 500 escritórios de advocacia nos Estados Unidos.
Van Arsdale litigou casos de abuso sexual contra os Boy Scouts of America e a Igreja Católica. Seu escritório de advocacia, AVA Law Group, representa dezenas de supostas vítimas de Combs que foram descobertas através de sua central de atendimento Reciprocity, que o The New York Times noticiou recentemente ser o “ponto central de coleta” de alegações de agressão sexual contra Combs.
Registros de chamadas recebidas mostram que a Reciprocity Industries recebeu quase 27 mil ligações relacionadas a Combs, disse Van Arsdale.
Depois de descartar trotes e consultas não relacionadas ou não confiáveis, a empresa estima que aproximadamente 15 mil ligações incluíram alegações de maus-tratos por Combs. Por meio do que ele descreveu como um processo de investigação rigoroso, Van Arsdale disse acreditar que existem mais de 400 novos casos civis potenciais.
Os advogados de Combs chamaram advogados como Van Arsdale de “caçadores de ambulâncias”.
“Sim, precisamos de um grande sistema para lidar com o afluxo de ligações telefônicas, e sim, precisamos de uma investigação muito séria para garantir que estamos apresentando as alegações que precisam ser tratadas no tribunal civil, mas é isso que este processo é”, disse Van Arsdale.
A CNN entrou em contato com a equipe de Combs para comentar a alegação de Van Arsdale de que ele está trabalhando em centenas de ações civis potenciais adicionais. Anteriormente, os advogados de Combs disseram à CNN que ele “nunca agrediu sexualmente ou traficou ninguém – homem ou mulher, adulto ou menor”.
“Nenhum número de ações judiciais, alegações sensacionalistas ou encenações midiáticas mudará essa realidade”, acrescentaram em um comunicado na época.
Buscando “cura” e “responsabilização”
Não é apenas Van Arsdale que está enfrentando Combs. Pelo menos uma dúzia de advogados representam os demandantes que apresentaram ações civis contra Combs. A maioria das alegações não está relacionada, abrangendo décadas com supostos incidentes ocorrendo em vários locais em diferentes estados.
Dos mais de 60 casos civis já apresentados contra Combs, dois foram retirados – um, apresentado por uma anônima que se recusou a cumprir uma ordem judicial para revelar sua identidade, e outro contra Combs e Jay-Z, que foi voluntariamente retirado depois que Jay-Z negou veementemente as alegações e várias inconsistências surgiram em seu relato.
A equipe de Combs aproveitou as inconsistências em pelo menos dois relatos de clientes de Van Arsdale: a mulher que acusou Combs e Jay-Z e um homem anônimo que deu detalhes em uma entrevista à CNN em dezembro de 2024 que não correspondiam ao seu processo, incluindo o ano em que ele alega ter sido drogado e agredido sexualmente por Combs em uma de suas festas.
Van Arsdale disse que as inconsistências na história do homem foram devido a um erro administrativo no registro. Após a entrevista da CNN, o escritório reapresentou uma queixa emendada.
Embora os casos civis e criminais sejam separados, Van Arsdale disse que alguns de seus clientes cooperaram com as autoridades federais no caso criminal de Combs e podem ser chamados para testemunhar durante seu julgamento.
“Esta é uma oportunidade que talvez eles pensassem que nunca teriam, no fato de verem o sistema funcionando”, disse.
Van Arsdale disse que busca justiça para seus clientes, independentemente do resultado do julgamento criminal.
“Meus clientes ficarão extasiados se e quando ele for condenado, culpado e preso”, disse ele. “Mas o próximo passo em seu processo de cura é a responsabilização pelo que aconteceu com eles.”
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Este conteúdo foi originalmente publicado em P. Diddy: novas denúncias contra cantor podem aparecer após julgamento no site CNN Brasil.