Mujica acolheu prisioneiros de Guantánamo quando era presidente do Uruguai

O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, que morreu nesta terça-feira (13), acolheu prisioneiros transferidos da prisão militar de Guantánamo, em 2014, quando ainda comandava o país cisplatino.

Os prisioneiros do centro de detenção usado para manter acusados de terrorismo após os ataques de 11 de setembro de 2001 eram quatro sírios: Ahmed Adnan Ahjam, Ali Hussain Shaabaan, Omar Mahmoud Faraj e Jihad Diyab; um tunisiano, Abdul Bin Mohammed Abis Orgy; e um palestino, Mohammed Tahanmatan.

O envio dos prisioneiros fez parte do esforço do então presidente Barack Obama, que assinou um decreto para fechar a prisão militar americana na ilha de Cuba.

A CNN apurou que uma reunião em Nova York entre Mujica e o então vice-presidente Joe Biden, com quem tinha uma relação próxima, foi crucial para o acordo. Fontes disseram que Biden e Mujica mantinham contato constante para questões regionais em um alto nível de confiança entre ambos.

A transferência dos prisioneiros foi confirmada pelos Estados Unidos em dezembro de 2014.

Naquela ocasião, Mujica escreveu uma carta aberta ao povo uruguaio e a Obama explicando porque o Uruguai aceitou receber os presos.


O presidente uruguaio, José Pepe Mujica, discursa durante uma reunião bilateral com o presidente dos EUA, Barack Obama, no Salão Oval da Casa Branca, em 12 de maio de 2014, em Washington, D.C.
O presidente uruguaio, José Pepe Mujica, discursa durante uma reunião bilateral com o presidente dos EUA, Barack Obama, no Salão Oval da Casa Branca, em 12 de maio de 2014, em Washington, D.C. • Andrew Harrer-Pool/Getty Images

Ele abriu o texto relembrando uma frase do poeta chileno Pablo Neruda que afirma que “a solidariedade é a ternura dos povos”.

“Este país esteve na vanguarda do desenvolvimento mundial de instrumentos internacionais para a paz. Com base em nosso melhor passado, oferecemos nossa hospitalidade a seres humanos que sofreram um terrível sequestro em Guantánamo. A razão inevitável é humanitária”, escreveu Mujica.

“Desde a nossa independência e até mesmo antes, pessoas e grupos, às vezes muito grandes, vieram a essas terras em busca de refúgio: guerras internacionais, guerras civis, tiranias, perseguições religiosas e raciais, pobreza e também miséria extrema, longe ou muito perto”, acrescentou.

O então presidente pontuou que aqueles que chegaram ao país “construíram este Uruguai: forjaram bem-estar, trouxeram artesanato, sementes, conhecimentos, culturas e, finalmente, criando raízes profundas, plantaram aqui seus hoje inumeráveis ​​descendentes”.

“É por tudo isso que, seguindo o caminho da famosa Parábola, sentimos a cena porque a sofremos na nossa própria carne, pela dor dos feridos e não pelo altruísmo do samaritano. Fazemos parte do mundo dos feridos agredidos. Nós pertencemos à grande maioria da Humanidade. Não devemos, nem queremos, esquecer ou perder essa perspectiva para olhar as duras realidades, infelizmente tão numerosas quanto cruéis, que hoje batem com força às portas de milhões de consciências”, completou.

Ex-prisioneiros agradeceram a Mujica

Após a transferência, o ex-detentos de Guantánamo expressaram gratidão e a disposição de estabelecer uma relação com o Uruguai.

Em uma carta, Abdel-hadi Omar Faraj, um dos libertados, prometeu oferecer “boa vontade” e “contribuições positivas”.

Faraj, que tinha 39 anos, de origem síria, expressou seu desejo de “agradecer pessoalmente” ao presidente Pepe Mujica pelo que descreveu como um “nobre ato de solidariedade”, e a todo o povo uruguaio.

O ministro da Defesa do Uruguai disse na época que, assim que os exames fossem concluídos, eles seriam totalmente liberados como refugiados no país.

O advogado de outro dos detidos destacou a compaixão demonstrada pelo presidente uruguaio ao permitir que vários presos fossem recebidos em seu país.

Cory Crider disse que alguém como Mujica — que ficou preso por muitos anos — poderia entender o que significa ser privado de liberdade.

O advogado disse que seu cliente passou anos terríveis na prisão, e os dois últimos antes da transferência foram particularmente difíceis, pois ele fez greve de fome, mas foi submetido a alimentação forçada diária por meio de um tubo.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Mujica acolheu prisioneiros de Guantánamo quando era presidente do Uruguai no site CNN Brasil.

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