
O IBGE destaca que os números do Censo 2022, interpretados junto com as últimas décadas, indicam que o ritmo de crescimento dos evangélicos diminuiu, enquanto o número de católicos segue caindo — só que mais lentamente. O IBGE divulgou nesta sexta-feira (6) o mapa religioso do país. A maioria dos brasileiros é católica. O número de evangélicos cresceu e o das religiões afro-brasileiras também.
O placar é o que menos importa. O que deixa a boleira Adriana Chaves feliz de verdade é o local da partida. A família está junta na igreja.
“Eu falei: ‘Amor, vamos na igreja?’. Aí, às vezes, ele: ‘Não, hoje não’. Aí ficava em cima”, conta Adriana.
“Aí eu falei assim: ‘Senhor, será que é isso mesmo que você quer?’”, diz Anselmo.
Era isso e muito mais. Depois de 15 anos vivendo juntos, Adriana e Anselmo disseram “sim” para Jesus e “sim” um para o outro também, diante do altar.
Os brasileiros não praticam as religiões só dentro dos templos ou das igrejas. As diferentes crenças influenciam todos os dias as escolhas, as decisões, os valores e o futuro de cada um. Em um povo com tanta fé, o Censo das religiões é o que revela de maneira mais profunda a alma do Brasil.
“Esse Censo mostra principalmente que o campo religioso no Brasil é dinâmico e continua em transformação”, afirma Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do ISER.
Religiões no Brasil
Jornal Nacional/ Reprodução
Em 2010, os católicos eram 65%. Caíram para 56,7% em 2022, mas continuam sendo maioria. Nesse mesmo período, os evangélicos subiram de 21,7% para 26,9% da população, representando cerca de um em cada quatro brasileiros. O IBGE destaca que esses números, interpretados junto com as últimas décadas, indicam que o ritmo de crescimento dos evangélicos diminuiu, enquanto o número de católicos segue caindo — só que mais lentamente.
“A gente tem um catolicismo que tenta se modernizar para reagir a essa queda que vem acontecendo nos últimos 40 anos. O Papa Francisco teve um papel muito importante na última década nesse movimento, com sua presença mais internacional, com seu carisma”, afirma Ana Carolina Evangelista.
As religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, foram as que mais cresceram percentualmente: 233% – de 0,3% para 1% da população. O Censo registrou também um ligeiro declínio nos espíritas e o crescimento em tradições indígenas e outras religiosidades.
Também aumentou o número de pessoas que se declaram sem religião, que agora são 9,3% dos brasileiros. Só que esse é um grupo bem diverso, que inclui tanto ateus e agnósticos quanto pessoas que acreditam em Deus, mas não seguem nenhuma doutrina específica.
Ao longo da vida, a funcionária pública Dayana Oliveira já esteve em várias categorias do Censo, mas voltou para a Igreja Católica, onde foi batizada, graças ao testemunho da mãe.
“No momento mais difícil, o que me sustentou foi a fé. E as pessoas ficavam impressionadas: como você fala de Deus desempregada? Porque Ele existe, gente. Consegui depois um emprego e foi em uma primeira sexta-feira do Sagrado Coração de Jesus”, conta a professora aposentada Izabel Maria Fernandes.
Religiões no Brasil
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O mapa do Brasil católico se desenha por toda a Região Sul e volta intensamente a partir de Minas Gerais, para ganhar as cores mais fortes no Nordeste. Ali fica o estado mais católico do Brasil: o Piauí. A faixa que desenha uma presença evangélica mais expressiva começa no Espírito Santo, passa por Rio de Janeiro e São Paulo, se consolida no Centro-Oeste e principalmente no Norte. O Acre é o estado mais evangélico do país.
“Essa presença recente e crescente na política, na cultura e em um debate público hiperfocado dos evangélicos levou muitos a supor que esse crescimento na última década seria vertiginoso. Mas o fato é que segue crescendo, e esse crescimento segue sendo significativo”, afirma Ana Carolina Evangelista.
Apesar das diferenças, o Censo mostra um país que se entende na fé, com frases que podem ser ditas e ouvidas por pessoas de todas as religiões.
“A gente é muito abençoado, porque mesmo nas situações difíceis, a gente consegue ver Deus agindo”, diz Dayana Oliveira.
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