Patrono do meio ambiente, acreano Chico Mendes completaria 80 anos se estivesse vivo


Francisco Alves Mendes Filho nasceu no dia 15 de dezembro de 1944 em Xapuri e foi assassinado uma semana depois com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía para tomar banho. Legado do ambientalista reverbera no mundo mesmo após a morte. Chico Mendes foi morto há 35 anos por fazendeiros no interior do Acre
Reprodução
Símbolo da luta ambientalista em todo o mundo, o acreano Francisco Alves Mendes Filho, conhecido internacionalmente como Chico Mendes, completaria 80 anos neste domingo (15) se não tivesse sido assassinado com um tiro de escopeta no dia 22 de dezembro de 1988, uma semana após o aniversário, enquanto tomava banho nos fundos de casa em Xapuri, no interior do Acre.
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Conhecido internacionalmente, o legado de Chico é mantido pelos filhos por meio do Comitê Chico Mendes, além de instituições, avenidas e parques que levam o nome dele, tais como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Via Chico Mendes e o Parque Ambiental Chico Mendes, estes dois últimos em Rio Branco.
Neste domingo, inclusive, o Comitê publicou uma homenagem ao seringueiro.
“O ambientalista que morreu lutando pela floresta acreditava que ‘atos numerosos não salvam a Amazônia’, mas os herdeiros de seus ideais seguem convencidos de que a força de seu nome ressoa no tempo”, disse.
A lei 12.892, que declara Chico Mendes como patrono nacional do meio ambiente, também é uma homenagem póstuma e foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 16 de dezembro de 2013. A normativa, de autoria da deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), foi sancionada pela presidente da República na época, Dilma Rousseff.
O legado do ambientalista também inspirou diversos artistas do Brasil e de outros países a produzirem canções que relembram a luta e o legado deixado pelo líder seringueiro que ultrapassou as gerações futuras.
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Retrato de Chico Mendes na casa que ele viveu, em Xapuri (AC)
Yasuyoshi Chiba/AFP via Getty Images (via BBC)
Quem foi Chico Mendes
Chico Mendes nasceu em 15 de dezembro de 1944, no Seringal Porto Rico, no município de Xapuri. O seringueiro se tornou conhecido mundialmente por sua luta contra o desmatamento e a transformação da floresta em pasto para gado. A derrubada de árvores afetava o trabalho dos seringueiros da região, com a diminuição do látex disponível.
Chico virou líder sindical no Acre e passou a promover com colegas atos de resistência, também conhecidos como “empates”, nos quais confiscavam motosserras e impediam o trabalho de pecuaristas. Diversos líderes dos sindicatos que representavam os seringueiros foram mortos a partir da década de 1980.
🏆 Entre 1987 e 1988, Chico Mendes recebeu o Global 500 da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos.
Darly Alves (à esquerda) e Darci Alves (à direita), condenados pelo assassinato de Chico Mendes
Arquivo TV Acre
Após a morte de Chico Mendes, Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves, e um irmão do fazendeiro, Alvarino Alves da Silva, foram apontados como os principais suspeitos do homicídio.
A participação de Alvarino nunca foi comprovada, mas pai e filho acabaram sendo condenados a 19 anos de prisão: o primeiro porque teria sido o mandante do crime e o segundo porque teria atirado no ativista. Em 1993, eles fugiram da prisão em 1993 e foram recapturados em 1996.
Em 1999, Darly saiu do presídio para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. Darci, no mesmo ano, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime semi-aberto. Darly inclusive disse, em fevereiro de 2013 ao g1, que considerava injusta a fama após o crime.
À esquerda, Marina Silva ao se formar em História em 1984; à direita, Marina em panfleto de campanha para deputada federal ao lado de Chico Mendes
Divulgação
‘Facada no peito’, diz viúva
Ilzamar Mendes, viúva de Chico e mãe dos dois filhos do casal, Elenira e o Sandino, contou ao g1 na época que nos dias que antecederam a morte de Chico Mendes, ele já dizia que estava com os dias contados.
“Em 15 de dezembro, dia do aniversário dele, ele me chamou até o quarto, sentou as crianças no colo, olhou para nós três e disse que aquele seria o último aniversário que passaria conosco. E isso foi ruim. Era uma facada no peito por saber que aquela pessoa que tanto você ama, que desenvolvia um trabalho importante, tanto para o Acre, como para o Brasil e para o mundo, estava sendo perseguido e ameaçado de morte”, contou.
Chico Mendes e Ilzamar no dia do casamento
Arquivo de família
Reaberta após cinco anos
Um dos patrimônios históricos mais importantes do Acre, a casa do líder seringueiro Chico Mendes foi reaberta no dia 10 de novembro de 2023 após ficar cinco anos fechada para reforma na cidade de Xapuri.
O imóvel chegou a ficar fechado também para revitalização após a enchente histórica em Xapuri em 2015. A conclusão das obras de manutenção e reforma totalizou um investimento de R$ 92 mil.
Casa em Xapuri onde viveu e morreu Chico Mendes
Melícia Moura/CBN Amazônia Rio Branco
Na época, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) explicou que já havia um projeto de restauração planejado desde 2014, mas, após a cheia do rio, precisou passar por modificações.
Após essa obra, a casa foi reaberta em junho de 2017 e voltou a receber visitas. Contudo, o lugar voltou a ser fechado em 2018 para obras. Já este ano, uma enchente histórica em Xapuri cobriu a casa de Chico. Quase um mês depois, no dia 22 de março, ela foi reaberta.
Casa Chico Mendes foi tomada pelas águas do Rio Acre em Xapuri
Jorge Alves/Arquivo pessoal
Cartas a Chico
Há um espaço totalmente dedicado ao líder seringueiro Chico Mendes no Museu dos Povos Acreanos, em Rio Branco. Na sala, há um monumento, uma caixa, que guarda mensagens escritas em 2010.
No dia 22 de dezembro de 2010, data que marcou os 20 anos do líder seringueiro, a Biblioteca da Floresta, na época sob direção de Edgar de Deus, selou uma caixa contendo mais de 5 mil cartas, desenhos e depoimentos de crianças, jovens, adultos e idosos inspirados na “Mensagem para o Futuro”, escrita por Chico Mendes. A caixa só será aberta em 6 de setembro de 2120.
“São mensagens enviadas para um tempo que não veremos. Registros da resistência e a esperança de toda uma geração que lutou para preservar e promover o meio ambiente, dando a sua contribuição para um futuro melhor aos homens e mulheres, povos da floresta, que aqui habitam e sonham”, diz a mensagem abaixo da caixa.
Túmulo de Chico Mendes, morto em 1988
Melícia Moura/CBN Amazônia Rio Branco
VÍDEOS: Parque Nacional
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