Intercâmbio na África: como é aprender inglês na Cidade do Cabo

A América do Norte e a Europa costumam dominar o imaginário dos brasileiros quando o assunto é intercâmbio. Fora desses locais, porém, há um mundo de possibilidades de aprendizado em outros continentes como a África.

Segundo uma pesquisa da Belta (Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio), os países mais buscados pelos brasileiros que desejam fazer intercâmbio apontam o Canadá, Estados Unidos e Reino Unido.

Indo na contramão desse levantamento, Samuel Gomes, influenciador e empreendedor, decidiu partir para a África do Sul para estudar inglês e conta sobre sua experiência.

“Estudar inglês fora do país sempre foi algo que eu evitava sonhar para não me frustrar. Assim como no passado, antes das bolsas sociais para entrar na universidade, estudar no exterior não fazia parte da vivência da minha família”, disse Samuel, em entrevista à CNN.

“Optar pela Cidade do Cabo foi uma escolha de identificação e representatividade”, comentou o influenciador, na semana da Consciência Negra.

De volta ao Brasil, Samuel compartilhou sua história com centenas de seguidores nas redes sociais. À reportagem, ele explicou suas motivações, a experiência de estudar inglês na África do Sul e os benefícios, pessoais e profissionais, de sua jornada. Confira:

A escolha do destino

A busca por conexão com a cultura e o povo local foi fundamental desde o início. Segundo Samuel, há um “amor” dos sul-africanos com o Brasil que o fez se sentir acolhido na UCT (University of Cape Town), na English Language Centre, e, posteriormente, na Good Hope School.

“Quis um lugar onde não me sentiria estranho sendo negro de pele escura”, explicou.

A África do Sul me atraiu pelo clima, pela história de liberdade e diversidade, e pela oportunidade de me ver nas outras pessoas.


Samuel Gomes, escritor, influenciador e empreendedor

Além disso, outro fator decisivo para escolher o destino é porque a experiência de aprendizado da língua inglesa no Brasil não contempla as subjetividades da vivência negra no mundo. E que a “África do Sul, país predominantemente negro, criaria um ambiente de imersão favorável”.

“A falta de representatividade, que cria uma conexão com a língua, técnicas e métodos pensados para vivências pretas também nos afastam em certa medida [de aprender inglês]”, acrescentou Samuel.

Tudo isso fez ainda mais sentido quando ele passou por Angola, numa escala antes da África do Sul. Ali, na visão dele, foi o primeiro contato com a receptividade que esperava.

“Fiquei maravilhado com a quantidade de pessoas pretas em cargos importantes no aeroporto. Já na imigração, ouvi um funcionário dizer ‘bem-vindo de volta’. Aquilo me emocionou, especialmente porque era dito para pessoas pretas que voltavam do Brasil”, relembrou. Entre 3 mil e 8 mil afro-brasileiros retornaram ao continente africano durante o século 19, após o período da escravidão.

Impactos da experiência


Samuel Gomes e sua turma na Good Hope, organização onde estudou em Cape Town, na África do Sul • Arquivo pessoal

Samuel descreve a África do Sul como um “pedaço do paraíso”. Ele se encantou pela multiculturalidade, pela paciência dos sul-africanos com estudantes de inglês e pela riqueza cultural e natural do país.

“Cape Town [ou Cidade do Cabo, a capital legislativa do país] é alegre, colorida, cheia de galerias de arte, música e história. É impossível não se emocionar ao olhar a Table Mountain, visitar o Cabo da Boa Esperança ou as praias de Muizenberg com suas casas coloridas. Além disso, descobrir que o país é um dos grandes produtores de vinho do mundo foi surpreendente”, destacou.

Para ele, o intercâmbio também desafiou percepções preconceituosas. Isso porque, antes de ir, ao contar para as pessoas que ia para a África do Sul, muitos achavam que o país se resumia a problemas sociais e econômicos profundos.

Essa narrativa única sobre a África é equivocada. O país é próspero e acolhedor. Vi pessoas negras vencendo, consumindo e produzindo arte, criando seus filhos e vivendo vidas inspiradoras. Isso me deu ainda mais munição para acreditar no meu futuro.”

No fim, a experiência transformou Samuel, segundo ele, não apenas pelo aprendizado da nova língua. Sua visão de mundo, a partir dali, também estava se modificando.

“A viagem me moldou como adulto e me deu experiências inesquecíveis. As amizades que fiz, a evolução no idioma e a possibilidade de participar de eventos em inglês me abriram portas. Em uma semana, já sentia avanços no meu aprendizado.”

Mesmo com inglês, há dificuldades no mercado de trabalho

Por outro lado, ele reconhece os desafios enfrentados por pessoas negras no mercado de trabalho, mesmo quando elas têm oportunidades, como no seu caso.

“Para nós [pessoas negras], o inglês não é a única barreira. Vai além da capacitação. Mas essa experiência me deu mais confiança para buscar novas oportunidades e acreditar em mim mesmo.”

Estude em países menos explorados

Depois do que viu e viveu, Samuel incentiva outras pessoas a explorarem destinos menos tradicionais. Para ele, o grande diferencial de sua experiência foi ter dado voz para “sua criança interior” e ter escolhido um lugar onde pudesse se sentir “genuinamente abraçado”.

“Faça amizades com moradores locais, converse, participe de eventos culturais. O medo deve ser motor para novas experiências, não um bloqueio. Ser cidadão do mundo é se conectar com os outros, entender nossa humanidade na descoberta de si no outro. No final, ficam a saudade e a vontade de voltar”, finalizou.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Intercâmbio na África: como é aprender inglês na Cidade do Cabo no site CNN Brasil.

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