Perseguição a Moraes é o novo delírio golpista de Trump e Bolsonaro

No mesmo dia em que Donald Trump armou uma arapuca para o presidente sul-africano na Casa Branca, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, ameaçou sancionar pesadamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF brasileiro. As ações não estão interligadas, mas ambas se baseiam unicamente no mais puro chorume ideológico da extrema direita. 

Trump constrangeu Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, ao confrontá-lo sobre a existência de um “genocídio branco” em seu país — uma fantasia fabricada pela direita internacional. Para se ter uma ideia, nem mesmo o partido que representa os afrikaners, que foram citados por Trump como as principais vítimas, reconhece a existência do tal genocídio. 

O despudor é tão grande que o presidente estadunidense mostrou uma foto em que se empilhavam cadáveres e afirmou de maneira categórica: “são todos fazendeiros brancos que estão sendo enterrados”. Descobriu-se, depois, que a foto era do Congo, não da África do Sul. 

É mais uma conspiração fuleira, amadora e fundamentalmente racista, mas que funciona muito bem. O que não falta no mundo é cabecinha teleguiada disposta a mamar qualquer mamadeira de piroca que aparecer pela frente. 

Percebam o nível da bizarrice: o presidente da África do Sul, que foi preso por lutar contra o regime racista do apartheid, teve que se defender de uma mentira contada por um branco playboy que comanda a nação mais poderosa do mundo. Vivemos uma quadra sombria da história do mundo. 

Enquanto isso, a ameaça feita a um juiz da maior corte brasileira também segue o mesmo padrão mentiroso e conspiratório. A ação está baseada em um factóide fabricado e exportado pelo bolsonarismo: o de que o Brasil é refém de uma ditadura do judiciário que persegue implacavelmente os democratas da extrema direita. 

Jair Bolsonaro presenteia Donald Trump com camisa da seleção de futebol do Brasil, em novembro de 2020, na Casa Branca (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)
Jair Bolsonaro presenteia Donald Trump com camisa da seleção de futebol do Brasil, em novembro de 2020, na Casa Branca (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)

Em uma reunião da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, Marco Rubio afirmou que há grande possibilidade do ministro Alexandre de Moraes ser enquadrado na “Lei Magnitsky”, que o proibiria de entrar naquele país, entre outras sanções. 

A afirmação de Rubio foi em resposta a uma pergunta do republicano Cory Lee Mills, um congressista dos mais picaretas, que mantém relações com Eduardo Bolsonaro. Com base nos delírios conspiratórios do bolsonarismo, o governo dos EUA pretende acusar Moraes de ser um violador dos direitos humanos e transformá-lo em pária internacional. 

As sanções impostas pela tal lei não só impedem a entrada em território dos EUA como podem até mesmo bloquear os seus ativos em dólares — inclusive os que estão fora do país — e os seus cartões de crédito. 

Quando a sanção for imposta, teremos uma posição firme de todos os ministros do STF, incluindo os indicados por Bolsonaro? A Câmara e o Senado irão se posicionar institucionalmente em defesa da soberania nacional ou capitularão silenciosamente diante da interferência estrangeira? 

Será uma boa oportunidade para testar o patriotismo de algumas figuras. Os EUA não estarão punindo Alexandre de Moraes, mas atacando a democracia brasileira. Não há a menor possibilidade de se encarar de outra forma. 

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Dos patriotas que odeiam a pátria não esperamos nada além da sabujice habitual. Nas redes sociais, os canalhas que se refugiam no patriotismo de fachada comemoraram as declarações de Rubio e se mostraram esperançosos com a possibilidade de o STF se curvar ao poder do governo dos EUA. Doce ilusão. Quem vive no mundo da lua é incapaz de fazer uma leitura simples dos fatos. 

Eduardo Bolsonaro, o deputado que se licenciou do cargo para morar nos EUA e poder conspirar de lá contra a democracia brasileira, é amiguinho de Cory Lee Mills, o republicano que está municiando a Casa Branca com as fake news bolsonaristas. 

É importante lembrar que o deputado brasileiro está vivendo nos EUA com sua família às custas do papai – pelo menos é o que disse Gilson Machado Neto, o ex-ministro-sanfoneiro-golpista de Jair Bolsonaro. 

Eduardo comemorou efusivamente a ameaça do governo estadunidense contra o Brasil. Na CNN, o deputado deu detalhes sobre a sanção contra o ministro brasileiro como se fosse um agente do governo dos EUA: “qualquer pessoa que se relacione com Alexandre de Moraes também ficará à mercê de receber essas mesmas punições”. 

O deputado destacou ainda, com um certo tom de ameaça, que os EUA não estão apenas sancionando Moraes, mas também “observando as autoridades brasileiras”. E do alto do seu ego inflado pela aproximação com o governo Trump, aconselhou as autoridades brasileiras: “meu conselho às autoridades: não se metam. Essa é uma guerra particular de Moraes”, afirmou. 

Eduardo é costumeiro em fazer esse tipo de ameaça às autoridades. Corta para 2018, quando ele disse que o STF não seria uma pedra no sapato do governo do seu pai: “se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”. 

Quem vive no mundo da ilusão sempre fará uma leitura equivocada do cenário político. Não teve cabo nem soldado fechando o STF, mas tem o seu papai sentado no banco dos réus. 

Eduardo Bolsonaro, que falou em conferência conservadora nos EUA há poucos dias, disse que pediu a parlamentares republicanos a retomada de projeto de lei que pode barrar entrada de Alexandre de Moraes no país (Foto: Julia Mineeva/Thenews2/Folhapress)
Eduardo Bolsonaro admitiu em conferência conservadora nos EUA que pediu apoio de parlamentares republicanos à norma que pode barrar entrada de Alexandre de Moraes no país (Foto: Julia Mineeva/Thenews2/Folhapress)

Eduardo não cansa de errar e segue nutrindo a certeza de que se está pintando um cenário favorável aos golpistas. “Ele [Moraes] vai ter que jogar num campo que não é o Brasil, onde ele controla todo mundo, dentro da base da ameaça. Moraes terá contas a pagar, e acredito que a partir daí, a gente vai ter um novo cenário brasileiro”, declarou. 

As sanções podem causar dor de cabeça a Moraes, mas não mudarão o que está em curso no STF. Elas são as migalhas de atenção que Eduardo Bolsonaro conseguiu ao passar os últimos meses lambendo as botas de Tio Sam. Moraes continuará seu trabalho e julgará os réus pela tentativa de golpe de estado. 

Sob Trump, os EUA — que são o principal ator da geopolítica internacional — estão irremediavelmente contaminados pelos delírios ideológicos da extrema direita neofascista. Qualquer país cuja gestão não se alinhe ideologicamente sofrerá alguma consequência. Não é uma exclusividade do Brasil. 

A humilhação que Zelensky e Ramaphosa passaram no Salão Oval mostrou como é a nova face do imperialismo americano sob a égide do neofascismo. De qualquer forma, trata-se de um ataque gravíssimo contra a soberania nacional brasileira. Um ministro da mais alta corte brasileira está sendo perseguido pelo governo dos EUA justamente por seu trabalho recente e implacável em defesa da democracia. 

Enquanto nós conseguimos tornar o golpista brasileiro inelegível por conspirar contra a democracia, o golpista norte-americano foi premiado com a possibilidade de se reeleger. A chamada “maior democracia do mundo” hoje é comandada por um golpista que está mirando contra os inimigos do golpismo aqui no Brasil. 

Mas não adianta, o futuro já está selado para os nossos “patriotas” golpistas: ou fogem do país ou vão perder alguns anos na cadeia. Os berros de Tio Sam e os latidos dos nossos vira-latas complexados não mudarão nada.

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