Trump quer fechar a economia dos EUA. É hora de fortalecer os Brics

Protesto em NY contra política econômica de Trump durante seu primeiro mandato.
Fonte: Z_deadartist/Unsplash

O fim das eleições americanas e o anúncio da vitória eleitoral de Donald Trump suscitam diversas especulações sobre o futuro.

Temas como a reorganização e o fortalecimento da extrema direita, a problemática humanitária relacionada às migrações e a urgência das questões ambientais, negligenciadas pelos negacionistas climáticos, estão entre os principais pontos de discussão.

No campo econômico, a vitória dos Republicanos também gera tensão naqueles que apostaram em uma opção mais estável e tradicional de neoliberalismo, representada pela candidatura de Kamala Harris.

Crise de 2008, saída pela direita

Desde 2008, o capitalismo enfrenta mais uma de suas crises cíclicas. No entanto, ao contrário das anteriores, essa crise ainda não cumpriu seu objetivo principal: reorganizar os capitais em um nível qualitativamente superior de acumulação, à medida que retoma taxas de crescimento com novas modalidades de exploração dos mais pobres.

Parece que, desde então, embora os trabalhadores tenham arcado com os custos da crise, as taxas de crescimento e os lucros dos capitalistas ainda não voltaram à normalidade.

A solução para a crise do neoliberalismo foi encontrada dentro do próprio sistema, com o surgimento de variantes que dispensam certos valores liberais e apostam em saídas conservadoras e autoritárias na política, para preservar políticas liberais na economia.

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Esse cenário de mudança, paradoxalmente, colocou em xeque as próprias instituições erigidas pelos EUA na virada da década de 1980, como a globalização produtiva e financeira e a plena liberdade comercial.

A globalização produtiva deslocou a indústria para o leste asiático, transferindo empregos de classe média da economia americana para a China e ameaçando a hegemonia dos EUA nos campos tecnológico e, agora, monetário-financeiro.

América em primeiro lugar, caos em segundo

Buscando retomar seu protagonismo em tempos de crise capitalista e de ameaça ao imperialismo estadunidense, Donald Trump propõe à economia americana aquilo que a fortaleceu no passado: protecionismo e forte ativismo estatal para garantir a acumulação privada nacional. É nesse contexto que se pode entender melhor os possíveis impactos das políticas econômicas de Trump para o Brasil.

Os primeiros impactos possíveis são os mais diretos: as medidas protecionistas, com tarifas de importação entre 10% e 20% – e até 100% para alguns setores da economia chinesa – devem gerar um esfriamento dos fluxos no comércio mundial.

Para o Brasil, que tem nos EUA seu segundo maior parceiro comercial, isso pode significar uma redução das exportações, especialmente de ferro e aço. Menos exportações impactam negativamente a balança comercial brasileira, o que afeta a formação de reservas internacionais.

Além disso, as tarifas aumentam os preços dos produtos importados pelos cidadãos americanos, o que contribui para a elevação da inflação. Como os bancos centrais costumam tratar a inflação como um problema monetário, a solução é geralmente elevar a taxa básica de juros.

Dado o caráter dependente da economia brasileira e a posição frágil do real na hierarquia internacional, qualquer aumento nas taxas de juros dos EUA pode gerar uma elevação na taxa Selic.

O impacto da taxa de juros elevada no Brasil é o encarecimento do crédito, a redução dos investimentos, a queda no consumo e uma desaceleração econômica, com efeitos negativos sobre o emprego e a renda.

Outro possível impacto é a manutenção de uma política de dólar forte, influenciada tanto pelo aumento das taxas de juros nos EUA quanto pela instabilidade do cenário internacional.

Esse contexto incentiva os investidores a manterem seus recursos em títulos da dívida pública americana, vistos como mais seguros, em vez de direcioná-los para economias como a brasileira. Com o dólar valorizado, as importações brasileiras se tornam mais onerosas, elevando o custo de vida e pressionando a inflação interna por meio da taxa de câmbio.

Ainda assim, há oportunidades para o Brasil

No entanto, há também um impacto indireto que pode ser benéfico para o Brasil, caso o país saiba aproveitá-lo. Com Trump, é provável que haja um maior acirramento dos conflitos políticos e da guerra comercial dos EUA com a China.

Em cenários de tensão entre grandes potências econômicas, os países periféricos, como o Brasil, geralmente têm maiores margens de manobra para barganhar melhores acordos.

O Brasil, com seu caráter estratégico, pode se beneficiar da busca de aproximação política e econômica tanto dos EUA quanto da China, o que poderia resultar em acordos vantajosos, transferência de tecnologia e novas cooperações.

Em minha análise, o melhor caminho para o Brasil seria aproveitar o isolamento da economia americana na região e o momento de tensão global para fortalecer alianças que promovam um mundo multipolar.

Apostar no BRICS como um bloco que busca mais do que interesses comerciais pragmáticos, promovendo uma identidade central voltada aos países do Sul Global, poderia enfraquecer o imperialismo americano.

Isso incluiria reduzir a influência do dólar como moeda reserva e construir acordos com nações que valorizem a autodeterminação nacional e a cooperação baseada em interesses compartilhados.

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