Pescador captura seis pirarucus de uma só vez no interior de SP; peixes chegam a pesar até 32 quilos


A captura dos pirarucus, nativos da Bacia Amazônica, foi feita em Mira Estrela (SP). Um dos maiores peixes de água doce do mundo tem sido encontrado com frequência na região noroeste paulista. Ederson Ozório capturou seis pirarucus no Rio Grande em Mira Estrela (SP)
Arquivo Pessoal
Um pescador capturou seis peixes da espécie pirarucu em Mira Estrela (SP), no último sábado (3). Os animais aquáticos chegaram a pesar até 32 quilos. Nativos da Bacia Amazônica, os peixes são considerados a maior espécie de água doce do mundo.
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A captura foi feita pelo técnico de enfermagem, Ederson Ozório de 43 anos, morador de Fernandópolis (SP). Ele aproveita os dias de descanso para desbravar as águas da região noroeste paulista.
Naquele dia foi até o rancho do irmão, que fica localizado em frente a uma prainha frequentada por banhistas, e decidiu iniciar a pescaria nas águas do Rio Grande.
Ederson só não imaginava tamanha surpresa. De uma só vez, em poucas horas, conseguiu capturar seis pirarucus. Uma das experiências mais emocionantes para a vida dele, que tinha apenas a pretensão de passar alguns momentos de lazer e descontração na companhia da namorada:
“Foi emocionante e maravilhoso. A pesca foi muito satisfatória”, lembra.
Ederson Ozório capturou seis pirarucus no Rio Grande em Mira Estrela (SP)
Arquivo Pessoal
Os peixes chegaram a medir entre 1,10 e 1,30 metro de comprimento. O peso variou entre 22 e 32 quilos. Após a pescaria, o técnico de enfermagem aproveitou para vender alguns dos exemplares e os outros ele utilizou para consumo próprio.
“É um peixe maravilhoso, perfeito para assar. Dá para fazer sashimi, ceviche e “Shark” com batata”, conta Ederson.
Como todo bom amante de água doce, Ozório habitualmente vai à barragem da usina hidrelétrica localizada entre os estados de São Paulo e Minas Gerais para fazer a pesca esportiva e profissional.
Ederson Ozório capturou seis pirarucus no Rio Grande em Mira Estrela (SP)
Arquivo Pessoal
Além de atuar na área da saúde, Ozório ainda trabalha como apicultor. Ele também é mergulhador profissional, com certificação dos órgãos ambientais.
As fotos dos peixes foram publicadas nas redes sociais e rapidamente ganharam destaque e muita repercussão. O porte e a beleza dos pirarucus atraíram olhares de muitos internautas.
Para Ederson, além de ser uma experiência inesquecível, tornou-se a motivação para fazer novas descobertas, desbravar outras regiões e capturar peixes ainda maiores. Além da curiosidade de entender mais da espécie e descobrir a forma como ela veio parar nos rios da região.
Peixe exótico
Dizer que fisgou um pirarucu nos rios do interior de São Paulo deixou de ser história de pescador há cerca de dez anos, quando começaram a surgir as primeiras capturas.
A forma como a espécie foi inserida em um habitat exótico ainda é um mistério para as autoridades ambientais. O que se sabe é que ela se adaptou muito bem às condições climáticas e encontrou maneiras para se alimentar e se reproduzir no Rio Grande.
Em entrevista ao g1, Cassius José de Oliveira, major da Polícia Ambiental, explica que há rumores sobre a introdução irregular da espécie na região, mas, até o momento, não houve uma comprovação:
“Existem especulações acerca de que algum criador possa ter contribuído para o acesso dessa espécie ao manancial do Rio Grande. Não temos essa informação de maneira precisa”, explica.
Pirarucu espécie nativa da Bacia Amazônica
Arquivo Pessoal
Ainda segundo ele, existem outras espécies que não fazem parte da bacia hidrográfica da região e que também são encontradas com facilidade na região, como, por exemplo, o tucunaré (Cichla ocellaris) e o porquinho (Cavia porcellus).
Somente os estudos científicos serão capazes de abordar os efeitos, a longo prazo, da presença do pirarucu no interior de São Paulo.
“Quanto a eventual risco, é muito prematuro fazer tal afirmação sem que haja um estudo científico adequado, bem como não se pode prematuramente dizer que a presença dessa espécie de peixe no manancial trate-se de um problema, até porque existem outras espécies de peixes convivendo com espécies naturais na bacia hidrográfica sem que causem desequilíbrio ecológico”, finaliza.
Conhecido por ser um dos maiores peixes de água doce do mundo, o pirarucu – Arapaima gigas -, popularmente chamado de “bacalhau do Norte”, pode ultrapassar os três metros de comprimento e pesar até 220 quilos.
Comum na Bacia Amazônica, o pirarucu é uma espécie muito antiga. Ele já estava no planeta bem antes do surgimento dos primeiros seres humanos e chegou a conviver com os dinossauros, há 200 milhões de anos.
Também é conhecido como “gigante pré-histórico” e precisa ir até a superfície da água para respirar. Alimenta-se de invertebrados aquáticos, como insetos, moluscos e crustáceos.
Precaução e cuidado
Para Thiago Maia Davanso, biólogo e doutor em zoologia, a presença da espécie na região noroeste representa riscos à saúde de outros animais aquáticos.
“Sua introdução e proliferação em ecossistemas fora de sua área nativa pode resultar em um risco para as demais espécies, podendo levar algumas à extinção local”, explica Davanso.
Por ser um peixe de qualidade e alto valor comercial, muitos piscicultores investiram na criação da espécie. A grande quantidade de carne representa lucro, mas a captura excessiva do pirarucu também pode representar ameaça à sua extinção em seu local de origem.
Thiago Maia Davanso, biólogo e doutor em zoologia em São José do Rio Preto (SP)
Arquivo Pessoal
Retirá-lo dos rios da região não é uma tarefa fácil e exige empenho e esforço das autoridades e da população.
“Eliminar uma espécie invasora, como o pirarucu, é uma tarefa complexa, principalmente pelo seu tamanho e características reprodutivas. É essencial trabalhar em colaboração com biólogos, ecologistas e demais gestores de recursos hídricos para desenvolver e implementar um plano de manejo adequado. Para tal, o monitoramento e pesquisa são fundamentais”, finaliza Davanso.
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