Uma troca planejada de prisioneiros de guerra russos e ucranianos não aconteceu neste sábado (7), após Moscou acusar Kiev de adiar a troca de última hora — algo que autoridades ucranianas rejeitaram como “jogos sujos” do Kremlin.
A Rússia afirmou que a Ucrânia adiou inesperadamente uma transferência que envolvia prisioneiros de guerra e os corpos de soldados mortos, deixando mais de 1.200 corpos ucranianos congelados esperando em caminhões frigoríficos no ponto de troca, sem que ninguém viesse recolhê-los.
A Ucrânia contestou a versão russa dos acontecimentos, dizendo que as duas partes haviam concordado em trocar soldados gravemente feridos e recrutas jovens neste sábado, mas que uma data ainda não havia sido definida para a repatriação dos corpos dos soldados.
Durante uma segunda rodada de negociações de paz diretas em Istambul, na segunda-feira, Rússia e Ucrânia concordaram em realizar uma nova troca de prisioneiros neste fim de semana. Vladimir Medinsky, chefe da delegação russa nas negociações de paz com a Ucrânia, afirmou esta semana que essa troca seria a maior desde o início da guerra, há três anos.
“Em estrita conformidade com os acordos de Istambul, o lado russo iniciou uma operação humanitária para transferir mais de 6.000 corpos de militares ucranianos mortos”, além de soldados gravemente feridos com menos de 25 anos, disse Medinsky na tarde de sábado, em publicação no Telegram.
Ele afirmou que 1.212 corpos de soldados ucranianos mortos estavam no ponto de troca, e que os demais “estavam a caminho”. Também disse que a Rússia entregou à Ucrânia a primeira lista com 640 prisioneiros de guerra para troca, descritos como “feridos, gravemente doentes e jovens”, com o objetivo de iniciar a operação.
Em um vídeo publicado pelo Ministério da Defesa da Rússia no Telegram, dois homens usando trajes de proteção aparecem abrindo as portas traseiras de um caminhão estacionado à beira de uma estrada. Dentro do veículo, havia dezenas de sacos brancos selados, que, segundo o ministério, continham os corpos de soldados ucranianos.
Medinsky afirmou que o grupo de contato do Ministério da Defesa russo estava esperando na fronteira com a Ucrânia, mas alegou que Kiev “adiou inesperadamente a transferência dos corpos e a troca de prisioneiros de guerra por tempo indeterminado” e teria apresentado “motivos bastante estranhos” para isso.
A Ucrânia rejeitou rapidamente as acusações, afirmando que as declarações de Medinsky “não correspondem à realidade”. Segundo Kiev, a troca de prisioneiros de guerra e a repatriação dos corpos de soldados são processos distintos.
“Infelizmente, em vez de um diálogo construtivo, estamos novamente diante de manipulações e tentativas de usar questões humanitárias sensíveis para fins de propaganda”, escreveu o Quartel-General de Coordenação para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra da Ucrânia, em publicação no Telegram.
“Pedimos ao lado russo que pare de jogar sujo”, acrescentou.
O Ministério da Defesa da Ucrânia acusou a Rússia de criar “obstáculos artificiais” e fazer “declarações falsas” para atrapalhar a troca de prisioneiros vivos, violando o que havia sido acordado nas negociações em Istambul.
“O lado ucraniano enfrentou mais uma tentativa de descumprimento dos acordos após o fato consumado”, declarou o ministério.
Apesar de as trocas de prisioneiros de guerra terem sido um dos raros pontos de consenso entre os dois países em guerra, o fracasso da troca prevista para sábado evidencia a falta de confiança que tem prejudicado as negociações de paz até agora.
O impasse ocorreu logo após a Rússia lançar mais um ataque aéreo contra a Ucrânia, matando três pessoas na cidade de Kharkiv.