Dólar abre sessão desta sexta-feira em queda, de olho no fiscal


Na véspera, a moeda norte-americana avançou 0,69%, cotada a R$ 6,0091. O principal índice acionário da bolsa de valores brasileira recuou 2,74%, aos 126.042 pontos, na maior queda diária em quase dois anos. Dólar
REUTERS/Lee Jae-Won
O dólar abriu a sessão desta sexta-feira em queda. Investidores continuam a monitorar o noticiário doméstico, em meio às preocupações com a desidratação do pacote fiscal do governo no Congresso Nacional e diante das novas mudanças da reforma tributária. (Saiba mais abaixo)
Além disso, a decisão recente do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual (p.p.), continua a pesar no mercado, principalmente após a sinalização de uma condução mais dura dos juros à frente por parte do Banco Central do Brasil (BC).
O estado de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e novos dados econômicos locais e internacionais também ficam no radar.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
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Dólar
Às 09h01, o dólar tinha queda de 0,36%, cotado a R$ 5,9875. Veja mais cotações.
Na véspera, a moeda norte-americana subiu 0,69%, cotado a R$ 6,0091.
Com o resultado, acumulou:
queda de 1,02% na semana
alta de 0,14% no mês;
avanço de 23,84% no ano.

Ibovespa
As negociações no Ibovespa, por sua vez, começam às 10h.
Na véspera, o índice caiu 2,74%, aos 126.042 pontos.
Com o resultado, acumulou:
avanço de 0,08% na semana
alta de 0,30% no mês;
recuo de 6,07% no ano.

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O que está mexendo com os mercados?
Os sinais de que o pacote fiscal recentemente anunciado pelo Governo Federal pode enfrentar resistências continuam a trazer preocupações no mercado.
As indicações de que o clima para votação das medidas de contenção de despesas desandou no Congresso Nacional cresceram nos últimos dias, principalmente após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, que estabeleceu regras mais rígidas para o pagamento de emendas parlamentares.
Emendas parlamentares são verbas pagas pelo governo para deputados e senadores financiarem obras em seus estados.
O STF entendeu que era preciso dar mais transparência ao processo, desde a identificação do parlamentar que destina a verba até o rastreamento de onde o dinheiro está sendo aplicado.
Mas o Congresso não gostou das regras e viu na ação do STF uma interferência no Legislativo, orquestrada com o governo.
Com isso, a Câmara não analisou nesta semana, ao contrário do que queria o governo, o pacote de ajuste fiscal, uma das prioridades do Palácio do Planalto para este fim de ano.
Na tentativa de contornar o atrito, o governo publicou uma portaria na quarta-feira para orientar o pagamento de emendas de uma forma que — na visão do governo — não desobedeça as regras do STF nem desagrade os parlamentares.
Por isso as portarias trazem interpretações do governo para as regras do STF. A expectativa é que o governo libere R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares para o Congresso até esta sexta (13).
Além disso, outro ponto que continua a pesar nos mercados é a quantidade de mudanças que o Senado tem feito na reforma tributária — o que tem elevado as estimativas para o novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
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Se esta alíquota superar 26,5%, o governo federal deverá enviar um projeto ao Congresso para adequar a tributação a esse patamar
Há ainda um movimento de queda nas ações de empresas ligadas ao varejo, explica o economista. “Nós sabemos que uma taxa de juros elevada penaliza mais alguns setores do que os outros, e isso inclui o comércio varejista.”
A nova decisão do Copom sobre os juros foi anunciada na véspera, após o fechamento dos mercados.
O comitê decidiu aumentar o ritmo e elevar a Selic em 1 p.p., na maior alta de juros do governo Lula e na maior escalada desde fevereiro de 2022, quando a elevação foi de 1,5 p.p..
No comunicado, o Copom adotou um tom mais duro do que o esperado pelo mercado, falando sobre um cenário “menos incerto e mais adverso” e indicando uma taxa de juros de 14,25% ao ano em 2025.
O BC sempre apresenta um balanço de riscos, que são os fatores que têm levado em conta para suas decisões de juros. A surpresa foi o reforço ao fato de que foram confirmadas as pioras nas expectativas.
No comunicado, indica ainda que seguimos com mais riscos de alta que de baixa de juros, o que explica não só a aceleração do aumento das taxas, como a repetição de novos aumentos a seguir.
Os riscos citados que piorariam as altas foram:
Uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado: ou seja, de que analistas continuem esperando que a dinâmica de preços persista acima da meta de inflação para os próximos anos.
Uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo: isto é, que os preços do setor de serviços, o principal da economia brasileira, continuem surpreendendo, porque os níveis de oferta e demanda estariam ficando cada vez mais próximos, causando um desequilíbrio da inflação.
Uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada: seria o caso em que o aumento da percepção de risco na economia faria a moeda brasileira perder ainda mais força, piorando a inflação pelo reajuste de preços na cadeia de produção.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, destaca que a economia brasileira segue bastante aquecida, o que “dificulta muito” o trabalho do Banco Central.
“Ontem, o BC deu um choque nos juros. Hoje pela manhã o dólar apreciou bem, mas virou e começou a subir. Os juros longos tiveram leve queda, enquanto os curtos subiram muito. Os dados mostram que o BC brasileiro vai ter uma árdua luta pela frente”, diz.
Para o economista, já é possível projetar um crescimento de 4% no PIB este ano, com uma inflação encostando nos 5%. “O BC vai colocar os juros perto de 15%, e há uma pressão muito violenta do dólar”, destaca Gala, ao reforçar os desafios da autoridade monetária.
Dólar mais caro, PIB mais forte e mercado de trabalho aquecido são fatores que tendem a colaborar com a alta dos preços. Para conter a inflação, portanto, o principal recurso utilizado pelo BC é a elevação da Selic, a taxa básica de juros do país.
O mercado também seguiu atento ao estado de saúde do presidente Lula, que precisou passar por mais um procedimento nesta quinta para evitar um novo sangramento na cabeça. A intervenção aconteceu pela manhã e, segundo o médico responsável, foi “um sucesso”.
A técnica não é considerada uma cirurgia, mas um “procedimento endovascular (embolização de artéria meníngea média)”, e não vai influenciar na previsão de alta da UTI, que deve sair ainda nesta quinta. A intervenção faz parte do protocolo pós-cirúrgico.
Por fim, o quadro fiscal do país continua no radar, em meio ao receio de que a aprovação do novo pacote de cortes de gastos do governo federal possa enfrentar resistência no Congresso Nacional e diante da aprovação da regulamentação da reforma tributária pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
No exterior, o foco fica com novos dados de inflação ao produtor nos EUA, após a divulgação dos preços ao consumidor na véspera. O indicador é uma das principais variáveis consideradas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para a condução de juros do país.
Dados de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos também fica na mira dos investidores.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas de juros pela quarta vez este ano e manteve a porta aberta para um maior afrouxamento em 2025, conforme as preocupações com a inflação diminuíram.
O grande debate mudou para se a rapidez dos cortes será suficiente para apoiar uma economia estagnada que está ficando para trás de seus pares globais.
Prevendo que a inflação voltará à sua meta de 2% no início de 2025 e que o crescimento permanecerá lento, o BCE reduziu sua taxa de depósito de 3,25% para 3%, em linha com as expectativas.
“A maioria das medidas de inflação subjacente sugere que a inflação se estabelecerá em torno da meta de médio prazo de 2% do Conselho do BCE em uma base sustentada”, disse o BCE, removendo a promessa anterior de manter a política monetária “suficientemente restritiva”.

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