Petroleiros relataram problemas em aeronaves da Voepass durante viagens no AM em 2023


g1 teve acesso a duas notas técnicas emitidas pelo Sindipetro, nas quais os trabalhadores relatam tentativas de decolagens frustradas, problemas de segurança e ondas de calor dentro das aeronaves. Avião da Voepass Linhas Aéreas, companhia que operava o trajeto Feira de Santana – Salvador
Taiuri Reis/TV Subaé
A companhia aérea Voepass possui desde março de 2023, pelo menos, duas denúncias de funcionários do polo petroquímico de Urucu, no interior do Amazonas. A empresa é a mesma do avião que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, na semana passada.
O g1 teve acesso a duas notas técnicas emitidas pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo (Sindipetro) Pará/Amazonas/Maranhão/Amapá. Nos documentos, os trabalhadores relatam tentativas de decolagens frustradas, problemas de segurança e ondas de calor dentro das aeronaves.
Em uma denúncia feita no dia 23 de março do ano passado, relata que uma trabalhadora teria sido demitida por se recusar a embarcar na aeronave, que apresentava diversos irregularidades.
O sindicato listou alguns dos problemas encontrados no uso das aeronaves da companhia:
Tentativas de decolagem frustradas por recorrentes problemas de pane na aeronave;
Demissão de trabalhadora contratada que se recusou a embarcar após situação do tipo;
Situações de bagagens que não chegaram em Urucu no mesmo voo que os passageiros, causando imenso transtorno;
Falta de disponibilização de maca no avião durante o período de início do contrato;
Não fornecimento de alternativa de hospedagem e alimentação para os impactados com atrasos e cancelamentos por parte da companhia aérea;
Falta de apuração de denúncia de ex-mecânico da companhia aérea que relatou problemas de segurança na mecânica da aeronave da empresa, além da demissão do trabalhador;
Preocupação quanto ao uso da outra aeronave da Voepass, que realiza voos comerciais que são constantemente cancelados por falta de condições técnicas do avião;
Já em novembro de 2023, o Sindicato disse que a situação dos voos da Voepass para Urucu estava ‘insuportável’: “A falta de funcionamento adequado do ar-condicionado das aeronaves tem causado até desmaio de trabalhadores. A categoria tem sofrido ao entrar em aviões com ar abafado, sob o sol escaldante de Manaus ao meio-dia”.
Ainda em 2023, o Sindipetro participou de uma auditoria externa da empresa Rina Brasil Serviços Técnicos que averiguou as condições dos aviões da empresa Voepass que atendem ao contrato de transporte para a província de Urucu.
Na ocasião, foram examinadas as duas aeronaves que atendem ao contrato. A titular foi aprovada em todos os testes, porém a reserva apresentou problema no ar-condicionado, o que ocasionou a determinação, pela Petrobras, que o aparelho somente fosse utilizado após o conserto deste item – o que foi realizado na época.
Avião que caiu em Vinhedo fez voo para Urucu
Na terça-feira (13), por meio das redes sociais, o grupo de trabalhadores informou que se reuniu com representantes da Petrobras. Na ocasião, a empresa, segundo os petroleiros, confirmou que a aeronave que caiu em Vinhedo chegou a realizar o voo para Urucu em 2023.
“Em 06/08 foi realizada inspeção rotineira do contrato; em 09/08 (sexta-feira), logo após o acidente, a Petrobras decidiu cancelar os voos seguintes, mesmo sem recomendação do fabricante e ao contrário do que ocorreu com empresas como a Azul, que manteve os ATR-72 em operação”, disse o Sindicato, em nota.
Outra denúncia foi feita pelos trabalhadores em novembro de 2023.
Reprodução
Ao g1, a Petrobras confirmou que interrompeu temporariamente as operações da aeronave que realiza os voos para a Província Petrolífera de Urucu, mas retornou as atividades após uma série de vistorias.
“Essa medida foi adotada para garantir a segurança de todos os procedimentos de voo, por meio de uma inspeção preventiva, além das vistorias regulares já realizadas. A inspeção foi conduzida pela equipe de Segurança e Competência em Aviação da companhia. Após a conclusão de uma auditoria, reuniões de alinhamento com representantes sindicais e um voo de inspeção realizado na terça-feira (13), as operações foram integralmente retomadas nesta quarta-feira (14)”.
Já a Voepass disse que atua em um setor altamente regulado, com exigências rigorosas que garantem a segurança das operações das companhias aéreas.
“Seguimos absolutamente todos os protocolos, que atestam a conformidade de nossos procedimentos e equipamentos em relação aos padrões mais elevados da aviação internacional […] Em hipótese nenhuma nossos aviões decolam sem estar em estrita conformidade com o que estipula a regulamentação. O envio de aeronaves para manutenção é algo que faz parte da rotina de todas as companhias aéreas do mundo”, complementou a empresa.
A reportagem também procurou o Sindipetro para obter mais detalhes sobre as denúncias, mas até a publicação do material não obteve resposta.
O acidente
Na sexta-feira (9), um avião ATR-72, da Voepass, caiu no interior de São Paulo, matando 62 pessoas. A aeronave tinha saído de Cascavel, no Paraná, e tinha como destino o Aeroporto de Guarulhos, na capital paulista.
Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), o voo ocorreu dentro da normalidade até as 13h20, mas a partir das 13h21 a aeronave deixou de responder às chamadas da torre de São Paulo, não declarou emergência e não reportou estar sob condições meteorológicas adversas. “A perda do contato radar ocorreu às 13h22”.
A aeronave caiu em um condomínio no bairro Capela, em Vinhedo, e pertence à companhia aérea Voespass Linhas Aéreas, antiga Passaredo. De acordo com a empresa, as vítimas estavam em um avião turboélice de passageiros, modelo ATR-72.
O avião saiu de Cascavel às 11h46 e pousaria em Guarulhos.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lamentou o acidente e disse que vai monitorar “a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa e que está adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e dos tripulantes”.
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