Por que a receita para sobreviver é fazer parte de um grupo


Criador da expressão “capital social”, Robert Putnam ganha um documentário sobre suas teorias Robert Putnam, cientista político e professor emérito de Harvard, é o autor de “Bowling alone” (“Jogando boliche sozinho”), obra que trazia um alerta: os Estados Unidos estavam se tornando uma nação de solitários. As pessoas passaram a descuidar de sua vida social – deixando de participar de agremiações e ir a igrejas – o que resultava em menos conexões e aumentava a desconfiança em relação aos outros. Aos 83 anos, assistiu à deterioração dos laços sociais e à escalada da polarização política, ou seja, viu sua profecia se materializar, como afirmou em entrevista recente ao jornal “The New York Times”:
O cientista social Robert Putnam, autor de “Join or die”: “o isolamento social provoca uma série de coisas ruins”
Divulgação
“Durante anos, ouvi que parecia um profeta do Velho Testamento com gráficos, mas agora posso dizer que previ o que aconteceria – e de maneira mais intensa e profunda. O isolamento social provoca uma série de coisas ruins. Além de fazer mal para a saúde, é péssimo para o país, porque pessoas isoladas, e principalmente homens jovens isolados, são vulneráveis aos apelos de falsas comunidades. O partido nazista começou recrutando jovens solitários, e não é uma surpresa que os grupos ultranacionalistas venham atraindo jovens brancos”.
Putnam é o criador do conceito de capital social, que traduz a importância de estabelecermos laços com outros indivíduos. Na sua teoria, faz distinção entre o “bonding capital”, os fortes vínculos existentes com família e amigos próximos, e o “bridging capital”, que são as ligações construídas com aqueles com os quais não nos identificamos com a mesma intensidade: “na sociedade contemporânea onde impera a diversidade, precisamos erguer pontes de capital social de boa qualidade. Esse é o principal desafio que enfrentamos”, analisa.
Seu mais recente livro, “The upswing” (algo como “A escalada”), escrito com Shaylyn Romney Garrett, analisa as tendências de longo prazo em termos de conexão e solidão nos últimos 125 anos. “No início do século XX, estávamos isolados e desconfiados, atravessando uma era de enorme desigualdade; em 1965, atingimos o pico do capital social, um período em que havia maior igualdade econômica nos EUA do que na Suécia. Agora temos um país polarizado novamente, como se tivéssemos voltado no tempo, mas podemos mudar isso”.
Acaba de entrar no circuito comercial americano o documentário “Join or die”, dirigido por Rebecca Davis e Pete Davis, sobre seu trabalho. No filme, entre depoimentos de pessoas famosas como Hillary Clinton, Putnam ensina que o primeiro passo para fortalecer a democracia é fazer parte de um clube ou agremiação: “somente criando conexões expandimos nossa experiência, aprendemos a cuidar dos outros e a confiar que eles cuidarão de nós”.
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