O governo Trump está acelerando o processo de declínio relativo dos Estados Unidos na ordem internacional, segundo análise do professor Feliciano de Sá Guimarães, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).
Guimarães, com quase 30 anos de experiência em relações internacionais, traça um panorama histórico das teorias sobre o declínio americano. Ele menciona clássicos da literatura dos anos 1980 que previam a queda do “Império Americano”, no entanto, essas previsões não se concretizaram imediatamente.
Após o governo de Ronald Reagan e a queda da União Soviética, os Estados Unidos experimentaram o chamado “momento unipolar”, que durou aproximadamente de 1989 a meados de 2018. Nesse período, a hegemonia americana era inquestionável. Contudo, o professor alerta que a unipolaridade pode ser perigosa, pois permite que guerras sejam conduzidas de acordo com os interesses da potência dominante.
Atualmente o cenário global é mais complexo. Guimarães aponta que há um debate acadêmico e político sobre o atual momento: “estaríamos no fim da era unipolar, em um sistema bipolar com a ascensão da China, ou em um sistema multipolar com várias potências em disputa?”, questiona.
A “Armadilha de Tucídides” e o risco de conflito
O professor destaca a obra “Destined for War” [“Destinados à guerra” em tradução livre] de Graham Allison, que introduz o conceito da “Armadilha de Tucídides”. Este fenômeno ocorre quando uma potência dominante é desafiada por um poder emergente, frequentemente resultando em conflito. Allison estudou 16 transições hegemônicas na história, das quais 12 culminaram em guerra.
Seguindo essa lógica, Guimarães alerta que, se a análise de Allison estiver correta, haveria uma probabilidade de 80% de uma guerra direta entre Estados Unidos e China. No entanto, ele questiona se essa visão bipolar do mundo é realmente dominante, mencionando a existência de modelos multipolares da ordem internacional como alternativas a serem consideradas.
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