Especial 30 anos de história da TV Integração mostra os desafios para uma televisão no Triângulo


Inícios não são fáceis e na primeira metade da década de 1960 os desafios eram ainda maiores. No entanto, após diversas viagens ao Rio de Janeiro, o sonho de empresários de Uberlândia saiu do papel, ou melhor, foi ao ar. Equipe de transmissão da TV Triângulo nos primeiros anos da emissora
Arquivo/ TV Integração
Nenhum começo é fácil, independente do motivo, projetos tendem a enfrentar obstáculos. No entanto, todos eles têm algo em comum: começam pelo sonho.
Se colocar projetos em prática atualmente é difícil, imagine as dificuldades de construir um emissora de televisão no interior do país na primeira metade da década de 1960. Só que após a superação de diversos obstáculos, o sonho de empresários era realizado e a TV Triângulo entrava no ar.
E foi o início complicado e os desafios de se fazer televisão no interior do Brasil que o especial de 30 anos da ainda TV Triângulo mostrou em 1994.
O sonho da TV no Triângulo
Apesar de a televisão já existir, na segunda metade do século XX o rádio ainda predominava. A maravilha de ouvir e ver os programas de auditório e as novelas era enorme, porém, os recursos escassos, fazendo com que a televisão fosso restrita às capitais.
Primeira afiliada da TV Globo, é difícil desassociar a imagem da TV Integração ao “plim plim”, mas o início do sonho de uma televisão no Triângulo Mineiro começou com a tentativa de um grupo de empresários que tentou oferecer à Uberlândia a retransmissão da programação da TV Tupi.
Um apartamento no Edifício Valentina, no Centro de Uberlândia, foi modificado para receber os equipamentos de recepção do sinal. No entanto, a tentativa foi frustrada pela tecnologia da época, que fazia com que as imagens chegassem à região com chiados e sombras.
O motivo: o sinal que saia da TV Tupi em São Paulo passava por diversos retransmissores até chegar ao Triângulo Mineiro. E a cada retransmissão, a qualidade do som e da imagem diminuía.
“A responsabilidade nossa era muito grande, estávamos confiantes que a imagem da Tupi ia chegar perfeito. Na época, os retransmissores eram em sinal VHF e cada lance de sinal transmitido perdia a qualidade da imagem. Aí o povo ficou apavorado e não queria pagar”, disse o ex-diretor da TV Triângulo, José Bonfim, ao especial.
No ar
A retransmissão do sinal da TV Tupi não saiu como o esperado, mas o sonho do empresário Edson Garcia Nunes não havia terminado. O momento era de ser mais agressivo na estratégia e partir para o projeto de concessão do canal de TV.
E para isso, Nunes contou com a ajuda do amigo e advogado Adib Chueiri. E após inúmeras viagens ao Rio de Janeiro (RJ), em março de 1964, Uberlândia recebia a concessão para o mais novo canal de televisão do Brasil.
Só que uma emissora de televisão é bem diferente de uma retransmissora e o apartamento no Edifício Valentina ficou pequeno. Assim, outro prédio do Centro, que estava pronto para receber um supermercado, teve o projeto refeito e boa parte dele foi reservado para abrigar a emissora. Os equipamentos chegaram e logo os testes começaram, com a inauguração ocorrendo oficialmente em 9 de junho de 1964.
Começamos com a nossa equipe daqui. Redatores, apresentadores, todos os elementos daqui. Depois trouxemos profissionais de Belo Horizonte, uma equipe formidável. Nós fizemos teatro e novelas locais, um jornal, programa de crianças, de esporte, de entrevista”, disse José Bonfim.
Equipe de transmissão da TV Triângulo nos primeiros anos da emissora Especial 30 anos TV Integração Uberlândia
Arquivo/ TV Integração
Aprendendo com a TV
O desafio de colocar a emissora no ar estava superado, mas outros obstáculos surgiram. Mesmo com a contratação de profissionais com experiência, a equipe aprendeu a fazer televisão com ela já no ar. Aliás, alguns aprenderam desde o início, quando o sonho ainda era construído.
Dois deles seguiam na empresa em 1994. Naquele ano, Hélio Sudário era editor de VT, mas a história dele na TV Triângulo começou muito antes, como auxiliar de serviços gerais e, aos poucos, mudou de função.
“Eu não sabia o que era televisão quando eu cheguei na televisão. Estavam fazendo testes com os equipamentos. Mandaram eu sentar em uma cadeira, colocaram a câmera apontada para mim e fizeram testes com as minhas imagens. E eu nem sabia que aquelas imagens eram as primeiras imagens que projetavam no ar”, disse Sudário.
Outro que aprendeu a fazer TV estando na TV foi Edson Domingos. Em 1994 ele era diretor de TV, mas foram diversas funções exercidas dentro da TV Triângulo, em um casamento que durou mais de 50 anos, até a aposentadoria do funcionário em 2020.
“Eu trabalhava na empresa que fundou a televisão. Eu era servente de pedreiro, um garoto novo, tinha 16 anos. E fui indicado para que ajudasse na entrega dos televisores na região”, disse Edson no especial.
Edson Domingos faleceu em janeiro de 2024, aos 79 anos. O legado deixado por ele segue no coração e memória de quem o conheceu. E mais, desde junho de 2024, o estúdio da TV Integração leva o nome dele.
Edson Domingos em 1994, quando exercia a função de diretor de TV, uma das inúmeras funções que desempenhou ao longo de 56 anos de dedicação à TV Integração.
Arquivo/ TV Integração
Produções
Ainda no especial de 30 anos, Dantas Ruas foi um dos personagens. Ele que começou no rádio e chegou a Uberlândia por conta de uma tempestade, adiou o retorno ao Rio de Janeiro para assumir uma emissora na cidade mineira e logo ficou fascinado pela televisão.
Além disso, Dantas foi a primeira voz da TV Triângulo ao transmitir uma mensagem.
“Foi uma crônica, não me recordo exatamente qual. A televisão era o rádio, compreendendo com imagem. Depois é que foi, é claro, se aperfeiçoando. Veio o vídeo e coisa toda deu um impulso extraordinário na televisão”, afirmou Dantas Ruas à época.
E já que a TV se chamava Triângulo para deixar claro que era um produto regional, feita para os moradores da região, as produções retratavam o povo do Triângulo Mineiro. E para isso, a direção ficava atenta às revelações de Uberlândia.
Uma dessa revelações foi Haidée Vasconcelos que, durante 3 anos, apresentou dois programas na TV Triângulo. Durante a semana o Revista Feminina e, aos domingos, o Encontro com Dona Haidée.
“Eu apresentava entrevista com crianças, com senhoras, falava sobre culinária, sobre estudo, sobre etiqueta, sobre elegância e apresentava desfile de modas, apresentava curiosidades, enfim, falava sobre o pessoal do Prata, gente de Monte Alegre, de Tupaciguara”, disse Haidée.
Haidée Vasconcelos apresentou dois programas por três anos na TV Triângulo
Arquivo/ TV Integração
Outra revelação da região que não escapou dos olhos da TV Triângulo foi Nalva Aguiar. Antes de cantar pelo Brasil e pelo exterior, ela esteve na grade da emissora.
“Perguntaram se eu queria ir [para a TV] e mais do que depressa, eu fui. Eu fui garota propaganda, programa humorístico, e depois comecei a fazer o meu programa”, disse Nalva ao especial.
E entre um programa de auditório e outro, filmes exibidos. E o motivo não era apenas preenchimento da programação. O tempo do filme era usado para a troca de cenários do estúdio para o programa seguinte. A programação também contava com novelas.
“Os rolos e filmes percorriam todas as TVs instaladas no interior do país. Por isso os programas chegavam com atraso. As grandes novelas, por exemplo, representavam o caos. Qualquer problema justificava o fim. Na metade da história, muitos capítulos chegavam a Uberlândia cortados. Quem viajava para São Paulo voltava sabendo da história que aqui passava, até com 30 capítulos de atraso. Essas pessoas eram privilegiadas porque às vezes os telespectadores da região nem assistiam a cenas mais importantes”, disse o ex-diretor José Bonfim.
E o mesmo acontecia com as partidas de futebol, que eram transmitidas dois dias depois da realização do jogo.
“As partidas de futebol davam muita dor de cabeça. Os jogos eram gravados e a demora durava as vezes até 2 dias. A curiosidade ficava por conta dos lances, porque a torcida reconhecia o placar depois de ter acompanhado a partida através do rádio. Para se ter uma ideia, em 1965 os uberlandeses assistiram na íntegra a Copa do Mundo de 62”, finalizou Bonfim.
Jogos de futebol eram transmitidos na TV Triângulo dois dias depois da partida.
Arquivo/ TV Integração
Em 60 anos muita coisa mudou. Os cenários não precisam ser trocados no espaço de um filme. As novelas, os telejornais e os jogos de futebol não chegam mais com atraso.
A tecnologia avançou, os equipamentos e a infraestrutura mudaram. O que não mudou foi a paixão pela televisão.
Entrada da então TV Triângulo no Bairro Umuarama, em Uberlândia.
Arquivo/ TV Integração
📲 Siga as redes sociais do g1 Triângulo: Instagram, Facebook e Twitter
📲 Receba no WhatsApp as notícias do g1 Triângulo
VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas
Adicionar aos favoritos o Link permanente.