O júri do julgamento de Sean “Diddy” Combs por extorsão e tráfico sexual ouviu o depoimento de 16 testemunhas até o momento. Após esta quinta-feira (22), o processo ficará pausado até a próxima terça-feira (27).
No 9º dia de julgamento, foram ouvidos Scott Mescudi, também conhecido como “Kid Cudi“, que namorou Cassie Ventura; George Kaplan, ex-assistente de Combs; Joshua Croft, agente de informática forense do Departamento de Investigações de Segurança Interna; Frederic Zemmour, gerente geral do hotel L’Ermitage, na Califórnia; e Mylah Morales, ex-maquiadora de Combs e Ventura. Veja os destaques do dia abaixo.
Scott Mescudi, também conhecido como “Kid Cudi”, namorou Cassie Ventura
- Primeiros tempos: Kid Cudi disse que conheceu Cassie Ventura em 2008 e que os dois foram amigos até começarem a namorar por volta de 2011. O músico entendeu que ela e Combs “tinham alguns problemas e não estavam mais juntos”, mas quando o rapper soube que ele e cantora estavam namorando, ligou para Kid Cudi em dezembro de 2011 dizendo que queria conversar com ele, segundo o testemunho do músico. Então ele deixou o hotel onde estava com Ventura e voltou para casa, afirmou.
- Invasão à casa de Kid Cudi: Logo após esse telefonema, Kid Cudi voltou para casa, mas Combs não estava lá. Em vez disso, encontrou suas câmeras de segurança mexidas, presentes que havia comprado para a família abertos e seu cachorro trancado no banheiro, segundo seu depoimento. Após a invasão, o ex-namorado passou as festas de fim de ano com a família de Ventura e recebeu algumas mensagens de texto de Combs, mas não quis conversar com ele, dizendo acreditar que ele era responsável pela invasão. Cudi também afirmou que registrou um boletim de ocorrência sobre o incidente.
- Porsche de Kid Cudi danificado com coquetel molotov: Uma manhã, em janeiro de 2012, o cuidador de seu cachorro ligou de sua casa dizendo que o carro estava pegando fogo. Ao ver as fotos, o rapper explicou que parecia que “o teto do meu Porsche havia sido cortado, e foi ali que jogaram o coquetel molotov”, causando danos irreparáveis, segundo ele.
- Encontro presencial entre Combs e Kid Cudi: Quando chegou ao encontro com Combs, que estava sozinho, o músico relatou que “Combs estava parado, olhando pela janela com as mãos para trás, como um vilão da Marvel”. Eles conversaram sobre o relacionamento de Cudi com Ventura do início ao fim, contou. Quando o rapper perguntou a Combs sobre os danos ao carro, ele negou qualquer envolvimento. Os dois se encontraram novamente em 2015, em uma boate, e “Diddy” pediu desculpas a Cudi, que disse ter “encontrado paz” com a situação desde então.
- Sentimento de manipulação: Kid Cudi disse que se sentiu “usado” e “chateado” ao descobrir que Ventura acabou voltando para Combs.
- Confidente de Ventura: ele declarou que Cassie lhe contou que sofria abuso físico no relacionamento com o rapper — que ele a agredia com socos e, às vezes, com chutes —, o que o incomodava. No entanto, ela não mencionou ter sofrido abuso sexual, disse.
George Kaplan, ex-assistente de Sean “Diddy” Combs
Antes de testemunhar ontem, sem a presença do júri, Kaplan invocou seu direito constitucional (Quinta Emenda) de não testemunhar para não se autoincriminar. O juiz Arun Subramanian então assinou uma ordem de imunidade exigindo que ele testemunhasse. No entanto, o ex-assistente de Combs ainda pode ser processado por perjúrio caso minta no tribunal. O testemunho continuou hoje:
- Manuseio de dinheiro em espécie de Combs: Kaplan afirmou que raramente carregava dinheiro para Combs, mas se lembra de uma vez, em 2015, quando a equipe de segurança de Combs pediu para que ele segurasse US$ 50 mil (cerca de R$ 282 mil) enquanto estavam no jato particular do artista. Também relatou alguns casos em que precisou retirar US$ 10 mil (cerca de R$ 56 mil) em dinheiro na Western Union — mas disse que não ficava com o dinheiro e o entregava a Combs assim que o pegava.
- Testemunha de violência: Kaplan relatou três ocasiões em que presenciou comportamentos violentos de “Diddy”: duas vezes com Cassie Ventura em 2015, no jato particular, embora não tenha visto ferimentos nela nessas ocasiões; e um terceiro episódio, no fim do mesmo ano, em que viu a cantora com ferimentos visíveis em uma das residências do rapper. Ele também contou sobre outro episódio de agressão em que viu Combs “jogando várias maçãs verdes, decorativas ou reais, em outra namorada”, sem saber se alguma chegou a atingi-la.
- Emprego foi “uma oportunidade única na vida”: Kaplan declarou que tomava cuidados especiais ao limpar os quartos de hotel após a saída de Combs, pois temia que funcionários dos hotéis vendessem conteúdo encontrado nos quartos e isso prejudicasse a reputação do artista. Disse que comunicou sua saída em setembro de 2015 e deixou o emprego definitivamente em dezembro, após os episódios que presenciou. “A principal razão pela qual deixei meu trabalho como assistente do Sr. Combs foi que eu não me sentia confortável ou alinhado com os comportamentos físicos que estavam acontecendo e dos quais fui testemunha ao longo de alguns meses”, afirmou. Contou ainda que disse a Combs que estava saindo porque seu pai estava doente, e que o rapper foi “extremamente generoso”. Kaplan manteve contato com o artista porque “gostava do Sr. Combs e queria continuar tendo uma relação com ele”, acrescentando que trabalhar com ele foi uma “oportunidade única na vida”, mesmo que sua consciência moral o tenha levado a pedir demissão.
- Lições de negócios: Durante o interrogatório da defesa, Kaplan afirmou que Combs fez seu “mundo se expandir muito em pouco tempo”, lembrando das lições de negócios que recebeu do artista.
Joshua Croft, agente de informática forense do Departamento de Investigações de Segurança Interna
Croft testemunhou que extraiu dados de três laptops de Ventura: um havia sido redefinido para as configurações de fábrica, outro exibia a tela de login de um perfil de usuário chamado “Frank Black” e um terceiro estava amassado e entortado, sem conseguir ser ligado, segundo ele.
Frederic Zemmour, gerente geral do hotel L’Ermitage, em Beverly Hills, Califórnia
Registros do hotel revelam mudanças de nome no perfil de Combs: O júri viu os registros de um perfil inicialmente criado em nome de Sean Combs, em dezembro de 2006, e que foi alterado para Jackie Star em 2009, segundo Zemmour. O nome foi mudado várias vezes entre 2011 e 2012. Em 2019, o nome registrado passou a ser Ryan Lopez, afirmou.
Anotações no arquivo do L’Ermitage Hotel sobre Combs, exibidas ao júri
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“Favor monitorar do lado de fora do quarto / no corredor, para borrifar aromatizador de ambiente.”
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“SEMPRE derrama cera de vela em tudo e usa quantidades excessivas de óleo; colocar o quarto fora de uso após a saída para limpeza profunda.”
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“Favor autorizar um valor extra de $1000 quando o hóspede estiver conosco para cobrir possíveis danos ao quarto.”
Mylah Morales, ex-maquiadora de Combs e Ventura
- Clientes de alto perfil: Morales afirmou que trabalhou para Combs de 2000 a 2005, mas deixou o trabalho para atender outros clientes famosos. Ela conheceu Ventura em um ensaio fotográfico em Nova York, quando Ventura tinha 16 anos, e passou a fazer sua maquiagem regularmente quando ela assinou com a gravadora Bad Boy Records, em 2007. Segundo Morales, Ventura era como uma irmã mais nova para ela. A última vez que fez sua maquiagem foi em 2021, disse.
- Hospedagem com uma amiga: Após uma festa na casa do cantor Prince, Ventura e Morales voltaram para um quarto de hotel durante o fim de semana do Grammy de 2010, relatou Morales. Combs apareceu no quarto, fechou a porta atrás de si, e gritos e discussões começaram, disse ela. Quando saiu furioso do quarto, Ventura estava “arrasada”, com o olho inchado, o lábio machucado e hematomas na cabeça, segundo o testemunho. A maquiadora levou a cantora para sua casa, onde ela ficou por alguns dias. Morales afirmou que não chamou a polícia por medo de Combs e por temer por sua vida. Um amigo médico de Morales examinou Ventura e recomendou que ela fosse ao pronto-socorro, mas ela recusou, segundo a testemunha. As duas nunca mais falaram sobre o ocorrido, relatou Morales.
- Cerca de oito entrevistas à mídia: Morales afirmou ter concedido cerca de oito entrevistas à imprensa no último ano sobre o relacionamento de Ventura e Combs, incluindo o episódio de abuso de 2010. Ela confirmou, durante o contrainterrogatório, que não recebeu pagamento por nenhuma dessas entrevistas públicas e que nunca havia falado sobre o caso de 2010 antes da primeira entrevista concedida à CNN, em maio de 2024.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Saiba como foi 9º dia de julgamento de Sean “Diddy” Combs no site CNN Brasil.