A percepção de risco no sistema financeiro brasileiro passou a ser dominada pelo cenário internacional, superando, pela primeira vez desde 2023, as preocupações com a política fiscal.
A mudança foi apontada pelas instituições financeiras que participaram da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF) do Banco Central, referente ao segundo trimestre de 2025, divulgada pela autoridade monetária nesta quinta-feira (5).
Segundo o levantamento, “os riscos do cenário internacional passaram a ser os mais importantes, em função da guerra tarifária” promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desde os primeiros dias do ano, quando assumiu o mandato.
O tema foi citado como o risco mais relevante por 39% das instituições financeiras (IFs) entrevistadas, contra 30% que indicaram os riscos fiscais. Na pesquisa anterior, de fevereiro, os percentuais eram 16% para o cenário externo e 52% para o fiscal.
A frequência média de menções ao risco internacional subiu de 0,86 para 0,88 por instituição, consolidando uma tendência de alta desde o fim de 2023.
Já os riscos fiscais registraram leve queda nessa métrica, de 0,74 para 0,69. Apesar disso, o Banco Central enfatiza que “os riscos fiscais seguem sendo relevantes, com preocupações com a sustentabilidade da dívida pública e a evolução da política fiscal”.
A percepção de impacto e probabilidade dos riscos internacionais também aumentou: 100% das instituições classificaram o impacto como “alto” e a probabilidade como “médio-alta”, reforçando o peso dessas incertezas no horizonte de três anos.
Cenário econômico mais pessimista
A leitura sobre o ciclo econômico piorou em relação à pesquisa anterior. A maioria das instituições migrou sua avaliação de “recuperação” e “boom” para “contração”. Segundo o Banco Central, “cresce a percepção da tendência de alta na alavancagem das famílias”, embora a maioria ainda veja a situação como estável.
Esse movimento, segundo o BC, indica maior cautela quanto à atividade econômica nos próximos trimestres, especialmente diante do aperto das condições financeiras globais e das incertezas internas relacionadas à condução da política fiscal.
Além disso, cresceu a percepção de que há uma tendência de alta na alavancagem das famílias, o que pode indicar um esgotamento da capacidade de consumo por meio de crédito, especialmente se combinado a um cenário de inflação resiliente e juros elevados.