
Espetáculos demoram mais de seis meses para ficarem prontos. Apresentações ocorrem durante ciclo junino, que começou com prévias em maio. Quadrilhas juninas de Pernambuco se apresentam no São João 2025
Uma quadrilha junina tem apenas 25 minutos para apresentar o espetáculo preparado durante meses. Para celebrar o São João, os quadrilheiros encaram com paixão e tradição o desafio de trazer para as quadras e arenas apresentações que mesclam dança, música e teatro (veja vídeo acima).
A cada ano, os grupos escolhem um tema diferente para encantar a plateia, atualizando clássicos e trazendo assuntos contemporâneos.
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“Somos cobrados pelo público para propor coisas inéditas. É muito difícil, porque já estamos nessa jornada há 30 anos. E, normalmente, as pessoas recebem com um pouco de receio temas fora do ciclo junino. Então, a gente tem que driblar e trazer novos olhares para alguns cenários”, revela Anderson Andrade, produtor e diretor da Origem Nordestina, quadrilha junina mais antiga em atividade em Pernambuco.
Discussões antigas ganham uma nova roupagem, com abordagem, cenários e enredos reformulados. Para Vandré Cechinel, um dos projetistas da quadrilha Raio de Sol, vencedora do Festival de Quadrilhas Juninas da Globo em 2024, a diversidade cultural ajuda na escolha dos temas.
“O que facilita é a riqueza da nossa cultura. A Raio de Sol sempre mergulha em alguns aspectos culturais de Pernambuco. Já trouxemos o cavalo marinho, a feira de Caruaru, a religiosidade, cangaço… Então, é infinita a possibilidade. Temos sempre um ou dois temas embaixo do braço e sentimos qual a melhor hora de colocar em cena. Inclusive, a gente já está pensando no tema de 2026″, disse.
Confira data e local do Festival de Quadrilhas Juninas da TV Globo 2025
Confira, abaixo, os enredos das quadrilhas juninas pernambucanas neste ano:
Origem Nordestina
Quadrilha Origem Nordestina apresenta espetáculo “Gonzaguiana” no São João 2025
Fábio Santos/Divulgação
O tema escolhido pela Origem Nordestina para esse ano é “Gonzaguiana”. O espetáculo, contado através das músicas do Rei do Baião, foi construído para homenagear o legado de Luiz Gonzaga, mas com uma abordagem feminista. Ao longo da apresentação, serão lembradas artistas de destaque do universo do forró, como Elba Ramalho e Lucy Alves.
O enredo gira em torno da personagem Ana, que sonha em tocar em uma banda de forró que só tem integrantes homens. Durante a apresentação da quadrilha, alguns pretendentes aparecem para Ana, mas ela escolhe se casar com Rosinha, a filha do coronel.
“Vamos fazer algo inédito no Brasil, porque nunca foi feito em uma quadra junina o casamento entre duas mulheres, duas noivas”, disse o idealizador do espetáculo e diretor da quadrilha Origem Nordestina, Anderson Andrade.
Ainda de acordo com Anderson, a escolha por um casamento inédito veio com alguns receios.
“A gente tem um pouco de medo, porque a gente sabe que esse é um tema que, para algumas pessoas, ainda é complicado de lidar. Mas, até então, temos tido boa recepção do público”, declarou.
Lumiar
Lumiar traz elementos da xilogravura para apresentação no São João 2025
Viana Santos/Divulgação
O tema de 2025 da quadrilha junina Lumiar é “O casório do curió”, que foi baseado no texto literário de Cadu Pereira e Alexandre Guimarães. A apresentação promete um casamento “matuto”, com uma estética característica e muito humor.
O cenário e personagens, tanto no figurino quanto na maquiagem, têm elementos da xilogravura. As cores em tons pastéis foram escolhidas por remeterem aos folhetos de cordel e a música é o tradicional forró pé de serra.
“A Lumiar tem um perfil que é muito característico dela. Nosso espetáculo tem um formato de musical. Então, os textos são musicalizados, a dança encenada, a dança teatralizada. Então, quando se junta todos esses elementos, o público assiste a um grande espetáculo. Na nossa estreia, muita gente ficou fascinada por assistir a uma quadrilha ‘raiz’”, contou Fábio Andrade, diretor geral do espetáculo.
Raio de Sol
Quadrilha Junina Raio de Sol faz releitura da Folia de Reis para celebrar São João
Raio de Sol/Divulgação
O espetáculo deste ano da quadrilha junina Raio de Sol encerra uma trilogia. “Ô de dentro, ô de fora – um reisado a São João” é o tema de 2025, que complementa as apresentações: “Andanças: louvação a São João”, realizada em 2017, e “No passo da estrada”, de 2023.
O enredo é uma adaptação da Folia de Reis. As apresentações tradicionais do reisado celebram o nascimento de Jesus Cristo. Já a releitura feita pela Raio de Sol festeja o nascimento de São João.
A diferença neste ano, quando comparada às apresentações de 2017 e 2023, é que o menino São João nasce no início da narrativa. “O espetáculo é para trazer essa boa nova, para entrar nas casas, nas ruas e dizer que Xangô menino, o dono da justiça e da verdade, está presente”, diz Vandré Cechinel, projetista da quadrilha junina Raio de Sol.
Dona Matuta
Ensaio da quadrilha junina Dona Matuta para o São João 2025
Dona Matuta/Divulgação
“Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome” foi o tema escolhido pela quadrilha junina Dona Matuta, e faz referência à música “Trem das Cores”, de Caetano Veloso. O enredo relembra a trajetória de personalidades brasileiras que lutaram contra a fome, como o sociólogo Betinho, a escritora Carolina Maria de Jesus e o arcebispo Dom Hélder Câmara.
A apresentação traz o personagem João, que representa o santo celebrado em junho, mas que também é o nome do filho da escritora brasileira que sofreu com a desigualdade social. Mas, por ser um santo de festejos, o enredo também se desdobra para uma celebração.
“O espetáculo é um protesto, mas sem esquecer a festividade. Então, a partir do meio da apresentação, se torna um espetáculo muito festivo e ele acaba com um momento onde essa fome é saciada. E a gente não está falando da fome só da comida. Falamos também de fome de amor”, revela George Araújo, um dos fundadores da quadrilha junina Dona Matuta.
Produção dos espetáculos
Coreografia sincronizada, figurinos suntuosos e enredo cativante transformam as apresentações de quadrilhas juninas em verdadeiros espetáculos. Mas, por trás de cada apresentação, há muito esforço e dedicação dos quadrilheiros. Muitas vezes sem apoio financeiro, recorrem a rifas para angariar fundos.
“São pessoas que conseguem fazer um espetáculo de muita qualidade, apesar das dificuldades financeiras que os nossos componentes enfrentam”, lembra Anderson Andrade, que há três anos é diretor da quadrilha Origem Nordestina.
Mesmo com anos de história e prêmios ao longo da carreira, quadrilhas juninas como a Origem Nordestina e a Raio de Sol compartilham o mesmo desafio. “O espetáculo não consegue ser realizado sem a doação de dezenas de componentes, a grande maioria voluntariamente. É um trabalho muito coletivo”, conta Vandré Cechinel, que se dedica à Raio de Sol a quase duas décadas.
*Estagiária sob supervisão do editor Pedro Alves.
Bastidores da produção da Quadrilha Junina Raio de Sol
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