Ações do Carrefour não vão cair enquanto houver carne em suas geladeiras, apontam analistas

O agronegócio brasileiro se vê em um momento de impasse com o Carrefour, após a declaração do CEO da varejista na França, Alexandre Bompard, sobre interromper a comercialização da carne produzida no Mercosul.

Mesmo que o Carrefour reitere que o anúncio não afete os negócios além da França, grandes frigoríficos como JBS e Masterboi anunciaram a interrupção no fornecimento de carne para a rede no Brasil em retaliação à fala de Bompard. 

Apesar deste anúncio, os papéis da rede de supermercados fecharam com alta nesta segunda-feira (25), e também mostram valorização desde as falas, na quarta-feira (20), de acordo com levantamento feito por Einar Rivero, analista da Elos Ayta, à pedido da CNN.

Segundo analistas, as ações da companhia não devem sofrer muito enquanto mercados aguardam desdobramentos mais concretos do boicote dos frigoríficos, como um eventual desabastecimento.

As ações da varejista encerraram o dia em alta de 1,05%, cotadas em R$ 6,71. Desse modo, a rede fechou o pregão com valor de mercado de R$ 14,152 milhões. No dia da fala de Bompard, registrava R$ 13,6 milhões.

O único dia em que depreciou, desde então, foi na quinta-feira (21) pós-anúncio, quando terminou o dia valendo R$ 13,308 milhões.

“As ações voltaram para o ‘zero a zero’, pois o mercado não sentiu tanta firmeza em relação a esse boicote. Temos que esperar os próximos dias para ver se realmente se concretiza os efeitos dessa retaliação”, aponta Virgílio Lage, analista da Valor Investimentos.

Por outro lado, caso o problema persista, as ações do Carrefour devem ser afetadas, principalmente caso a situação escale, de modo que o afastamento dos fornecedores poderia ocasionar em um distanciamento dos próprios consumidores.

“Não acho que ninguém vai deixar [de fato] de vender carne para o Carrefour. Mas, com a limitação, se o cliente vai ao mercado e vê que falta carne ou só sobrou o produto de baixa qualidade, ele pode acabar optando por consumir tudo em outro lugar”, afirma Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio.

“O desabastecimento pode levar a uma queda nas vendas do Carrefour que, por consequência, poderá ter um resultado menor no curto e médio prazo e sentirá isso nas ações da empresa”, conclui.

Ações dos frigoríficos

Enquanto isso, os principais frigoríficos do país veem movimentos divididos. A Minerva viu seu valor de mercado crescer R$ 82 mil desde quarta-feira, enquanto a Marfrig subiu pouco mais de R$ 1 milhão.

A JBS também subiu ligeiramente, valorizando R$ 111 mil no período. Porém, entre quinta e sexta-feira (22), seu valor foi de R$ 76,8 milhões a R$ 79,1 milhões. Neste pregão, porém, voltou a casa dos R$ 77,4 milhões.

Carrefour da França X Carne do Mercosul

Na última quarta-feira (20), Bompard disse que as lojas da França iriam deixar de importar a carne do Mercosul visando a iminência da aprovação do acordo de livre comércio da União Europeia (UE) com o bloco.

“Em toda a França, ouvimos a consternação e a indignação dos agricultores face ao projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul; e consideramos o risco de repercussões negativas no mercado francês de comercializar um produto que não cumpra os requisitos e normas europeus”, escreveu Bompard em carta ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas da França, Arnaud Rousseau.

“Em resposta a esta preocupação, o Carrefour quer estar em conjunto com o mundo agrícola e está tomando o compromisso de não comercializar qualquer carne proveniente do Mercosul.”

Em resposta, uma série de frigoríficos anunciou que interromperia o fornecimento de carne à varejista. Porém, o Carrefour Brasil nega que haja, até o momento, desabastecimento de carne em suas unidades.

“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade. Estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”, afirma a varejista em nota.

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