Ainda não está claro se Donald Trump e Elon Musk conseguirão se reconciliar após o rompimento desta semana – algo que muitos ao redor deles esperam.
Mas, à medida que a briga entre os dois se transformou em ataques altamente pessoais na quinta-feira (5), um dos aspectos mais interessantes foi este: Musk deu sinais de entrar em uma possível disputa de poder.
Ele não apenas criticou Trump ou o projeto de lei apoiado pelos republicanos; ele falou sobre tirar do cargo os republicanos que votaram a favor daquela “abominação nojenta”.
Chegou a cogitar a formação de um terceiro partido. Sugeriu que Trump precisava dele – afirmando que Trump teria perdido em 2024 sem seu apoio.
Deu, repetidamente, destaque a postagens no X sugerindo que as pessoas teriam que escolher entre ele e Trump – e mandou um aviso nada sutil para quem escolhesse “errado”.
“Oh, e aqui vai algo para refletirem enquanto ponderam essa questão: Trump ainda tem 3,5 anos como presidente, mas eu estarei por aqui por mais de 40 anos”, escreveu Musk em sua plataforma social. Em outras palavras: pensem bem no que vão fazer a seguir, porque podem acabar se arrependendo.
Então, supondo por um momento que essa briga vá continuar, quem está com as cartas na mão?
Não há dúvida de que, se realmente fossem forçados a escolher, a vasta maioria dos líderes republicanos ficaria com Trump. Mas a situação não é tão simples assim.
O vice-presidente JD Vance, após horas de um silêncio bastante perceptível na quinta-feira, acabou se posicionando firmemente ao lado de Trump (caso ainda houvesse alguma dúvida) – embora sem criticar Musk.
Outros aliados de Trump, que não gostam de Musk e de sua influência, pareciam aproveitar a oportunidade para tentar “excomungá-lo” – no caso de Steve Bannon, quase literalmente, ao sugerir que Trump deveria deportar Musk, nascido na África do Sul e hoje cidadão americano.
Musk – o homem mais rico do mundo – é relativamente novo na política, tendo se aproximado do movimento conservador há menos de um ano (após a tentativa de assassinato contra Trump em Butler, na Pensilvânia).
Trump, por outro lado, frequentemente exerce uma influência quase de culto sobre seu lado do espectro político, transformando o Partido Republicano em algo muito mais voltado à lealdade pessoal a ele do que a qualquer conjunto específico de ideias ou princípios.
O presidente muda de posição com frequência – e Musk, na quinta-feira, apontou que Trump já foi um defensor fervoroso da contenção de gastos, assim como ele – e sua base costuma mudar de posição junto com ele.
Este é o partido de Trump, ponto final.
Mas, quando se trata da importância dessa briga, não é tão simples quanto escolher um lado. Musk ainda detém influência real – e é por isso que muitos republicanos estão evitando uma escolha binária.
Um conflito persistente com Musk forçaria os republicanos a lidar com dinâmicas desconfortáveis.
A popularidade geral de Musk claramente caiu à medida que o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) perdeu prestígio. E ele definitivamente não é tão popular quanto Trump entre os conservadores.
A política pessoal de Musk e seu histórico no mundo da tecnologia sempre tornaram sua aliança com Trump algo um pouco instável – e o projeto de lei do presidente acabou revelando algumas dessas tensões.
Ainda assim, Musk manteve apoio significativo dentro do partido Republicano, mesmo com as dificuldades enfrentadas pelo DOGE. Na verdade, sua estatura política supera a maioria dos republicanos — exceto, talvez, por Trump e JD Vance.
Uma pesquisa da Reuters/Ipsos de abril, por exemplo, mostrou que 54% dos republicanos tinham uma opinião “muito favorável” sobre Trump, e 50% disseram o mesmo sobre seu vice-presidente. Musk não estava muito atrás, com 43%.
Ele superava amplamente outras figuras da administração Trump, como o secretário de Defesa Pete Hegseth (33%) e o então conselheiro de segurança nacional Michael Waltz (18%).
Da mesma forma, uma pesquisa mais recente da Faculdade de Direito da Universidade Marquette mostrou que a taxa de “muito favorável” de Musk entre todos os americanos (22%) ficava apenas um pouco abaixo da de Trump (25%) e empatava com a de Vance. E isso mesmo após a queda de popularidade do DOGE.
O trabalho de Musk à frente do DOGE também continua bastante popular entre os republicanos. Uma pesquisa de abril do *New York Times* com o Siena College mostrou que 63% dos republicanos e 70% dos eleitores de Trump disseram “apoiar fortemente” os cortes promovidos por Musk e pelo DOGE.
O outro lado da moeda é que, mesmo que os republicanos realmente gostem de Musk – em números que não estão tão distantes dos de Trump – isso não significa que a devoção a ele seja comparável. É possível gostar muito de duas pessoas, mas deixar claro que se prefere uma delas.
E há sinais de que os republicanos não necessariamente querem mais Musk.
Uma pesquisa da Universidade Quinnipiac no início de abril mostrou que, embora 71% dos republicanos achassem que ele tinha o nível certo de poder para tomar decisões na administração Trump, apenas 8% achavam que ele tinha pouco poder.
E tudo isso veio antes do rompimento com Trump. Basta alguns dias ou semanas de ataques vindos do presidente, e é provável que os índices de aprovação de Musk entre republicanos despenquem.
Mas isso não é o mesmo que dizer que um racha entre esses dois bilionários não teria importância.
Musk não só manteve bastante prestígio entre os republicanos recentemente, como também exerce enorme influência graças à sua fortuna pessoal e ao controle da que talvez seja hoje a principal plataforma política nas redes sociais: o X.
Já vimos anteriormente que Musk consegue impulsionar iniciativas que apoia — e derrubar aquelas de que não gosta.
Ele tem usado sua autoridade sobre as políticas de moderação e o algoritmo do X para promover suas próprias postagens e, em alguns casos, silenciar críticos — como observou o Washington Post na quinta-feira.
E ele já demonstrou estar mais do que disposto — e capaz — de disseminar teorias sem comprovação sobre seus adversários políticos, como fez na quinta-feira ao publicar conteúdos insinuando ligações de Trump com Jeffrey Epstein.
Somando a isso o capital que Musk tem mostrado disposição crescente de investir na política (como em possíveis candidatos desafiantes nas primárias) e sua promessa de ser uma força duradoura por décadas, não é uma decisão fácil para os republicanos simplesmente descartá-lo.
Resta saber se Musk e Trump pretendem realmente forçar o Partido Republicano a fazer essa escolha.