Conhecida como ‘terra rasgada’, Sorocaba completa 370 anos e carrega peculiaridades em suas regiões; conheça cada uma delas


Sorocaba, do tupi-guarani terra (“aba”) fendida ou rasgata (çoro), completa 370 anos nesta quinta-feira (15). Para celebrar essa data, o g1 preparou uma reportagem especial para contar histórias e peculiariadades de cada região da cidade. Há quem pense que 370 anos é muito tempo. E, de fato, Sorocaba (SP) já passou por bons bocados e tem uma história digna de cinema. Suas regiões concentram peculiaridades, muita história e tradição. Mas a “terra rasgada” também se desenvolve a cada dia, mostrando que a idade é apenas um número.
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Sorocaba, que no tupi-guarani significa terra (“aba”) fendida ou rasgata (çoro), segundo a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), recebeu este nome de seu fundador, Baltazar Fernandes, que em 1654 construiu a Igreja de Nossa Senhora da Ponte, atual igreja de São Bento, e sua casa de moradia no lajeado.
Em comemoração ao aniversário de Sorocaba, o g1 preparou uma série de reportagens que trazem a essência sorocabana. Neste texto, você vai conhecer as características das zonas que compõem o município.
Centro
Zona leste
Zona oeste
Zona norte
Zona sul
Centro
Rua Boulevard Braguinha, conhecida rua de comércio popular, no Centro de Sorocaba (SP)
Eduardo Ribeiro Jr./g1
A região central de Sorocaba é palco do início da história da cidade. Segundo a prefeitura, o denominado Centro considera o perímetro formado pelas avenidas Dom Aguirre, Dr. Afonso Vergueiro, Eugênio Salerno, Moreira César e Presidente Juscelino Kubistchek de Oliveira. É a partir dele que a prefeitura delimita as divisões da cidade.
Até o fim dos anos 2000, quem morava em bairros da zona leste, oeste, norte ou sul ia com mais frequência à região central. Era lá que se concentrava a maioria dos comércios, serviços e agências bancárias.
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“Eu morava em Votorantim, mas sempre ia para Sorocaba com a minha mãe para fazer compras no centro, onde tinha mais opções de lojas. Como era criança, enxergava aquilo como um passeio, um dia divertido em família'”, relembra Evelin Honorato.
O historiador Carlos Carvalho Cavalheiro explica que a região central era um caminho de passagem até a estrada que levava à capital paulista que, atualmente, é a Avenida São Paulo, na zona leste. A movimentação intensa de pessoas por este caminho contribuiu para que o centro se tornasse um polo comercial.
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No entanto, segundo o historiador, a tendência de ir ao Centro para fazer compras ou acessar alguns serviços já passou por mudanças e deve mudar ainda mais no futuro: “Por exemplo, hoje é mais prático e comum a realização de compras pela internet. Essa ação tende a ser sentida pelo comércio do centro em algum momento”.
Carlos ressalta que as demais regiões da cidade cresceram e estão aparelhadas com todos os tipos de serviços e comércio, o que torna o deslocamento até o centro menos necessário. “Aquele conceito de Centro, o ‘ir à cidade’, como falávamos há algum tempo, deixou de existir.”
Historiador Carlos Carvalho Cavalheiros em atividade que relata a história de Sorocaba (SP)
Divulgação
Ainda que Sorocaba tenha passado por mudanças significativas ao longos dos seus 370 anos, o historiador afirma que a importância da região central para o contexto histórico da cidade é eterna.
“É lá que se realiza o grande intercâmbio cultural que reforça a identidade do sorocabano. É lá que temos a maior concentração de lugares de memória, palco onde a história se desenrolou. A região central é responsável pelo pulsar da vida de Sorocaba”, completa Cavalheiro.
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‘Tudo a mão’
Sandra Ribeiro, 50 anos, mora há 3 anos em um apartamento na rua José Bonifácio, via sem saída. A rua fica no conglomerado comercial entre as ruas Monsenhor João Soares e Barão do Rio Branco.
“A saída dela é para o calçadão da Rua Barão do Rio Branco. Em termos de praticidade, é um ótimo lugar para viver. Tenho supermercado, farmácias, o mercadão municipal, os terminais de ônibus. Tudo a mão.”
Para Sandra, o Poder Público deveria tornar a região central em um centro histórico, preservado para lazer a cultura: “Nem carros deveriam circular aqui. Deixar esse espaço para pedestres, moradores, comerciantes”, recomenda.
Sandra mora em um apartamento de frente para comércios da região central de Sorocaba (SP)
Sandra Ribeiro
Zona leste
Vista de Sorocaba a partir de um prédio perto da avenida São Paulo (próximo à igreja Santo Antônio)
José Neto/Arquivo Pessoal
A zona leste é conhecida como o “berço dos imigrantes”, além de ser um polo esportivo e cultural. Segundo a prefeitura, são duas divisas:
Sudeste: A partir do centro, segue pela Avenida Cel. Nogueira Padilha até a Estrada José Celeste, indo até a divisa com Votorantim (SP);
Nordeste: A partir do centro, segue pela Av. Dom Aguirre até encontrar a Rodovia José Ermírio de Moraes e segue por esta até o limite com Itu (SP).
Embora seja marcante a presença da cultura espanhola na zona leste, a história ensina, segundo o historiador e jornalista Sergio Coelho, que o Além Ponte foi a periferia dos emigrantes. No final do século XIX, o chamado “eixo da rua dos Morros” era a periferia da cidade, com campos, matas, plantações de cebola, de batata e de laranja.
Zoológico de Sorocaba é uma das opções de lazer de Sorocaba
Prefeitura de Sorocaba/Divulgação
“[Era] propriedade de duas ou três famílias bastardas da época, os Prestes, os Monteiro, os Lopes, e por isso mesmo, terras baratas, ocupadas, por compra ou aluguel, pelos emigrantes que estavam chegando na cidade – portugueses, italianos, espanhóis”, explica.
Segundo Coelho, a região tem um perfil esportivo marcante, pelo menos de caráter histórico. Na antiga rua dos Morros, por exemplo, encontra-se o velho campo do Esporte Clube São Bento, que foi palco de diversas partidas de futebol que trouxeram para Sorocaba grandes nomes do futebol nacional e mundial, como o rei Pelé.
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A região conta, também, com atrações turísticas, gastronômicas e culturais, como o Parque Chico Mendes, o Zoológico Municipal Quinzinho de Barros e o Paço Municipal. Além disso, há também a Avenida São Paulo, uma das principais da cidade, pois atravessa boa parte da zona leste, desde a rodovia Raposo Tavares e até a região Central.
‘Crescer junto com a região’
Cristiane Trevizan, de 41 anos, é moradora do bairro Jardim do Sol há 16 anos, mas viveu a vida toda na zona leste e aproveita a região “perto de tudo” para realizar atividades do dia a dia e ter momentos de lazer.
Cristiane mora com a família na zona leste de Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
“Nasci e cresci junto [com a região] e tenho um carinho muito grande por esse lado. Eu sempre falava ‘não quero ir pro outro lado, quero ficar aqui perto da família’. A gente se acostuma, eu gosto muito daqui”, declara.
Zona oeste
A zona oeste de Sorocaba, que é considerada a segunda maior da cidade e engloba XX bairros, é um importante polo para o município em diversos âmbitos, como histórico, gastronômico e econômico.
Avenida General Carneiro, em Sorocaba (SP)
Guilherme de Moraes/Arquivo Pessoal
Entre suas principais vias, estão as avenidas General Carneiro, Armando Pannunzio, Américo Figueiredo e Elias Maluf. De acordo com a prefeitura, as divisas da região são delimitadas da seguinte forma:
Nordeste: a partir do Centro, segue pela Rua Hermelino Matarazzo até o final da Avenida Ipanema, terminando na divisa com Iperó (SP);
Sudoeste: a partir do Centro, segue pela Avenida General Carneiro até a Avenida Doutor Luiz Mendes de Almeida, terminando na divisa com Salto de Pirapora (SP).
Igreja do Divino Espírito Santo, em Sorocaba (SP)
Diogo Del Cistia/g1
Um dos pontos importantes da região é o Largo do Divino, que fica na Avenida Doutor Luiz Mendes de Almeida, no Jardim São Paulo, e é considerado um símbolo de preservação histórico, com grande importância para a formação da cidade, sendo tombado como Patrimônio Histórico Municipal.
A praça também é berço da Capela do Divino Espírito Santo, que recebeu esse nome devido à imagem do santo, que veio de Portugal no final do século XIX.
Largo do Divino passou por revitalização em 2022
Diogo Del Cistia/g1
“É muito bom morar aqui. Tem açougue, farmácia, cabeleireiro, manicure. Vou até na hidroginástica que tem na rua abaixo. Me exercito no Largo do Divino três vezes na semana. Só estamos sentindo falta de um mercado, mas creio que isso vá ser resolvido logo”, afirma a moradora Maria Aparecida Maciel.
Devido ao alto índice de estabelecimentos comerciais, a região registra uma valorização imobiliária e uma grande geração de empregos. O bairro Wanel Ville, por exemplo, é considerado como um novo polo gastronômico da cidade.
Andrea Cantelábio é comerciante na companhia há mais de 20 anos
Diogo Del Cistia/g1
Outro destaque da zona oeste é a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Entre suas funções, a companhia centraliza o abastecimento agroalimentar de boa parte do país. Seus principais clientes são pequenos, médios e grandes produtores agrícolas, que movimentam o espaço do final da madrugada até o início da noite.
“É um lugar extremamente importante para a cidade, que movimenta muito o comércio”, afirma a comerciante Andrea Cantelábio.
“Fico emocionada de lembrar que faço parte da história desse lugar. Muitos anos passaram e eu continuo aqui. Todo dia é uma luta diferente. Também moro na região e gosto muito do clima daqui”, complementa a comerciante Iolanda Dogen Tashiro.
Pavilhão das Flores chama atenção dos consumidores da Ceagesp de Sorocaba (SP)
Diogo Del Cistia/g1
Zona norte
A zona norte é a maior região de Sorocaba, tanto em extensão territorial, quanto em população. Há 10 anos, a estimativa é de que 289 mil pessoas viviam no local, o que correspondia a quase metade dos 623 mil habitantes da cidade na época.
Também é na zona norte que estão duas das principais vias de Sorocaba, as avenidas Ipanema e Itavuvu. Os principais corredores comerciais concentram o maior fluxo de veículos e, consequentemente, do transporte coletivo.
Zona norte é a única que conta com corredores exclusivos do sistema BRT
Urbes/Divulgação
A região é a única que conta com corredores exclusivos do sistema BRT, os primeiros a serem integrados na mobilidade da cidade. São dois terminais e mais de 150 veículos circulando. Somados, são mais de 12 quilômetros de corredor, além de 22 estações nas avenidas.
Com relação à Saúde, das 34 Unidades Básicas de Saúde da cidade (UBSs), 18 estão na região, mais da metade, além de três unidades de saúde 24 horas, que também fazem atendimento básico durante o dia.
No entroncamento das avenidas Ipanema e Itavuvu, a principal unidade de emergência de Sorocaba, a mais movimentada da cidade. Inaugurada em 2003, a Unidade-Pré Hospitalar da Zona Norte (UPH) faz cerca de 200 mil atendimentos por ano, conforme prestações de contas da Prefeitura de Sorocaba.
Conforme pesquisa sobre a evolução urbana, realizada pela acadêmica Andressa Celli, da Universidade de São Paulo (USP), em 2011, ao analisar a ocupação indígena da cidade, cinco dos 11 pontos estavam na zona norte. As ocupações indígenas eram localizadas onde estão atualmente os seguintes bairros:
São Bento;
Laranjeiras;
Mineirão;
Iguatemi;
Éden.
Croqui mostra ocupação primitiva de Sorocaba (SP) por indígenas
Andressa Celli/Reprodução
Vale lembrar ainda que antes da fundação de Sorocaba por Baltazar Fernandes, em 1654, o povoamento da cidade, de certa forma, já tinha se iniciado, conforme historiadores. Primeiro com Afonso Sardinha, em 1599, no Morro de Araçoiaba, e, depois, em 1611, com o povoado de São Felipe, na região norte, no que é conhecido hoje como bairro Itavuvu.
Imagem mostra placa de povoamento de Sorocaba (SP), vandalizada
Diogo Del Cistia/g1
“Existe uma réplica do Pelourinho, ao final da Avenida Itavuvu, e que pretende ser um lugar de memória referente à suposta Vila de São Felipe. Ocorre que temos muito pouca informação histórica sobre isso e trata-se muito mais de uma recriação, uma fixação de memória, do que um marco monumental baseado em fontes históricas seguras”, explica o professor e historiador Carlos Cavalheiro.
Edson Benedito Gomes, que mora no local há mais de 25 anos, lembra que as comemorações do aniversário de Sorocaba começavam no bairro. “É triste essa situação. Os conceitos mudaram. Teria que ser mais valorizado, teriam que olhar com mais carinho”, reclama.
Edson Benedito Gomes, morador da zona norte de Sorocaba, fala crítica falta de preservação de monumentos
Marcel Scinocca/g1
O historiador Carlos Cavalheiro diz que é válida e necessária a preservação do local, assim como outras memórias da cidade. “Falta uma política que efetive a instalação e funcionamento adequado do Arquivo Público Municipal. Infelizmente, essas não são as prioridades da maior parte dos governos.”
O historiador Carlos Cavalheiro fala sobre um dos primeiros povoados de Sorocaba (SP)
Arquivo Pessoal
Zona Sul
A zona sul de Sorocaba (SP), englobando os bairros Campolim e Vergueiro, se destaca como uma das regiões mais estruturadas e valorizadas da cidade. Localizada estrategicamente entre as áreas do Centro, Cerrado e Além Ponte, a região se tornou um polo de desenvolvimento, reunindo uma ampla gama de serviços e infraestrutura de alta qualidade.
Entre os principais pontos de referência da zona sul estão o Shopping Iguatemi Esplanada, o Hospital Oftalmológico, o Sesc, o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (SP), além de diversas faculdades e escolas particulares. Esses estabelecimentos tornam a região não apenas um local de moradia, mas também um importante centro de lazer, educação e saúde, atraindo moradores e visitantes de toda a cidade e região metropolitana.
Prédio do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS)
Divulgação
As avenidas Antônio Carlos Comitre, Barão de Tatuí e Washington Luiz são as mais movimentadas da zona sul, concentrando grande parte da estrutura comercial e de serviços.
“Escolhi a zona sul por causa da acessibilidade e segurança, além de ser uma área que me permite um menor tempo de locomoção”, explica Gabriela Murrat, de 21 anos, moradora da região há quatro anos.
O crescimento trouxe consigo alguns desafios para a Zona Sul de Sorocaba (SP), o trânsito
Reprodução
A região também se destaca por ser um ponto de interesse para pessoas de outras zonas residenciais que procuram por emprego. Júlia Fernandes, de 23 anos, mora na zona oeste, e conseguiu seu primeiro trabalho como assistente comercial em um hospital da zona sul.
“Nesses cinco anos que trabalho aqui, consigo perceber que acontece uma evolução a cada instante. Novas pessoas chegam e outras saem, novos prédios saem do papel e se transformam em oportunidades de trabalho, assim como foi comigo. Comecei minha carreira profissional aqui e sou muito grata pela oportunidade de trabalho na região,” comentou.
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