Cortes de juros ainda são possíveis este ano, diz integrante do Fed

Próximo da aposentadoria no final do mês, o presidente do Federal Reserve da Filadélfia, Patrick Harker, disse que cortes nas taxas de juros continuam sendo uma possibilidade neste ano, em meio a um cenário econômico incerto, e demonstrou preocupação com a qualidade dos dados econômicos usados na tomada de decisões.

Quando se trata de flexibilizar a política monetária, “é possível, eu jamais a descartaria”, afirmou Harker em entrevista à Reuters na quinta-feira (5). “Se os sinais forem de que a inflação não parece estar subindo rapidamente, mas o desemprego sim, então sim, eu definitivamente poderia prever um ou mais cortes este ano, mas é difícil dizer neste momento.”

Harker foi entrevistado nas últimas semanas de seu mandato, já que deve se aposentar no final de junho, após assumir o comando do Fed da Filadélfia em 2015. O Fed se reunirá novamente nos dias 17 e 18 de junho, quando a expectativa geral é de que a instituição mantenha os juros estáveis entre 4,25% e 4,50%. Em 2025, Harker não é membro votante do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed, responsável pela definição dos juros.

Segundo ele, o que acontecerá no final do ano é uma incógnita, já que a política comercial caótica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com impostos de importação elevados e repetidas mudanças, provavelmente aumentará a inflação e reduzirá o emprego.

A questão que as autoridades do Fed enfrentam é se o aumento da inflação é pontual ou se é o início de algo mais duradouro. Essas incertezas prejudicaram a capacidade das autoridades de fornecer orientações sobre as perspectivas da política monetária e as levaram a sinalizar uma atitude de esperar para ver.

Harker, engenheiro de formação que liderou a Universidade de Delaware antes de chegar ao Fed, disse na entrevista que estava cada vez mais preocupado com a qualidade dos dados nos quais os formuladores de políticas em geral confiam.

Os números, incluindo os produzidos pelo governo, “não são bons, não estão melhorando”, disse Harker. “Não se trata apenas de dados de inflação, mas de uma série de dados, então estamos cada vez mais às cegas, ou pelo menos meio às cegas.”

As preocupações de Harker sobre o estado dos dados surgem na sequência de relatos de que o governo estava cortando recursos dedicados à compilação do índice de preços ao consumidor, monitorado de perto.

Preocupações fiscais

Harker deixa o cargo no final do mês devido às regras do Fed que, na maioria dos casos, impedem que presidentes regionais da instituição fiquem no cargo após os 65 anos. Ele será sucedido por Anna Paulson, uma antiga funcionária de banco central que liderou a operação de pesquisa no Fed de Chicago.

Refletindo sobre sua década no banco central, Harker disse que o período desde que Donald Trump retornou como presidente se destacou como ainda mais desafiador do que os anos da pandemia, quando ficou mais claro o que o Fed precisava fazer para orientar a economia, pelo menos no início.

Mas a interpretação equivocada do Fed sobre o aumento da inflação após a pandemia lhe deu uma lição crucial, que foi a importância de coletar e levar em conta dados econômicos qualitativos e o que as pessoas estão dizendo que está acontecendo, em relação aos dados estatísticos de alto nível, ou quantitativos.

Olhando para o futuro, Harker disse que é fundamental que o Fed eduque melhor as pessoas sobre o que pode e não pode fazer, caso contrário sua independência poderá estar ameaçada devido à crença de que é todo poderoso quando se trata da economia.

Há uma sensação de que “o Fed é um ser todo-poderoso que controla a sua vida, o que não é verdade”, disse Harker. “Não deveria ser verdade, e não é, mas para dissipar isso, temos que manter a coisa o mais simples possível” e explicar “o que fazemos e o que não fazemos.”

“E acho que temos que enviar essa mensagem em alto e bom som”, acrescentou.

Harker também disse esperar que, quando o Fed usar a compra de títulos e seu balanço para ajudar a economia, o faça com moderação, com uma explicação clara do que está fazendo.

Harker também disse na entrevista que as ameaças dos enormes déficits governamentais estão crescendo e precisam ser abordadas. Segundo ele, o tempo para fazer isso está se esgotando.

“Estou muito preocupado com o déficit”, disse Harker. “Não acho que estejamos em risco hoje, mas podemos estar em risco em um futuro não muito distante se não agirmos.”

O dirigente do Fed observou ainda que os preços de mercado e Wall Street estão começando a enviar sinais de problemas que não devem ser ignorados.

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