
“Carla Zambelli deixa o Brasil” – a frase estampou as manchetes da grande imprensa na última terça-feira, 3. Nem parecia que estava se falando de uma deputada condenada a dez anos de cadeia fugindo do país. A tentativa de suavizar o episódio beira o ridículo. O fato inequívoco é que Zambelli é uma criminosa em fuga.
A deputada federal pelo PL de São Paulo, aliás, já tem um currículo razoável no mundo do crime. E não falo apenas dos crimes de colarinho branco, mas também daquele que ela cometeu com o revólver na mão. Não há como esquecer das cenas de filme de velho oeste protagonizadas às vésperas da eleição.
Protegida por seus capangas, Zambelli sacou um revólver no meio da rua e apontou para a cara de um cidadão que a provocou. A deputada foi condenada por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. Zambelli é uma pessoa perigosa para a sociedade e deve ser tratada como tal.
Desta vez, a bolsonarista foi condenada por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça, CNJ, e por falsidade ideológica. Segundo a Procuradoria-Geral da República, PGR, a deputada planejou e coordenou a invasão com o auxílio de um comparsa, o hacker Walter Delgatti, que já foi condenado e está na cadeia.
Com o objetivo de desmoralizar o Supremo Tribunal Federal, STF, ela invadiu o sistema para inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Bandidagem pura.
Zambelli pediu licença do mandato alegando que precisa de um tratamento médico fora do país. O seu marido, o coronel Aginaldo Oliveira, que é secretário de Segurança Pública em Caucaia, no Ceará, também pediu licença do cargo para cuidar de uma “doença na família”.

A criminosa alegou estar com depressão profunda e outras doenças associadas. Mas, assim que pisou em solo estrangeiro, a depressão passou. “Eu vim pra cá e comecei a perceber que meu tratamento é simplesmente deixar tudo fluir. Meu tratamento não é médico, não é medicamento. Eu acho que tem que começar por aqui, eu preciso destravar o que eu sinto. A pessoa que não pode falar o que pensa, fica doente e, aqui, eu vou conseguir ficar sã de novo”, disse a deputada, em vídeo, na maior cara de pau.
Depois de encontrar o caminho da cura da sua depressão, Zambelli anunciou que irá seguir o exemplo de Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado pelo PL de SP, e denunciará a “ditadura brasileira” em todas as cortes que ela puder na Europa. Ela “deixou” o Brasil com doenças sérias, mas foi completamente curada pelo ar europeu e agora atuará como uma super heroína do bolsonarismo pelo mundo.
Impressiona a forma destemida com que Zambelli fabrica as histórias mais ilógicas, inverossímeis e delirantes. A parlamentar é uma golpista em todos os sentidos da palavra. Mas o que não falta é otário na praça para sustentar sua malandragem.
Antes de empreender fuga, a criminosa organizou uma vaquinha virtual que lhe rendeu R$ 285 mil. Com os bolsos cheios, Zambelli e seu marido decidiram largar seus cargos públicos para fugir para a Europa e, de lá, atacar o estado brasileiro. Há que se admitir: Zambelli é uma profissional.
Ela também pediu emprestado para empresários bolsonaristas uma casa para ela e seu marido nos Estados Unidos. Toda a fuga foi planejada. Primeiro, a criminosa foi para a Argentina por via terrestre e, de lá, partiu para os EUA. Depois, foi para a Itália, já que tem passaporte europeu.
A deputada acredita haver alguma chance de conseguir se safar porque tem cidadania italiana. Spoiler: não vai. Não há a menor chance de não ser extraditada. Por mais que tente se vender como perseguida política, é fato indiscutível que a deputada foi condenada por um crime comum. Inclusive, já há um pedido de extradição feito por um deputado italiano junto ao governo do seu país.
Zambelli está cavando a sua própria cova. Esse papel de mártir do bolsonarismo que ela inventou para si pode lhe custar caro. A fuga do país fez com que ela se tornasse alvo de mais um inquérito no STF. A deputada foi incluída na lista vermelha da Interpol, o que significa que o seu nome será divulgado para todas as principais polícias do mundo como uma criminosa procurada pela justiça.
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Além disso, ela teve seus passaportes bloqueados, assim como suas contas bancárias, investimentos, veículos, imóveis e redes sociais. O STF também dificultou seus ataques golpistas contra o judiciário impondo uma multa diária de R$ 50 mil caso publique, direta ou indiretamente, conteúdos que reiterem condutas criminosas.
Politicamente, Zambelli está completamente sozinha. É odiada por Jair Bolsonaro — mesmo depois de anos de intensa puxação de saco — e rejeitada pelo seu próprio partido. Absolutamente ninguém da extrema direita apareceu publicamente para defender de maneira fervorosa a aliada, como foi feito com o fujão Eduardo Bolsonaro. Todas as tímidas manifestações de aliados foram no sentido de atacar o STF.
Zambelli é hoje persona non grata dentro do PL. Na verdade, muitos correligionários estão torcendo para que ela perca o mandato e seja substituída pelo seu suplente, o Coronel Tadeu, do PL de São Paulo. Trocar uma mulher que só traz dor de cabeça por um coronel 100% bolsonarista é tudo o que o partido quer.
Como se já não bastasse o tanto de rolo que Jair Bolsonaro tem com a justiça, agora Zambelli trouxe-lhe mais um. Na última quinta-feira, 5, o ex-presidente prestou depoimento na Polícia Federal sobre a trama que seu filho está promovendo nos EUA para sancionar autoridades brasileiras. Os investigadores aproveitaram para fazer perguntas sobre sua aliada foragida, mas Bolsonaro não respondeu.
Ao sair, o ex-presidente disse aos jornalistas: “Não tenho nada a ver com Carla Zambelli. Não botei dinheiro no pix dela. Estou acompanhando o caso Carla Zambelli pela imprensa”. Mais uma vez, o capitão largou uma de suas aliadas mais bajuladoras ferida na estrada. Pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão.
Apesar de ter virado pária dentro do bolsonarismo, o fato é que Zambelli está honrando a tradição bolsonarista e deveria ser exaltada. Quase todos os que estavam na fila para a cadeia também fugiram e incorporaram o personagem de vítimas de um regime de exceção.
Zambelli seguiu o script, mas recebeu um tratamento diferente. O fato de ser mulher e ser rejeitada pelo capitão certamente são determinantes para o seu isolamento. Aos democratas, só nos resta que a justiça seja feita rapidamente e que o showzinho da criminosa no exterior seja interrompido o mais rápido possível. A cadeia lhe espera, Zambelli.
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