Gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral foram usados para dispersar manifestantes que protestavam contra operações de imigração no centro de Los Angeles, após dezenas de pessoas terem sido presas por agentes federais de na sexta-feira (6) — entre elas, uma importante líder sindical.
Na noite de sexta-feira, a polícia emitiu um alerta tático em toda a cidade, cerca de duas horas depois de declarar as manifestações no centro como reuniões ilegais.
“O uso de munições menos letais foi autorizado pelo comandante da ocorrência”, escreveu a Divisão Central do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD) em uma postagem na rede X.
Vídeos do local mostram policiais com equipamento de choque, empunhando cassetetes, escudos e lançando bombas de fumaça contra a multidão.
Os manifestantes entoavam gritos de “Libertem todos” e exibiam cartazes com frases como “direitos plenos para todos os imigrantes” e “parem as deportações”.
Em um dos vídeos, vários policiais com roupas de choque aparecem imobilizando ao menos uma pessoa no chão.
O protesto ocorreu após a prisão de pelo menos 44 pessoas por agentes federais de imigração mais cedo naquele dia, segundo a Associated Press.
De acordo com um porta-voz da Divisão de Investigações de Segurança Interna, os agentes do Serviço de Imigração cumpriram mandados de busca em três locais diferentes. As prisões ocorrem no contexto da repressão à imigração conduzida pelo presidente Donald Trump, que tem promovido uma série de batidas e deportações em todo o país.
A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, classificou as prisões relacionadas à imigração como “caos total”, segundo a afiliada da CNN, KABC.
A prefeita afirmou que não foi informada previamente sobre as operações. “Isso semeia um sentimento de terror em toda a comunidade”, disse ela. “A agência de imigração estava literalmente correndo atrás das pessoas na rua.”
A ação das autoridades federais ocorreu no mesmo dia em que várias fontes informaram à CNN que o governo Trump está se preparando para um cancelamento em larga escala de repasses federais para a Califórnia.
A CNN entrou em contato com o Departamento de Segurança Interna em busca de mais informações.
Uma das operações de sexta-feira ocorreu no Fashion District, em Los Angeles, onde agentes cumpriram um mandado de busca após um juiz determinar que uma empresa estaria supostamente utilizando documentos falsos para empregar alguns de seus trabalhadores, informou à CNN o porta-voz da Procuradoria dos EUA, Ciaran McEvoy.
Prisão de líder sindical
David Huerta, presidente do sindicato SEIU California (Serviço dos Empregados da União Internacional), foi preso por agentes federais após supostamente tentar obstruir o acesso dos agentes a um local de trabalho, segundo informou o procurador dos EUA para o Distrito Central da Califórnia, Bill Essayli, em uma postagem no X.
“Deixe-me ser claro: não me importa quem você seja — se você impedir agentes federais, será preso e processado”, disse Essayli.
Após receber atendimento por ferimentos sofridos durante a prisão, Huerta divulgou um comunicado condenando as operações realizadas em toda a cidade.
“Pessoas trabalhadoras, membros de nossas famílias e de nossa comunidade, estão sendo tratadas como criminosas”, disse Huerta. “Todos nós, coletivamente, temos que nos opor a essa loucura, porque isso não é justiça. Isso é injustiça. E todos nós precisamos estar do lado certo da justiça.”
“Ninguém deveria ser ferido por testemunhar uma ação do governo”, disse o governador da Califórnia, Gavin Newsom, em comunicado sobre a prisão de Huerta, descrevendo o presidente sindical como um “líder respeitado, um patriota e um defensor dos trabalhadores”.
A prefeita Karen Bass afirmou que as prisões de sexta-feira diferiram de ações migratórias anteriores, que eram mais organizadas.
“Estou muito preocupada com isso desde o início e, até onde sei, é a primeira vez que algo assim acontece em nossa cidade”, disse ela à KABC. “Sabemos que a imigração já esteve aqui antes, mas eram prisões direcionadas; isso foi puro caos.”
“Isso semeia um sentimento de caos em nossa cidade, e de terror — e isso é simplesmente inaceitável.”
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) pediu que “os representantes eleitos cumpram seu compromisso com todos os moradores de Los Angeles — imigrantes e não imigrantes — tomando todas as medidas necessárias para interromper essa operação paramilitar opressiva e repugnante e manter nossa cidade segura e unida”, segundo comunicado divulgado na sexta-feira.
Manifestantes entram em confronto com a polícia
Manifestantes se reuniram em frente ao Prédio Federal no centro de Los Angeles, segundo informou a afiliada da CNN, KABC. Em determinado momento, centenas de ativistas começaram a marchar em direção a um centro de detenção na Temple Street.
Um vídeo obtido pela CNN mostra manifestantes recuando da entrada do prédio após se depararem com policiais que faziam a segurança do local. Vários projéteis são lançados contra os agentes, que estavam equipados com coletes e escudos de proteção.
Outros vídeos mostram o centro de detenção pichado com mensagens contra os agentes de imigração, enquanto alguns manifestantes bloqueiam veículos do Departamento de Polícia de Los Angeles nas proximidades.
Famílias e amigos de pessoas detidas pelas autoridades de imigração foram até o centro de detenção para buscar informações sobre a situação de seus entes queridos, informou a KABC.
Uma jovem que falou com a emissora disse que foi até o prédio chorando, após seu pai ter sido levado por agentes federais.
Na noite da sexta, o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD) declarou a manifestação como reunião ilegal e alertou que os manifestantes poderiam ser presos caso permanecessem na área.
Imagens aéreas da KABC mostram agentes de segurança lançando bombas de fumaça em uma rua para dispersar as pessoas e abrir caminho para carros e veículos de estilo militar.
“Embora a polícia continue com presença visível em todas as nossas comunidades para garantir a segurança pública, não iremos ajudar nem participar de qualquer tipo de deportação em massa, nem tentaremos determinar o status migratório de qualquer indivíduo”, declarou o chefe de polícia Jim McDonnell em comunicado sobre as ações de fiscalização migratória.
“Quero que todos, incluindo nossa comunidade imigrante, se sintam seguros para chamar a polícia quando precisarem e saibam que a polícia de Los Angeles estará lá por vocês, independentemente do status migratório de cada um”, acrescentou o chefe de polícia Jim McDonnell.
O governador Gavin Newsom declarou no sábado (7): “As varreduras federais caóticas que continuam acontecendo por toda a Califórnia, para cumprir uma meta arbitrária de prisões, são tão imprudentes quanto cruéis.”
“O caos promovido por Donald Trump está corroendo a confiança, destruindo famílias e enfraquecendo os trabalhadores e as indústrias que movem a economia dos Estados Unidos”, afirmou o governador.