Crédito para crescer: a luta de empreendedores maranhenses por recurso financeiro para investir nos negócios


O g1 conta a história de quatro empreendedores maranhenses que buscaram crédito junto a bancos, para alavancar seus negócios, e se depararam com a burocracia. Crédito para crescer: a luta de empreendedores maranhenses por recurso financeiro para investir nos negócios
Arquivo pessoal
Começar um negócio não é tarefa fácil, seja como microempreendedor ou pequeno empresário, os desafios são grandes. Desafios esses que Luyalan Figueiredo conhece bem, há dois anos ele abriu uma microempresa de clube de benefícios e também é microempreendedor individual (MEI) de um delivery de lanches em São Luís.
O sucesso veio e Luyalan já colhe os frutos do seu trabalho, mas chegar até aqui foi uma jornada marcada por muitas dificuldades. Além de conquistar o crédito dos consumidores, ele precisou lutar para obter o crédito financeiro tão necessário para investir nos negócios.
Ao g1, Luyalan destacou que após montar seu modelo de negócio buscou logo a formalização junto ao Sebrae, para obter as vantagens de ser legalizado. “Quando nós formalizamos o nosso negócio, nós temos vários benefícios no mercado, nós temos linhas de crédito exclusiva para os empreendedores formalizados, nós temos planos de saúde específicos também, só para as empresas, então nós temos uma série de benefícios em vários estabelecimentos, em vários lugares de acordo com a formalização do nosso negócio”.
Luyalan Figueiredo abriu uma microempresa de clube de benefícios e também é microempreendedor individual (MEI) de um delivery de lanches em São Luís.
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Porém, mesmo estando registrado como MEI e microempresário, Figueiredo esbarrou na burocracia, quando precisou buscar uma linha de crédito bancária para investir em seus empreendimentos. O empresário afirma que ter esse investimento foi um dos maiores desafios para ele, pois, nos primeiros meses de qualquer negócio não se vê lucro, as vendas são pequenas ainda, já que o produto não é conhecido no mercado. E, para alavancar o negócio é preciso ter verba para investir.
“Você pode estar com o nome limpo, a empresa faturando o valor que o governo pede, você pode estar enquadrado em todos os pré-requisitos para receber o crédito e mesmo assim alguns bancos começam a botar dificuldades, botar burocracia. Vou dar um exemplo, o gerente de um banco falou que, para eu ter acesso a esse crédito, eu teria que primeiro ter um histórico em outro crédito, aí o Sebrae me orientou e falou, não, isso daí não tem nada a ver”.
Figueiredo conta que o banco estava querendo oferecer linhas de crédito própria, enquanto que o interesse do empresário era obter o crédito por meio de benefícios do governo, que entra com o fundo garantidor. E foi a partir da orientação do Sebrae, que Luyalan conseguiu desburocratizar o processo de busca pelo crédito e obteve o investimento financeiro necessário para os seus empreendimentos.
O empresário buscou uma linha de crédito a qual o governo oferece para os pequenos empresários sem ter burocracia, além disso, o pequeno empresário tem uma carência para pagar e ainda conta com juros bem baixos, sem comprometer o caixa da empresa para poder investir na própria empresa.
Com o investimento em caixa, criatividade e determinação, Luyalan tem visto seus empreendimentos crescerem e terem crédito diante dos consumidores.
“A Karol Salgados, que é uma lanchonete delivery, é uma das poucas em São Luís que funciona na parte da madrugada, indo até 3h45 da manhã. Nós trabalhamos com vários lanches, sendo pizza dobrada, cachorro-quente, coxinhas, todos os nossos salgados são assados. Com a obtenção do crédito, nós estamos investindo nos nossos negócios. Na lanchonete delivery, nós temos uma clientela, um nome um pouco conhecido e um faturamento. Então, nosso objetivo agora é investir em um ponto fixo, para que consigamos atender mais clientes e atender a demanda que está crescendo bastante”, destaca.
No clube de benefícios, o crescimento também veio e há perspectiva de mais crescimento do negócio.
“O outro empreendimento é o Bem Clube, que é um clube de benefícios onde nós estamos agora fechando uma parceria com uma fabricante de um complemento alimentar, para as cartilagens e articulações do corpo. Nós estamos preparando um estoque para atender pessoas na nossa cidade, preparando layout, marketing, ferramentas de vídeo, para fazer uma divulgação do nosso produto”, comemora.
Frustrados com a burocracia
Quem também está na luta para alavancar o próprio negócio é Ailson Pimentel, há cinco anos ele abriu uma microempresa de distribuição de água mineral, a Super Mix Distribuidora, no bairro do São Cristóvão, em São Luís.
Ailson trabalhou por 14 anos como gerente de uma empresa de água mineral, até que saiu para abrir uma microempresa, voltada para a distribuição de água da própria empresa em que trabalhava.
Ailson Pimentel abriu uma microempresa de distribuição de água mineral, a Super Mix Distribuidora, no bairro do São Cristóvão, em São Luís.
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Após se formalizar junto ao Sebrae, onde contou com o suporte de um consultor, Ailson foi em busca de investimento financeiro para comprar estoque de água mineral e conseguir obter lucro com seu negócio, mas o empresário também encontrou dificuldades em obter crédito junto ao banco.
“A principal dificuldade para liberar o crédito é que, mesmo pelo projeto do governo federal, querem que a empresa tenha movimentação. Mas como? Se estamos iniciando a empresa agora?”, questiona Ailson Pimentel.
Segundo Ailson, apesar de a empresa dele ter cinco anos, ela não teve movimentação no ano passado, pois ele estava em busca de recursos para conseguir dar continuidade nos negócios e, neste ano, ele pretendia obter o crédito para comprar água e reiniciar a distribuição a partir do mês de agosto, porém, ele ainda não conseguiu obter esse recurso financeiro, por causa da burocracia do banco.
Ailson Pimentel abriu uma microempresa de distribuição de água mineral, a Super Mix Distribuidora, no bairro do São Cristóvão, em São Luís.
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“Eles não estão querendo liberar o investimento. E tem investimentos que são feitos pelo governo federal, que são mais fáceis, mas mesmo assim, estão com dificuldade na liberação. O gerente do banco me disse que não consegue nada de limite. Aí eu falei pra ele, como é que nós vamos começar se vocês não dão oportunidade? Como é que o pequeno empresário vai começar?”.
Quem também tentou obter crédito financeiro para investir no seu empreendimento foi a empresária Jacirene França, há cinco anos ela largou o emprego de consultora em processos industriais, em uma instituição privada, e abriu o Brechó Mulheres, na cidade de Paço do Lumiar, na Região Metropolitana de São Luís.
Consultora deixa emprego formal para abrir brechó: ‘é mais que vender roupas usadas, é empoderamento, moda sustentável e consumo consciente’
Robson Diniz
Depois de passar por uma série de treinamentos e receber consultorias, ela conseguiu abrir o negócio, a princípio, com vendas online. Ao g1, Jacirene conta que, quando decidiu abrir a loja física, ela tentou obter um crédito junto a um banco privado e foi três vezes na agência, só para tentar abrir uma conta, e não conseguiu.
“Quando eu retornei depois, pela terceira vez, eu me dei conta que eles não tinham aberto a conta. Aí eu chamei o gerente e disse: ‘você acha que eu não tenho o que fazer? Eu já estou aqui pela terceira vez, eu percebo que a nossa conversa não evolui, o processo não evolui, nem minha conta foi aberta’. Vi um total desrespeito, uma desconfiança. Então eu fiquei desacreditada também e saí de lá e nunca mais voltei”, relata a empresária.
Apesar de não ter conseguido o investimento financeiro que precisava, Jacirene França conseguiu, com criatividade, determinação e muito trabalho, tornar o brechó um negócio de sucesso. Ela abriu a loja física e, hoje, faz tanto vendas online como presencial.
Jacirene França decidiu se lançar em uma missão que agrega empreendedorismo e sustentabilidade.
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E o que poderia ser apenas a venda de roupas usadas, se tornou um negócio voltado ao resgate da autoconfiança feminina, a adoção de moda sustentável e, principalmente, ao consumo consciente, por meio da moda circular.
“Eu apostei no meu conhecimento, apostei no amor que eu tenho por esse universo da roupa, por acreditar que o mercado de moda precisa focar muito no pós-consumo. A gente tem muita responsabilidade em relação a tudo isso que tá acontecendo, em relação a esse mercado que cada vez mais é descartável”, afirma.
Apesar do sucesso do seu empreendimento, Jacirene destaca que o crédito que ela não conseguiu obter no início fez muita falta, pois o negócio dela poderia estar em outro patamar.
“Se eu tivesse obtido o crédito, meu negócio, com certeza, estaria em outro nível, porque eu sabia exatamente o que fazer e eu executei exatamente como eu tinha planejado, só que com menos ousadia, porque eu não tinha capital para isso. E eu fui trabalhar e juntar para investir, então, passou mais tempo, demorou mais para eu fazer as melhorias que eu gostaria de fazer. Então, demorou porque eu não tinha capital de giro, estava começando do zero”, ressalta.
Outra empreendedora que alcançou o sucesso do seu negócio, mas por conta própria, sem ter ajuda de bancos, foi a Letícia Almeida, que há 10 anos trabalha com a produção de doces e salgados para quem tem dietas restritivas.
Após ter filho com alergias alimentares, mãe investe na produção de doces e salgados para quem tem dietas restritivas.
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O empreendimento teve como inspiração o primeiro filho dela, que nasceu com alergias alimentares. Mesmo sem ter afinidade com a cozinha, Letícia buscou se especializar em cozinha e se tornou referência em alimentação para alérgicos em São Luís.
Ao g1, Letícia relata que, há cerca de 6 anos, ela foi em um banco buscar empréstimo para o seu empreendimento, porém, o gerente lhe disse era difícil, porque ela não tinha sócios e era MEI, então ela desistiu de tentar obter o recurso.
Letícia é mãe de Ricco, de 10 anos, e também da Ísis Antonella, de 6 anos.
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“Se conseguisse seria muito interessante, porque eu iria expandir meu negócio, teria um espaço físico só para produção e atendimento aos clientes, fora da residência. Além de investir em maquinários e mais opções de produtos para meu cliente”, destaca.
Letícia afirma que o empreendedor precisa ter mais informações sobre como obter crédito e menos burocracia.
“Hoje para pedir crédito, na verdade nem sei ao certo o que precisa tanto, mas, acredito que é preciso mais informações e orientação ao microempreendedor, sem tantas burocracias. Até pela parte do Sebrae, ajudando o empreendedor com um plano de negócio elaborado, com valores mais acessíveis”.
Crédito para pequenos negócios no MA
O Sebrae oferece o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe).
Divulgação/Sebrae
Segundo o Sebrae, a falta de garantias reais, por parte dos pequenos negócios, é uma das principais barreiras para o acesso ao crédito produtivo. Por isso, o Sebrae oferece o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), que contribui para diminuir as dificuldades que os pequenos negócios enfrentam para atender aos pré-requisitos adotados pelas instituições financeiras no momento da concessão de um financiamento.
Para conseguir ter acesso ao Fampe, o empreendedor deve consultar o gerente da instituição financeira na qual possui relacionamento bancário, analisar as linhas de crédito adequadas às suas necessidades e verificar se a instituição tem convênio com o Sebrae para operacionalizar o Fampe.
Depois, o empreendedor deve seguir as diretrizes do banco, como elaborar um plano de negócios ou uma proposta de crédito, para dar andamento na análise de crédito.
“A disponibilização de crédito para investimento é fundamental para a estruturação de novos negócios, desenvolvimento e inovação dos negócios já existentes. A oferta de crédito para os pequenos negócios coloca nos empreendedores a prática do planejamento dos seus negócios, de tal maneira que sejam devidamente projetados tanto a captação quanto a aplicação do recurso e resultados a serem alcançados. O recurso circulante em âmbito regional direcionado ao fomento da modernização e estruturação de pequenos negócios gera uma dinâmica socioeconômica virtuosa, com impacto na ampliação de oportunidades para as empresas e pessoas”,destaca o diretor técnico do Sebrae no Maranhão, Mauro Borralho.
Diretor técnico do Sebrae no Maranhão, Mauro Borralho.
Divulgação/Sebrae
O Sebrae aponta que, O Fampe é uma garantia complementar para concessão de crédito a micro e pequenas empresas pelos bancos e instituições financeiras conveniadas. Mas o empreendedor precisa dispor, também, de garantias próprias no momento da aquisição do empréstimo, pois os recursos do Fundo só avalizam parte do valor da operação.
Pequenos negócios formalizados (MEI, ME e EPP) e pequenas agroindústrias formalizadas podem acessar esse benefício, bastando apresentar proposta de crédito junto a um dos bancos ou instituições financeiras conveniadas ao Sebrae. Caso o solicitante tenha dúvidas, pode procurar o Sebrae para buscar orientação.
“O Sebrae contribui nesse sentido ao, junto com seus parceiros, instituições financeiras, oferecer suporte ao empreendedor para avaliação e levantamento de suas necessidades de crédito e para o uso do crédito consciente, algo fundamental para evitar o endividamento e comprometer a capacidade de o empreendedor crescer e desenvolver seus negócios”, explica Mauro Borralho.
De acordo com o Sebrae, de 1º de janeiro de 2022 a 30 de junho de 2024, 907 pequenos negócios no Maranhão foram beneficiados com a garantia complementar do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas, em operações de crédito. O montante em empréstimos foi de R$ 74,5 milhões, com R$ 59,5 milhões desse valor tendo o Fampe como avalista.
No Nordeste, foram 17.064 operações, no total, que resultaram na obtenção de pouco mais de R$ 1 bilhão em crédito, sendo R$ 858,2 milhões garantidos pelo Fundo.
Entre os pequenos negócios beneficiados pelo Fampe no Maranhão:
166 são microempreendedores individuais (MEI)
170 são microempresas
571 são empresas de pequeno porte (EPP)
O setor do comércio responde por 71,2% dos empréstimos, e a indústria por 21,6%.
“Os recursos captados pelos pequenos negócios junto às instituições financeiras são investidos, muitas vezes, na modernização do empreendimento, a exemplo de aquisição de maquinário, equipamentos, novas instalações, mas também na compra de matérias-primas, insumos e até mesmo para formar capital de giro. Essa injeção de recursos permite às micro e pequenas empresas se desenvolverem com maior rapidez, gerando também mais empregos, o que traz impactos positivos para economia local e regional”, analisa o gerente da Unidade de Serviços Financeiros do Sebrae no Maranhão, Jaime Coelho.
Programa Acredita do governo federal
Ministro Márcio França, fala ao g1 sobre o programa Acredita
Outra possibilidade de os pequenos negócios obterem crédito, é por meio do programa Acredita, que foi lançado pelo governo federal no dia 22 de abril. Segundo o governo, o objetivo é oferecer crédito com taxas de juros diferenciadas para quem mais precisa: os pequenos empreendedores.
O programa cria linhas de crédito para públicos variados:
Usuários do CadÚnico, que terão acesso a microcrédito orientado, a empresas de pequeno porte.
MEIs e microempresas – a iniciativa traz uma linha de crédito especial, com juros diferenciados, o ProCred 360.
O programa Acredita foi dividido em quatro grandes eixos:
Acredita no primeiro passo
Acredita no seu negócio
Acredita no crédito imobiliário
Acredita no Brasil Sustentável
De acordo com o Sebrae, inicialmente, ele participará dos dois primeiros eixos, sendo que, no “Acredita no primeiro passo”, a instituição vai atuar indiretamente orientando empreendedores informais inscritos do CadÚnico a formalizarem seus negócios.
Já no “Acredita no seu negócio”, será oferecido aos empreendedores uma jornada assistida de acesso ao crédito, em cinco passos, que vai da avaliação da necessidade de empréstimo por meio da Calculadora de Planejamento Financeiro Empresarial até à elaboração da proposta de crédito a ser apresentada ao banco ou instituição financeira escolhida pelo empresário.
Além disso, o Sebrae firmou convênio com instituições financeiras para utilização do Fampe como garantia em até 80% do valor de operações de crédito para micro e pequenas empresas.
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