Em menos de 24 horas, protestos contra Maduro têm mortes e centenas de detenções na Venezuela

A oposição afirma que um oposicionista foi sequestrado. O chefe das Forças Armadas, aliado de Maduro, acusa a oposição de tentar um golpe de Estado. Lula pede atas de votação, mas diz que não há nada ‘grave’ na eleição da Venezuela
O presidente Lula deu nesta terça-feira (30) pela manhã a primeira declaração sobre a crise que eclodiu na Venezuela com a eleição presidencial de domingo (28). Lula disse que não tem nada de grave e pediu a divulgação das atas eleitorais. Mas, no país vizinho, em menos de 24 horas, protestos contra Nicolás Maduro tiveram mortes e centenas de detenções.
Contra o panelaço em apartamentos, tiros. Contra manifestantes nas ruas, granadas de efeito moral. Em todo o país, ataques contra estátuas do ex-presidente Hugo Chávez, o antecessor de Maduro e criador do regime bolivariano.
Em frente à embaixada da Argentina em Caracas, cidadãos impediram a invasão de policiais. O prédio abriga seis oposicionistas de Nicolás Maduro.
A organização não-governamental Foro Penal afirma que onze pessoas morreram em manifestações de protesto desde domingo (28).
Em redes sociais, a oposição divulgou imagens do que seria o sequestro do ex-deputado Freddy Superlano. Ele foi retirado do carro à força, debaixo de protestos de testemunhas, e levado para outro veículo. Duas pessoas que o acompanhavam também foram detidas. O líder da oposição ainda tentou se desfazer do celular, jogando-o longe do carro, mas um agente recolheu o aparelho depois. Foi o partido de Freddy Superlano, o VP, que denunciou o sequestro.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, que é aliado de Nicolás Maduro, disse que mais de 700 – nas palavras dele – criminosos foram detidos em diversas cidades.
O candidato que disputou a eleição contra Maduro, Edmundo González, pediu que as Forças Armadas deixem de reprimir manifestações:
“Nós, venezuelanos, queremos paz e respeito à vontade popular. A verdade é o caminho para a paz”.
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Em uma reunião com o Conselho de Estado, Nicolás Maduro afirmou que Edmundo González e a ex-deputada Maria Corina Machado são responsáveis diretos pela violência criminosa, pelos mortos, pelos feridos e pela destruição na Venezuela; e disse que “a Justiça vai chegar”.
O ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas, Vladimir Padrino, acusou a oposição de tentar um golpe de Estado, com o apoio dos Estados Unidos, e expressou “lealdade absoluta e apoio incondicional das forças armadas a Maduro”.
Mas, na segunda-feira (29), no extremo norte da Venezuela, policiais emocionados retiraram a farda. Eles trabalhavam para conter um protesto e decidiram não agir para reprimir os manifestantes.
A oposição afirma ter provas de fraude nas eleições e criou um portal com dados que seriam de atas eleitorais que comprovariam a vitória de Edmundo González. A oposição afirma que já tem 73% das atas que provam que Edmundo González teve 70% dos votos.
No início da tarde, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e coordenador da campanha eleitoral de Nicolás Maduro, Jorge Rodríguez, pediu a prisão de Edmundo González e da ex-deputada María Corina Machado, principal líder da oposição, segundo ele, por conspirarem contra a Venezuela.
Os dois líderes da oposição participaram nesta terça-feira (30) de uma manifestação no Centro de Caracas contra o resultado das eleições e contra a proclamação da vitória de Nicolás Maduro. María Corina Machado afirmou:
“A Venezuela tem seu presidente: Edmundo González. Hoje, o mundo inteiro sabe o que nós, venezuelanos, sabemos”.
O assessor especial da Presidência do Brasil, embaixador Celso Amorim, voltou de Caracas nesta terça-feira (30) para Brasília e esteve com o presidente Lula para fazer um relato da situação. Durante a estada na Venezuela, Amorim se encontrou com Nicolás Maduro e com representantes da oposição. O governo brasileiro ainda não reconheceu os resultados da eleição na Venezuela.
Nesta terça-feira (30) pela manhã, em entrevista à repórter Eunice Ramos, da Rede Matogrossense, afiliada da TV Globo, o presidente Lula voltou a dizer que o Brasil vai esperar a divulgação das atas para reconhecer o resultado das urnas.
“Na conversa com o Maduro foi dito o seguinte: O Celso perguntou para ele: ‘Bom, as coisas só vão ficar definidas quando apresentarem a ata’. Ele falou: ‘Eu vou apresentar a ata’. Só não disse quando, mas disse que vai apresentar a ata. Na conversa com a oposição, a mesma coisa. Ele disse que tem 70% das atas. Então, nós tivemos um processo eleitoral que teoricamente foi pacífico. Não houve violência, não houve nada disso. Tem um resultado apertado. Um resultado apertado, ou seja, então sempre que tem uma disputa apertada, as pessoas têm dúvida”, disse.
“É normal que tenha uma briga. Como é que vai resolver essa briga? Apresentar a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com recurso e vai esperar a Justiça tomar o processo. E aí vai ter uma decisão que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo. O que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de se expressar, tenham o direito de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo”, afirmou.
Lula continuou:
“Eu, na hora que tiver apresentadas as atas e for consagrada que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela. O presidente Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver, mais chance ele terá de ter tranquilidade para governar a Venezuela. Porque nós, eu enquanto cidadão do planeta Terra, enquanto cidadão brasileiro, contra presidente, eu acho que é preciso acabar com a ingerência externa nos outros países”.
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