Bebê que perdeu 90% do intestino delgado consegue vaga em unidade especializada após briga na Justiça


Davi Morais Menezes, de cinco meses, tem uma condição rara e precisa de cuidados especiais. Família conseguiu duas liminares na Justiça para o convênio realizar a transferência, mas o Instituto não cumpriu. Bebê, de Registro (SP), está internado na UTI desde que nasceu com condição rara
Arquivo pessoal
Davi Morais Menezes, de cinco meses, que perdeu 90% do intestino delgado após nascer com uma inflamação intestinal que faz partes do órgão necrosarem, conseguiu uma vaga em uma unidade especializada após a família entrar na Justiça. Segundo o parecer médico, a transferência pode salvar a vida dele, mas a mãe disse ao g1 que só ficará aliviada quando ver o filho com especialistas.
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
O bebê foi diagnosticado com enterocolite necrosante e Síndrome do Intestino Curto (SIC). Ele está internado na UTI do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), desde 11 de fevereiro, pelo convênio Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), que é alvo da ação judicial.
O intestino delgado finaliza o processo de digestão e absorve os nutrientes. Por este motivo, ainda de acordo com o parecer médico, Davi precisa ser transferido para uma unidade especializada em falência intestinal, para não correr o risco de morrer ou necessitar de um transplante.
Depois de duas liminares na Justiça, para o menino ser transferido com urgência, o Iamspe informou ao g1 que foi concedida uma vaga para ele no Hospital Municipal Menino Jesus do Programa de Reabilitação Intestinal do Ministério da Saúde, em São Paulo.
Conforme está prescrito no protocolo de transferência entre hospitais, o menino já passou por exames. Segundo o advogado da família, Remisson Rodrigues, que é especialista em Direito da Saúde, a mudança para uma unidade especializada está prevista para acontecer ainda nesta segunda-feira (29).
Desespero
Segundo o relatório médico, juntado no processo, o principal sintoma da SIC é a diarreia, que pode causar desidratação, desnutrição, perda de peso e até levar à morte. A mãe de Davi, Thais Freitas Morais, contou ao g1 que o filho continua com diarreia e sangue nas fezes.
“A expectativa e ansiedade pelo tratamento em um núcleo especializado é enorme. Assim que esse momento tão esperando acontecer, vou conseguir transcrever o alívio”, afirmou ela.
No processo obtido pelo g1, Thais descreveu como tem sido os meses de UTI com o filho. Desde que o menino nasceu, a mulher e o marido se revezam na beira do leito.
“Nem nos nossos piores sonhos podíamos imaginar que o nosso bebê tão amado e esperado chegaria tão perto da morte em seus primeiros dias de vida […] Nosso filho quer viver e nós queremos ter paz de espírito sabendo que ele está recebendo o tratamento correto e necessário”.
Bebê está internado desde que nasceu há cinco meses
Arquivo pessoal
Diagnóstico
A assistente técnica e tia de Davi, Luciana Menezes, de 40 anos, explicou ao g1 que o irmão Daniel e a cunhada Thais, pais do bebê, moram em Registro, no interior de São Paulo. De acordo com ela, o sobrinho recebeu o diagnóstico assim que nasceu prematuro em um hospital de Pariquera-Açu (SP).
Por conta da condição rara, o menino foi levado para o Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), em São Paulo, onde segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 11 de fevereiro. A transferência ocorreu pelo convênio do pai dele, o Iamspe.
Em 13 de fevereiro, Davi passou por uma cirurgia abdominal para retirar a área necrosada do intestino delgado, tornando-se portador da Síndrome do Intestino Curto (SIC).
O Iamspe informou que a condição clínica do paciente é rara e, por este motivo, foi inscrito no Ministério da Saúde para ser atendido pelo Programa de Reabilitação Intestinal, conforme preconiza o SUS.
Medida urgente
O intestino delgado finaliza o processo de digestão e absorve os nutrientes. Por este motivo, ainda de acordo com o parecer médico, Davi precisa ser transferido para uma unidade especializada em falência intestinal para não correr o risco de morrer ou necessitar de um transplante.
Luciana acrescentou que o menino depende de nutrição parenteral, uma solução utilizada para complementar ou substituir a alimentação normal, que não é suficiente para pacientes com falência total ou de parte do intestino.
“É obrigatório para sobrevivência do Davi”, disse a tia, ao se referir à transferência.
O Iamspe destacou, ainda, que o bebê teve progresso em seu peso na UTI do Hospital do Servidor Público Estadual, com nutrição parental diária e cuidado clínico, enquanto aguardava a vaga para transferência.
Briga na Justiça
Segundo o advogado da família, Remisson Rodrigues, que é especialista em Direito da Saúde, os pais do menino solicitaram a transferência ao Iamspe, mas o convênio não atendeu o pedido, sendo necessário ingressar com uma ação judicial.
A família entrou com a primeira ação judicial em abril. Dois meses depois, a juíza da 4ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, Celina Kiyomi Toyoshima, concedeu uma liminar para que Davi fosse transferido para um hospital com especialistas em falência intestinal.
No documento da decisão, ela pede que o menino tenha, com urgência, o custeio da transferência, acompanhamento multidisciplinar, cirurgias, intervenções diagnósticas, nutricionais, terapêuticas e medicamentosas, via Sistema Único de Saúde (SUS).
Mesmo com a liminar, a tia afirmou que a família não teve retorno do Iamspe. Desesperada, a família ingressou com outra ação na Justiça.
Instalações do Iamspe em São Paulo
Alexandre Carvalho/A2img/GESP
Em 18 de julho, conseguiram a segunda liminar que obriga o Iamspe a levar Davi para um hospital com núcleo especializado. Desta vez, a juíza Celina não determinou que fosse custeado pelo SUS, apenas solicitou o cumprimento da transferência.
O g1 entrou em contato com o Ministério da Saúde, que informou estar apurando o caso de Davi.
VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos
Adicionar aos favoritos o Link permanente.