Indígenas respondem como recuperar a floresta degrada pelo garimpo em filme com imagens inéditas da Terra Yanomami


Maior território indígena do Brasil, Terra Yanomami tenta se recuperar de anos de degradação ambiental causada pelo garimpo ilegal. Líder e xamã Yanomami, Davi Kopenawa
Fabrício Marinho/Platô Filmes/ISA
“Para começar a fazer um bom diálogo, começaria no setor de Educação, dentro das escolas”, responde a liderança Maurício Ye’kwana à pergunta “como a floresta vai se recuperar?” – questionamento feito em razão dos anos de degradação na Terra Indígena Yanomami causada pelo garimpo. E é esta pergunta que conduz o filme produzido durante o 5º Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançado nesta quarta-feira (11) no Youtube do Instituto Socioambiental (ISA).
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Com 13 minutos de duração, o mini documentário tem imagens inéditas de um sobrevoo feito em outubro sobre as regiões mais afetadas pelo garimpo ilegal, como Alto Rio Catrimani, Rio Couto Magalhães, Xitei e Rio Parima (veja abaixo).
O material tem, ainda, relatos de lideranças e entrevistas com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e do chefe da Casa de Governo, Nilton Tubino.
A reunião do 5º Fórum ocorreu após as cicatrizes deixadas pela ausência de governo nos últimos anos, especialmente na gestão de Jair Bolsonro, descrita como um período de “pesadelo para os povos indígenas” pela liderança Maurício Yekuana, que também diretor da Hutukara Associação Yanomami, organização mais representativa do povo indígena.
“Começou a diminuir a questão da invasão [de garimpeiros]. Hoje diminuiu muito, a gente quase não vê muitos garimpeiros, nem muitos movimentos principalmente nos rios, subindo rio e descendo rio. E os rios também eram barrentos e hoje tá quase limpando”, diz Júlio Ye’kwana, presidente da Wanasseduume Ye’kwana (Seduume).
O 5º Fórum de Lideranças Yanomami ocorreu de 23 a 27 de setembro na comunidade Fuduuwaaduinha, em Auaris, onde vivem os Ye’kwana, subgrupo dos Yanomami. O evento reuniu lideranças de todas as regiões da Terra Indígena Yanomami e teve a presença de representantes do governo federal para prestar contas aos indígenas sobre as ações no território.
“A gente queria escutar o plano do governo, o que eles estão trazendo para nos informar, qual é a estratégia que estão arrumando para melhorar a Terra Indígena Yanomami. É para isso que trouxemos o governo federal para dialogar e cobrar também”, conta Júlio Ye’kwana.
Área degradada pelo garimpo no Alto Catrimani, na Terra Indígena Yanomami
Lucas Silva/Platô Filmes/ISA
O líder e xamã Davi Kopenawa, presidente da Hutukara, e o filho, Dário Kopenawa, vice-presidente da organização, também deram depoimentos no filme e reforçaram a necessidade de respeitar a natureza.
“Queremos respeitar a nossa mãe natureza, se não respeitarmos a nossa mãe natureza, onde vamos viver? Onde vamos tomar água? Que vida boa vamos viver? Por isso queremos os dois mundos: Yanomami e da cidade. Queremos proteger a nossa terra que é única e não tem plano B”, disse Dário.
Como a comunidade Fuduuwaaduinha fica a cerca de 10 km da fronteira com a Venezuela, indígenas Yanomami e Ye’kwana do país vizinho também participaram do evento. Desde 2008, o governo venezuelano não demarca terras indígenas. Além disso, os Ye’kwana relatam forte presença de garimpeiros e pescadores nas terras indígenas.
“No meu povo, não existe educação para a saúde. Não há médicos específicos, com mais sabedoria, então estão falecendo muitos familiares”, disse Lavi Hernandez, Yanomami da Venezuela.
O filme, assim como a carta final do V Fórum, foi assinado por nove associações da Terra Indígena Yanomami. A HAY e o ISA são os responsáveis pela realização do filme, que teve produção da Platô Filmes.
Thiago Briglia assina a produção executiva, enquanto a produção de conteúdo é do jornalista Fabrício Araújo, que também assina o roteiro junto com Yare Perdomo. O filme tem imagens e direção de fotografia de Lucas Silva, assistência de fotografia de Fabrício Marinho e edição de Yare Perdomo.
Fórum foi realizado na comunidade Fuduuwaaduinha, distante 10 km da fronteira com a Venezuela
Fabrício Marinho/Platô Filmes/ISA
Terra Yanomami
Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise de saúde devido ao avanço do garimpo ilegal, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa.
A Terra Yanomami está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal, a partir da posse de Lula (PT), começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.
Apesar das atividades de combate ao garimpo na região deflagradas em fevereiro de 2023, os invasores continuam em atividade. O Ministério dos Povos Indígenas estimou em março deste ano que 7 mil garimpeiros permanecem na região.
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