Percussionistas do Malê Debalê tiraram foto minutos antes de serem mortos fazendo sinais que podem ter sido confundidos com gestos de facções


Crime aconteceu no Emissário de Arembepe, destino turístico de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Jovens eram irmãos e tinham 15 e 21 anos. Percussionistas do Malê Debalê tiraram foto minutos antes de serem mortos fazendo sinais que podem ter sido confundidos com gestos de facções
Reprodução/TV Bahia
Testemunhas afirma que os irmãos percussionistas do bloco afro Malê Debalê, mortos durante um ataque a tiros no Emissário de Arembepe, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, tiraram uma foto supostamente fazendo sinais com as mãos, que podem ter sido confundidos com gestos de facções.
Além de Gustavo Natividade, de 15 anos, e Daniel Natividade dos Santos, de 21, uma adolescente que também estava na foto foi baleada. Ela foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Arembepe, onde recebeu atendimentos e já teve alta hospitalar.
O outro homem que estava na imagem é tio de Davi e Daniel. Ele conseguiu correr e não foi atingido pelos criminosos.
Uma quarta pessoa foi baleada durante o ataque. Ela não estava com os jovens na foto e também não corre risco de morte.
“Só foram atacados esses que fizeram esses gestos. Eles [os criminosos] já foram nas pessoas certas: nesses dois jovens e na jovem que foi baleada”, contou o líder comunitário e organizador do passeio, Alex Campos.
Irmãos percussionistas do Malê Debalê morrem após ataque a tiros com quatro pessoas baleadas na Bahia
Arquivo Pessoal
De acordo com o organizador do passeio, os criminosos chegaram a chamar um dos irmãos antes de disparar contra ele.
“Eles chegaram de moto, chamaram e quando o menino foi, eles dispararam. O irmão correu para outra barraca. A gente só soube da morte quando estávamos dentro do ônibus e procuramos ele”.
Na manhã desta quarta-feira (9), equipes da Polícia Civil iniciaram uma operação em Arembepe, em busca de suspeitos de terem cometido o crime. Até a última atualização desta reportagem, não houve prisões.
Os corpos de Gustavo e Daniel seguem no Instituto Médico Legal (IML) de Camaçari. Ainda não previsão de quando ocorrerá os velórios e sepultamentos deles.
Entenda o que aconteceu
Vítimas eram percussionistas do Malê Debalê
Reprodução/TV Bahia
De acordo com a Polícia Militar, o adolescente Gustavo Natividade foi encontrado morto dentro de uma barraca. Já o jovem Daniel Natividade dos Santos teve o óbito constatado depois, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Arembepe.
As duas pessoas que ficaram feridas são uma adolescente de 17 anos e um jovem de 24. Os dois estão internados na UPA de Arembepe e não correm risco de morte.
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A produção da TV Bahia apurou que as quatro vítimas moram no bairro de Itapuã, em Salvador, e estavam na localidade a passeio, em uma pequena excursão que contou com 150 pessoas, divididas em três ônibus.
Os familiares dos irmãos contaram que Gustavo não queria ir para o passeio e chegou a pedir o dinheiro de volta. Como não seria ressarcido, resolveu acompanhar o irmão, para que ele não fosse sozinho.
Além de tocar instrumentos no Malê Debalê, eles ajudavam trabalhavam com a avó vendendo acarajé na praia de Itapuã.
Um amigo dos irmãos, que também estava no passeio, foi atingido por um tiro de raspão no pé direito. Ele contou que estava distante de Gustavo e Daniel no momento do ataque, mas foi atingido quando assustou e correu para fugir dos tiros.
“Foi uma coisa rápida, os caras chegaram em uma moto e um carro, já atirando”, afirmou o jovem, que preferiu não revelar a identidade.
A autoria e motivação do crime serão apurados pela Policia Civil. Por meio de nota, a Fundação Gregório de Mattos e o Polo Criativo Boca de Brasa lamentaram as mortes de Daniel Natividade e Augusto Natividade. [Confira nota na íntegra abaixo]
Nota de pesar da Fundação Gregório de Mattos e o Polo Criativo Boca de Brasa
“À todos os integrantes do Male Debalê, aos familiares e amigos de Daniel e Augusto, os nossos sentimentos e a nossa solidariedade.
Com profundo pesar, a Fundação Gregório de Mattos e o Polo Criativo Boca de Brasa lamenta a brutal e covarde morte dos jovens Daniel Natividade, de 24 anos, e Augusto Natividade, de 15. Talentosos artistas do bairro de Itapuã, formados no Projeto Malezinho, eles dedicaram suas vidas à música e à cultura de Itapuã. Essas perdas irreparáveis enlutam não apenas a comunidade de Itapuã, mas toda a cidade.
À todos os integrantes do Male Debalê, aos familiares e amigos de Daniel e Augusto, os nossos sentimentos e a nossa solidariedade.”
Irmãos percussionistas do Malê Debalê morrem após ataque a tiros com quatro pessoas baleadas na Bahia
Reprodução/Redes Sociais
‘Erro grotesco’, diz presidente do Malê
O presidente do Malê Debalê, Cláudio Araújo, acredita que os jovens foram confundidos com outras pessoas, porque eles não tinham envolvimento com a criminalidade.
“Foi uma noite pesada, que eu não dormi, porque foram quatro jovens baleados e dois deles perderam a vida. Eles não fazem parte do que fizeram eles perder a vida”, lamentou, em entrevista ao Bahia Meio Dia, programa da TV Bahia.
Segundo Cláudio Araújo, Daniel e Gustavo eram jovens “corretos”, que dividiam a rotina entre tocar instrumentos no Malê Debalê e vender acarajés com a avó.
“Quando não estavam lá [no tabuleiro dos quitutes], estavam aqui apertando instrumentos, arrumando a sede e fazendo apresentações. Ninguém venha me dizer que eles estavam envolvidos com crime, não admito”.
“Estou muito triste, acho que foi um erro grotesco, porque isso não era para esses jovens”, afirmou Cláudio Araújo.
Crime aconteceu no Emissário de Arembepe
Divulgação/Prefeitura de Arembepe
O Malê Debalê foi fundado em 1979, em Itapuã, onde eles viviam. A agremiação foi criada por moradores que desejavam ver o bairro representado no carnaval de Salvador, e se tornou um dos principais blocos afros da folia baiana.
A dança e a música feitas pelo grupo têm forte ligação com a tradição de origem africana. O nome é uma homenagem aos Malês, negros muçulmanos que lutaram contra o processo de escravidão e representaram, na Bahia, uma resistência ativa.
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