Patrimônio Natural da Humanidade: entenda como se formam as dunas e as lagoas nos Lençóis Maranhenses


O parque, que é o maior campo de dunas da América do Sul, com uma área de 1.500 quilômetros quadrados, é composto por rios, dunas, manguezais, vegetação, além de lagoas temporárias e permanentes. Dois terços do Parque dos Lençóis Maranhenses são cobertos por dunas de areia livre.
Reprodução
Os Lençóis Maranhenses encantam o mundo pela imensidão de dunas ao longo de 155 mil hectares. Localizado no Nordeste do estado do Maranhão, a cerca de 250 km da capital São Luís, a extensão dos lençóis abrange três municípios: Santo Amaro do Maranhão, Barreirinhas e Paulino Neves.
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O parque, que é o maior campo de dunas da América do Sul, com uma área de 1.500 quilômetros quadrados, é composto por rios, dunas, manguezais, vegetação, além de lagoas temporárias e permanentes.
Mas o que chama muito atenção são os dois terços do parque, que são cobertos por dunas de areia livre, sendo que o nome desse paraíso natural vem justamente da aparência dessas dunas, que vistas do alto, parecem lençóis amassados, gerando um espetáculo da natureza que atrai a curiosidade de moradores da região, visitantes e pesquisadores.
Para entender como se forma esse paraíso, que agora é Patrimônio Natural de Humanidade, o g1 foi atrás de estudos sobre os lençóis, destacando como se formam a dunas e os lagos.
Nessa reportagem você confere:
Há quanto tempo existe a formação de dunas na região do Parque?
Como se formam as dunas?
Por que as dunas têm o formato de meia lua?
O que são as dunas bebês?
O que são dunas ativas e inativas?
O que é a dança das dunas?
Como a formação das dunas interfere na vida da população local?
Como se formam as lagoas?
As lagoas secam?
Há risco das dunas desaparecerem?
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Há quanto tempo existe a formação de dunas na região do Parque?
Segundo o professor Denilson da Silva Bezerra, do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Doutor em Ciência do Sistema terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que possui uma pesquisa sobre a formação de dunas na região do parque, o treinamento remoto e modelagem computacional que ele desenvolveu sobre as dunas, indicam que essa formação deva existir há, pelo menos, 10 mil anos ou mais.
Como se formam as dunas?
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
TV Mirante
No Parque dos Lençóis Maranhenses aparecem dunas com 10 a 20 metros de altura, ligadas umas às outras em uma espécie de cadeia, por cerca de 75 quilômetros de extensão. O formato e a quantidade de dunas intercaladas nos Lençóis Maranhenses, misturadas com as lagoas temporárias de água doce, são resultado do “trabalho” natural da areia, do vento, da vegetação e da água da chuva.
Uma pesquisa publicada em 2012 na revista Geomorphology, por um grupo de físicos do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, Suíça, e da Universidade Federal do Ceará, apontou que os Lençóis Maranhenses existem por causa da coincidência entre o nível do lençol freático e a intensidade com que o vento, que vem do mar, faz as dunas crescerem e se movimentarem.
Segundos estudos feitos na região, a dinâmica de vento e o material particular da areia dos lençóis, que é uma areia muito fina, possibilita a formação dessas dunas.
Em entrevista ao g1, o oceanógrafo Denilson Bezerra explicou que as dunas se formam por causa da combinação do vento, com as chuvas e o lençol freático.
“As dunas se formam basicamente pela combinação da dinâmica de ventos do local, precipitação (chuva) e também o lençol freático. A chuva bate na areia, infiltra e enche o lençol freático. Então, essas três condições: precipitação, lençol freático e dinâmica de ventos, condicionam a formação de dunas de uma forma constante lá, bem dinâmica, no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses”, destaca o pesquisador.
E esse lindo cenário natural vem se modificando de forma contínua ao longo de milhares de anos, pois, dependendo da dinâmica dos ventos, aliada ao nível das chuvas, a movimentação da areia muda, fazendo com que a posição das dunas se modifique constantemente.
Por que as dunas têm o formato de meia lua?
Parte dos ‘Lençóis Maranhenses’ está localizado em Barreirinhas
Divulgação/George Steinmetz/O Estado
Como a areia das dunas é muito fina, ela é facilmente levada pelo vento e vai se acumulando na área, sendo moldada pelos lagos e pela velocidade e direção dos ventos, que contribuem para que as dunas fiquem em formato de meia-lua.
“Esse formato meia lua é, basicamente, pela dinâmica dos ventos, que sempre sopram no sentido leste, a 70 km por hora, em média. Então, com a velocidade do vento, as dunas vão se formando assim, como se fossem alongadas, como se fosse uma lua, alongadas e um pouquinho tortas, nesse formato de lua.
De acordo com o artigo publicado na revista Geomorphology, o formato meia lua das dunas é chamado de barcanas, que se formam por causa de um fenômeno chamado de saltação. Os pesquisadores apontaram que quando o vento sopra forte, levanta grãos de areia do chão que, ao caírem de volta, se juntam com outros grãos e vão saltando cada vez mais, até formar uma nuvem de areia.
Como o vento sopra sempre em uma mesma direção, as dunas assumem uma forma de meia lua, orientadas na direção do vento. Desse modo, as barcanas crescem e se movimentam empurradas pelo vento.
O que são as dunas bebês?
O termo “duna bebê” surgiu em 2003, quando o grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e de universidades parceiras fora do país passaram seis dias nos Lençóis medindo as dunas. Durante a pesquisa, eles registraram o quanto de areia o vento é capaz de transportar, sendo possível ver o “nascimento” das dunas. Eles registraram dunas “recém-nascidas”, que tinham 50 centímetros de altura e receberam o nome de dunas “bebês”.
“Lá (nos Lençóis) pode ter a ocorrência de dunas bebês, dunas bem no começo de formação, com 50 centímetros, até dunas mais desenvolvidas, que possuem acima de 20 metros de altura”, explicou o professor Bezerra.
O que são dunas ativas e inativas?
Exuberância dos Lençóis Maranhenses encanta visitantes da Rota das Emoções.
Acervo Embratur/Sebrae
As dunas inativas são aquelas que ficam fixas, por causa da vegetação da restinga. Já as dunas ativas são aquelas que ficam distante da vegetação e estão em constante mudança de local e formato, por causa dos ventos e da chuva.
O que é a dança das dunas?
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
TV Mirante
Por causa da intensidade dos ventos na região, as dunas podem mudar de local em poucos meses, principalmente na estação seca do ano, que é entre os meses de julho e dezembro. Isso acontece porque, nesse período, os ventos são mais fortes e o nível de água acumulada nas lagoas diminui, fazendo com que os montes de areia se tornem ainda mais movediços.
“Nos primeiros seis meses do ano, que chove mais, venta menos, o lençol freático está mais intenso, então as dunas podem estar em um local. No segundo semestre, que chove bem menos aqui no Maranhão, os ventos são mais intensos. Então, aquelas dunas que estavam no local podem ser deslocadas para outros locais. É como se fosse uma alternância de posições, fossem peças em um tabuleiro se movendo”, explicou Bezerra.
O oceanógrafo ressalta que essa mudança das dunas ao longo dos meses é que se chama de dança das dunas.
“O termo dança das dunas diz respeito à dinâmica, à complexa dinâmica de alternância das dunas. Então, as dunas se formam, só que não são estruturas fixas. Daqui a pouco, aquela linha que está naquela duna já vai formar uma outra duna, que depois vai se formar em outra duna, então há um deslocamento das dunas”, destaca o pesquisador.
Como a formação das dunas interfere na vida da população local?
Repórter Mirante cruza os Lençóis Maranhenses em uma jornada incrível e desafiadora
Reprodução/TV Mirante
Segundo o professor Bezerra, as pesquisas feitas por ele identificaram que a dinâmica de formação e deslocamento de dunas no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses pode afetar os moradores do local de uma forma bem significativa, pois a areia pode avançar sobre as localidades, chegando até a moradia das pessoas. E essa interferência pode acontecer de forma mais intensa por causa das mudanças climáticas.
“Às vezes as pessoas têm que, literalmente, se deslocar do seu local de moradia para outro lugar, uma outra posição. E também pode afetar alguns pontos de pesca, de caça ou de lazer mesmo, pois a areia pode avançar literalmente sobre essas áreas, ainda mais com o risco de mudanças climáticas, que podem intensificar a ação dos ventos, das chuvas, tempestades e pode, no futuro, se tornar ainda mais intenso”, pontuou.
Como se formam as lagoas?
Pôr do sol em duna dos Lençóis Maranhenses na cidade de Barreirinhas (MA)
Felipe Cordeiro/g1
Nos Lençóis chove muito, chegando a 2 mil milímetros de água da chuva anualmente. Mais de 90% dessa chuva, que se concentra entre os meses de janeiro e julho, é absorvida rapidamente pela areia, elevando o lençol freático acima do chão e enchendo as lagoas temporárias, que ficam entre as dunas. E, nesse período de chuvas, as dunas quase não se mexem, por causa da umidade e da falta de vento. Durante o tempo chuvoso, as lagoas chegam a ter mais ou menos um metro de profundidade.
As lagoas secam?
Lençóis Maranhenses, em Barreirinhas
Celso Tavares/G1
No fim do segundo semestre, quando os ventos predominam e cessam as chuvas, algumas lagoas reduzem a quantidade de água e outras secam completamente. No entanto, vale destacar que em todas as épocas do ano há lagoas nos lençóis, a diferença é que, no primeiro semestre elas estão mais cheias e no segundo semestre estão com menos água.
E é nesse período de pouca água e muitos ventos que as dunas crescem mais e se movimentam.
Há risco das dunas desaparecerem?
Os pesquisadores apontam que o risco de ter um desaparecimento total das dunas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é pouco provável, mas é preciso se atentar a outros pontos que podem alterar a formação de dunas e provocar um grande prejuízo ambiental e social.
Um desses fatores que podem ser um risco para a proteção ambiental do local, segundo o professor Bezerra, é a instalação de parques eólicos de forma não planejada, que não tenha um estudo ambiental bem feito. Isso pode alterar a dinâmica de atuação de vento no Parque, com isso, consequentemente, alterar a dinâmica de formação e de permanência das dunas. Outro fator de extrema importância é questão das mudanças climáticas.
“As próprias mudanças climáticas, que são induzidas pela atividade humana também podem alterar as condições oceanográficas local, condições de dinâmica de vento local e, consequentemente, a dinâmica de transporte eólico da areia, que forma as dunas. As mudanças climáticas também podem alterar a dinâmica de precipitação no local. Com isso, pode sim ter um prejuízo nessa sofisticada dinâmica de formação de dunas no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Por isso é preciso ter mais estudos e pesquisas pra gente entender melhor isso. Ainda mais agora, que o Parque é um patrimônio natural da humanidade, aumenta mais a responsabilidade, sobretudo do governo do estado Maranhão e das universidades maranhenses, bem como da sociedade maranhense de modo geral”, destacou.
Patrimônio Natural da Humanidade
Unesco declara Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses Patrimônio Natural da Humanidade
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses se tornou, oficialmente, Patrimônio Natural da Humanidade nessa sexta-feira (26). A declaração foi feita pela Organização das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em cerimônia de avaliação realizada em Nova Déli, na Índia.
Veja o momento em que os Lençóis Maranhenses são declarados Patrimônio Natural da Humanidade; VÍDEO
Momento em que os Lençóis Maranhenses são declarados Patrimônio Natural da Humanidade
Com uma área de 155 mil hectares, os Lençóis estão inseridos em uma zona de transição dos biomas do Cerrado, da Caatinga e da Amazônia. O local é considerado um dos mais bonitos do mundo, com areia branca e lagos de águas pluviais.
O selo da UNESCO foi dado porque os Lençóis Maranhenses cumpriram todos os requisitos ao título, que valoriza a importância ambiental dos lugares e a necessidade da sua preservação.
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Dentre os critérios avaliados que levaram a unidade de conservação a conquistar o reconhecimento estão sua beleza excepcional e o fato de ser um fenômeno natural único no mundo.
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