Suíça impõe exigência de capital adicional de US$ 26 bi ao UBS; ações sobem

O governo suíço propôs, nesta sexta-feira (6), regras mais rígidas para a ação UBSG.S, do UBS, após a aquisição do Credit Suisse, o que poderia fazer com que o banco detivesse US$ 26 bilhões a mais em capital principal, confirmando alguns dos piores temores do banco em relação às novas regulamentações.

A principal proposta, para a qual o banco teria de seis a oito anos para se preparar após a entrada em vigor da lei, é que o UBS deve capitalizar integralmente suas unidades estrangeiras, em linha com o que muitos analistas, legisladores e executivos esperavam.

As ações do UBS, que ficaram atrás de seus pares europeus em meio a meses de incerteza sobre as propostas, subiram após sua divulgação na tarde desta sexta-feira, subindo até 7% e a caminho de seu melhor dia desde maio de 2024. Ainda assim, o banco criticou o plano de capital como “extremo” e internacionalmente desalinhado.

O governo afirmou que sua proposta de requisito de capital permitiria ao UBS reduzir sua participação em títulos de Nível 1 Adicional (AT1) em US$ 8 bilhões. Atualmente, o UBS precisa capitalizar apenas 60% de suas unidades estrangeiras e pode cobrir parte do capital com dívida AT1.

Executivos do UBS afirmam que a carga adicional de capital colocará o banco com sede em Zurique em desvantagem em relação aos rivais e prejudicará a competitividade da Suíça como centro financeiro.

O choque na Suíça com o colapso do Credit Suisse em 2023 foi tão grande que políticos de alto escalão, liderados pela ministra das Finanças, Karin Keller-Sutter, prometeram introduzir regras mais robustas que protegeriam os contribuintes e evitariam outro colapso no futuro.

Keller-Sutter agora ocupa a presidência rotativa da Suíça por um ano, e o anúncio desta sexta-feira dará início a um longo período de disputas políticas sobre as medidas, que o conselho federal governante chamou de “direcionadas e proporcionais”.

“Elas são cruciais para a estabilidade do setor financeiro e, portanto, para a proteção da economia e dos contribuintes”, disse Keller-Sutter em uma coletiva de imprensa.

Dependendo da resposta do UBS, os requisitos de capital podem acabar sendo significativamente menores, disse ela.

Uma investigação parlamentar realizada no ano passado observou que, desde que o UBS comprou o Credit Suisse por 3 bilhões de francos suíços (US$ 3,65 bilhões) em março de 2023, o banco tem um balanço patrimonial maior que a economia suíça e instou os formuladores de políticas a levarem em consideração as unidades estrangeiras.

O conselho federal afirmou que apresentaria minutas das propostas para consultas com as partes interessadas no segundo semestre de 2025. Autoridades do Ministério das Finanças afirmam que as leis que exigem aprovação parlamentar não entrarão em vigor antes de 2028.

Medidas separadas, conhecidas como portarias, que podem ser emitidas diretamente pelo governo, podem ser aplicadas a partir do início de 2027.

Um período de transição de seis a oito anos parecia apropriado para o UBS cumprir as novas regras de capitalização de unidades estrangeiras a partir da data em que entrarem em vigor, afirmou o governo.

Isso poderia dar ao banco até meados da década de 2030 para se adequar.

Possível alvo?

Fontes dentro do banco alertaram que as novas regulamentações podem tornar o UBS um alvo atraente para aquisição.

Entre os cenários que o banco examinou está a transferência de sua sede para fora da Suíça, segundo fontes do UBS, e Keller-Sutter disse esperar que a instituição permaneça no país.

“No fim das contas, essa é uma decisão da empresa”, disse ela na coletiva de imprensa.

De acordo com as propostas suíças, o índice de capital Common Equity Tier 1 (CET1) do UBS pode acabar sendo um pouco maior do que o de rivais globais, afirmou o governo. O índice CET1 do UBS, de 14,3%, pode subir até 17%, acima de rivais como JPMorgan JPM.N, com 15,8%, Morgan Stanley MS.N, com 15,7%, e 15,3% do Goldman Sachs, afirmou.

O UBS afirmou discordar veementemente do “aumento extremo” nos requisitos de capital propostos, que, segundo ele, exigiriam que o banco mantivesse cerca de US$ 24 bilhões em capital CET1 adicional.

As ações do UBS subiram mais de 60% nos 12 meses seguintes à aquisição do Credit Suisse. Mas, desde então, o desempenho das ações tem sido bastante inferior; as ações do UBS perderam cerca de 5% no último ano, enquanto o principal índice bancário europeu, o .SX7P, subiu 37%.

Analistas afirmam que as novas regulamentações podem desencadear uma reformulação do modelo de negócios do UBS, que agora se concentra no crescimento nos Estados Unidos e na Ásia. Para amenizar as regras, o banco pode ser tentado a vender alguns ativos, afirmam especialistas do setor bancário.

“A primeira estratégia de mitigação é otimizar o uso de capital em todo o grupo”, disse Antonio Roman, gestor de portfólio da Axiom. “Uma segunda opção, mais disruptiva, seria a venda da unidade americana, que poderia liberar até US$ 50 bilhões em capital se encontrasse um comprador pelo seu valor contábil.”

O governo suíço também estabeleceu reformas graduais para fortalecer a agência reguladora do mercado, a FINMA, que foi duramente criticada por sua resposta ao colapso do Credit Suisse.

Isso inclui medidas destinadas a responsabilizar os banqueiros, dando ao regulador o poder de impor multas e facilitando a restrição salarial e a recuperação de bônus. Ainda assim, as propostas surgem anos depois de a União Europeia ter introduzido medidas semelhantes na sequência da crise financeira de 2007-2009.

O governo também propôs facilitar o acesso dos bancos à liquidez do Banco Nacional Suíço.

As barreiras à transferência de garantias para o BNS também serão removidas.

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