‘Príncipe dos Observadores’: conheça o naturalista alemão que viveu no Brasil e encantou Charles Darwin


Morando na colônia em Blumenau com uma estrutura muito precária, Fritz Müller conseguiu publicar mais de 200 trabalhos nas revistas Nature e Science, que até hoje são as principais da área biológica. ‘Príncipe dos Observadores’: conheça o naturalista alemão que viveu no Brasil e encantou Charles Darwin
O Globo Repórter destacou os 200 anos da imigração alemã no Brasil. Entre os cerca de 250 mil imigrantes, um foi chamado de “Príncipe dos Observadores da Natureza”. O título foi dado por ninguém menos que Charles Darwin.
Esse homem era Fritz Müller, que veio viver na recém-fundada colônia de Blumenau, na província de Santa Catarina, em 1852. Saiba mais abaixo.
Mais de 200 trabalhos nas revistas Nature e Science
Morando na colônia em Blumenau com uma estrutura muito precária, um microscópio rudimentar e à luz de vela, ele conseguiu publicar mais de 200 trabalhos nas revistas Nature e Science, que até hoje são as principais da área biológica.
“Ele era formado em filosofia e medicina, portanto, um intelectual. E vem viver como colono aqui. Ele teve que derrubar a mata, plantar aipim e verduras para sustentar a família numa estrutura inexistente, o que acabou instigando-o a se tornar no futuro um grande observador e descritor da natureza”, conta André Luís de Gasper, professor de botânica da FURB.
Müller fazia suas observações na Mata Atlântica do Vale do Itajaí, muitas vezes andando descalço. A certa altura, foi convidado a ser professor de ciências naturais em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis.
“Em Desterro, chega às mãos de Fritz Müller um livro chamado ‘A Origem das Espécies’, de Charles Darwin, um dos livros mais importantes da história da humanidade. A partir daí, tudo mudou para Fritz Müller”, diz Alberto Lindner, professor de Biologia da UFSC.
‘Para Darwin’
“Para Darwin”
Reprodução/TV Globo
Fascinado, o naturalista começou a observar crustáceos para testar a nova teoria.
“Fritz Müller foi a primeira pessoa no mundo a descobrir que a craca e o camarão, esses dois organismos têm o mesmo tipo larval, evidenciando que os crustáceos têm um ancestral comum, o que é congruente com a teoria da evolução”, relata Alberto Lindner.
Esses estudos foram reunidos no livro “Para Darwin”, em que Müller apresenta uma série de argumentos a favor da teoria da evolução das espécies.
“Darwin ficou encantado com esse livro, pagando a tradução para o inglês, e começou uma intensa correspondência entre ele e Müller. Darwin deu ao Müller o apelido carinhoso de ‘Príncipe dos Observadores’. Essa correspondência durou até a morte de Darwin, em 1882”, afirma Lindner.
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Borboletas
Reprodução/TV Globo
Tudo isso chamou a atenção do Museu Nacional no Rio de Janeiro, referência na produção científica do Brasil Império. Fritz Müller foi contratado como naturalista viajante aos 54 anos, e finalmente teve condições financeiras para se dedicar exclusivamente ao que mais gostava: pesquisar a fauna e a flora de Santa Catarina.
Um dos principais trabalhos de Müller, realizado nessa época em que voltou a viver em Blumenau, foi a observação das borboletas.
“Ele observou que borboletas de espécies e gêneros diferentes tinham um padrão de coloração muito parecido e todas tinham um gosto amargo para as aves, evitando que fossem predadas. Os cientistas modernos chamam esse fenômeno de mimetismo mülleriano em homenagem a Fritz Müller”, destaca o professor.
Estátua de Fritz Muller
Reprodução/TV Globo
O naturalista dos pés descalços nunca retornou à Alemanha. Morreu aos 75 anos e está enterrado ao lado da mulher e das filhas no cemitério luterano de Blumenau. Mas seu legado segue vivo.
Lapide de Fritz Muller
Reprodução/TV Globo
Veja a íntegra do programa abaixo:
Edição de 27/07/2024
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