Quem foi Janaína Bezerra, estudante de Teresina que dá nome à sala de apoio a vítimas de violência de gênero na USP?


A Sala Lilás “Janaína Bezerra Vive” é uma ocupação feita por estudantes da USP para servir como centro de referência para mulheres e vítimas de violência de gênero na universidade. Quem foi Janaína Bezerra, aluna da UFPI homenageada em São Paulo?
Reprodução
Quem foi Janaína Bezerra, aluna da UFPI homenageada em São Paulo?
Reprodução
Um grupo de estudantes inaugurou na segunda-feira (25), no Dia Internacional para a Eliminação de Violência Contra as Mulheres, a Sala Lilás. A sala é uma ocupação de um prédio desativado do campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP), que deverá ser um ponto de apoio para mulheres vítima de violência de gênero dentro da universidade. Elas batizaram a sala com o nome da estudante piauiense Janaina Bezerra.
✅ Siga o canal do g1 Piauí no WhatsApp
🟣 Janaína da Silva Bezerra foi aluna da Universidade Federal do Piauí (UFPI), vítima de violência sexual e feminicídio dentro da instituição, em uma sala de aula. Mas além disso, ela era poeta, estudante de jornalismo, amiga, filha e feminista.
A ocupação do espaço tem o objetivo de reivindicar equipe técnica para a sala com especialistas na área (psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais). Segundo a aluna Naomi Asato, uma das organizadores do espaço, os estudantes também esperam que seja um espaço cultural e de formação política. Para identificar tipos de violência, e o estudos da história de mulheres.
Ainda conforme Naomi, o local estava abandonado e na universidade não há equipamentos que acolham mulheres vítimas de violência.
“Ainda que diversos casos de assédio e violência sexual ocorram na nossa universidade entre estudantes, funcionaries e docentes nas salas, ruas, festas e moradias estudantis do Campus, não possuímos até hoje um espaço físico para o atendimento especializado. Ou os casos são acolhidos por docentes e coletivos feministas, ou são encaminhados para órgãos de segurança pública, como a polícia militar e guarda universitária, e perdidos na burocracia. Reivindicamos também um protocolo de atendimento e de expulsão de agressores, que viabilize também a obtenção da Medida Protetiva pela Lei Maria da Penha”, explica a estudante.
Ao g1 a USP disse que não vai se manifestar sobre a ocupação. E em relação ao protocolo de assistência às vitimas, a universidade está atualizando um novo documento junto a Superintendência de Assistência Social da USP (SAS) e o Escritório USP Mulheres. Deve ficar pronto, segundo a instituição, no inicio do ano letivo de 2025.
Quem foi Janaína?
de Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, foi morta após ser estuprada e ter o pescoço quebrado em Teresina
Reprodução
Janaína da Silva Bezerra era estudante de Jornalismo da UFPI, tinha 22 anos, nasceu em Teresina, capital do Piauí, e morava na Zona Norte da cidade.
Ela foi brutalmente assassinada em uma sala da universidade durante uma calourada entre a noite 27 e 28 de janeiro. Segundo a Polícia Civil, Janaína foi estuprada, teve o pescoço quebrado e sofreu vilipêndio de cadáver (violência após a morte).
Mas além disso, Janaína era uma filha amável e uma amiga companheira. Segundo a mãe dela, Maria do Socorro Silva, a filha gostava de manter a família reunida. Em eventos comemorativos, Janaina sempre animava os familiares para estarem juntos. Seu sonho, segundo a mãe, era cursar Jornalismo.
“Janaína era uma filha muito boa, muito dedicada, uma filha que toda mãe queria ter. Minha filha que era a cabeça da casa, muito amorosa, boa para as irmãs. Ela que organizava tudo aqui dentro de casa, as reuniões, comemorações. Era muito especial. Só queria o bem das pessoas, só queria o bem de todo mundo. Era pra tá se formando agora. No curso que ela sempre quis. Adorava o que fazia, escrevia bastante, bastante mesmo”, afirma a mãe.
Pelos corredores da UFPI, no bloco do curso de Comunicação Social, do Centro de Ciências da Educação (CCE) em Teresina, Janaina e seu amigo Francisco Clarindo costumavam fazer planos para o futuro e dividir sonhos.
Compartilhe esta notícia no WhatsApp
Compartilhe esta notícia no Telegram
Segundo Clarindo, “foi um privilégio conhecê-la durante o curso”. Os dois cursavam juntos Jornalismo. A morte de Jana, como a amiga era chamada, ainda é algo difícil de lidar.
“Estamos nos aproximando de dois anos desde o ocorrido, e a sensação de que ainda há pendências permanece. Conversávamos especialmente sobre a importância de escrever em um ambiente comprometido com ações antirracistas, um espaço onde pudéssemos nos sentir seguros como pessoas negras”, relembra o amigo
Poetisa
Memorial Janaína da Silva Bezerra, na Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Ascom UFPI
Janaína também escrevia poesias. Além de sua página pessoal no Instagram, a estudante criou um perfil dedicado aos seus versos, que continua ativo. Ela escrevia sobre o cotidiano, seus sonhos e sobre negritude. Via o mundo através da poesia.
“Embora ela amasse escrever poesias, nem todas foram publicadas no Instagram. Jana era uma pessoa reservada, que aos poucos começava a mostrar suas obras ao público”, disse o amigo Clarindo.
Um trecho de um desses poemas foi registrado no “Memorial Janaína da Silva Bezerra”, um mural feito em sua homenagem no anfiteatro do setor das salas de aula do curso de jornalismo, onde ela estudava, no campus Petrônio Portela da UFPI, em Teresina (foto acima).
Ele foi publicado em 30 de novembro de 2022, cerca de uma mês antes da jovem ser brutalmente assassinada.
Leia o poema na íntegra:
Que em mim a solidão nao habitue morada
E muito menos que me seja confortável o seu abraço
Astro Rei sempre mostra para os filhos o caminho
Então, confio
De onde venho não se encontra esperança em fundos escuros como fez Pandora
Pelo contrário
Me impedem de ver o sol
E ele pra mim dá o norte para a estrada
Rumo a minha casa
No berço do mundo onde me roubaram ate a língua
Mas nao esqueci de falar
Falo em poesia
Negra
Palavras permanecem e nao podemos esqueçer
Que o calor que aquece nosso corpo vem do sol que queima e faz-se reluzir em nossa pele
Escura
Cor de terras distantes
Onde temos solo fertil e Ankh
Representando vida eterna.
Assassino condenado
Thiago Mayson foi condenado a 18 anos e seis meses de prisão por quatro crimes, entre eles estupro e assassinato de Janaína Bezerra. O crime aconteceu em uma sala da Universidade Federal do Piauí, em Teresina, durante uma calourada, no dia 28 de janeiro de 2023. O resultado saiu na madrugada do dia 30 de setembro de 2023.
O réu, que era estudante do mestrado em matemática da Universidade Federal do Piauí, já conhecia a vítima e a encontrou durante uma festa no campus Petrônio Portella, os dois foram para uma sala à qual ele tinha acesso por ser estudante do mestrado, onde ocorreu o estupro e assassinato de Janaína, que cursava jornalismo na instituição.
LEIA TAMBÉM:
85 mil mulheres e meninas foram assassinadas no mundo em 2023
Após mais de 20 horas de julgamento no Tribunal Popular do Júri, o conselho decidiu pela condenação por homicídio, estupro, vilipêndio de cadáver e fraude processual, e o juiz Antônio de Reis Nolleto fez a dosimetria da pena.
Quem foi Janaína Bezerra, aluna da UFPI homenageada em São Paulo?
Reprodução
Quem foi Janaína Bezerra, aluna da UFPI homenageada em São Paulo?
Reprodução
📲 Confira as últimas notícias do g1 Piauí
📲 Acompanhe o g1 Piauí no Facebook e no Instagram e no X
VÍDEOS: assista aos vídeos mais vistos da Rede Clube
,
Adicionar aos favoritos o Link permanente.