Rebeca Andrade escreve carta sobre trajetória; veja na íntegra

Rebeca Andrade se tornou a maior medalhista olímpica da história do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. A ginasta conquistou quatro medalhas na Cidade Luz, sendo uma de ouro, duas de prata e uma de bronze e chegou ao total de seis medalhas olímpicas, já que em Tóquio já tinha conquistado duas, uma de ouro e uma de prata.

Mas o caminho de Rebeca até os pódios não foi nada fácil. Natural de Guarulhos, em São Paulo, a filha de dona Rosa precisou deixar a casa da mãe aos nove anos de idade para buscar seu sonho. Além disso, conviveu com lesões e cirurgias ao longo da carreira.

Inspiração para torcedores brasileiros e ao redor do mundo, Rebeca contou, em um depoimento escrito, sua trajetória até chegar às seis medalhas olímpicas e deixou um recado para as próximas gerações. A carta foi divulgada pela Vult, marca de beleza, cosméticos e cuidados pessoais, da qual a ginasta é embaixadora.

“Escrevi esse relato como um convite meu para que todas as brasileiras acreditem em seus sonhos, se orgulhem das suas raízes e voem alto!”, disse Rebeca em publicação no Instagram.

Leia o depoimento na íntegra

Parece loucura, mas se alguém falasse para aquela Rebeca ainda criancinha: ‘Calma, Rebequinha. Siga em frente, não tenha medo! Vai dar tudo certo. Ele está te preparando’. Eu não ia acreditar. Talvez nem entendesse direito. Talvez, não, com certeza não entenderia (rs). E nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar que teria pela frente um caminho tão desafiador, mas igualmente especial e incrível.

Hoje é mais fácil pensar nisso. E escrevo estas palavras com o coração cheio de gratidão e esperança, refletindo sobre cada salto, cada giro, cada pouso, tombo, claro (rs). Todos eles. E fico pensando no caminho que me trouxe até aqui. Volto no tempo para pensar em como tudo começou.

Minha história é feita de reviravoltas, de experiências que nos ensinam a não desistir e a tentar sempre voar mais alto. E, assim como todo brasileiro, aprendi nessa jornada que acreditar é o primeiro passo para transformar o impossível em realidade.

Nasci em Guarulhos, uma vida simples, família grande, cheia de boas lembranças. Uma vida repleta de desafios, mas onde o amor sempre foi maior que as dificuldades. Minha mãe, Rosa, é uma daquelas mulheres de fibra, que sempre fez tudo pelos filhos, que educou da melhor maneira e nos fazendo entender que era preciso acreditar. ‘Você pode ser o que quiser, Rebeca!’. Essa frase me acompanha até hoje, desde quando eu mal sabia que aquelas cambalhotas e os saltos da beliche iriam me levar tão longe.

Sábias palavras, Dona Rosa…

Descobri a ginástica aos 4 anos. E lembro muito bem até hoje… Me encantei quando entrei no ginásio pela primeira vez. Era demais! Trave, barras, cama elástica, um monte de coisa bacana! E eu era espoleta, então ali era onde eu queria morar (rs)! Mal sabia que ali o meu futuro começava a mudar e o ginásio seria quase uma segunda casa…

E as coisas foram acontecendo. Aos 9 anos, veio uma escolha difícil, mudar para Curitiba e ficar longe da minha família. Minha mãe só me deu confiança e segurança: era o meu sonho e ela sabia o que era melhor pra mim. A saudade seria enorme, mas nós nunca estaríamos longe, mesmo com a distância. ‘Acredite, Rebeca!’. Ô, Dona Rosa… E foi assim… quedas, saltos, lesões, alegrias, momentos bons e ruins, uma gangorra em que eu sempre ia buscar forças no mesmo lugar. Minha família. Sempre.

Olha, não foi fácil. Só de cirurgias… Ai, meu joelho! Ai, meu tornozelo! Lesões que me fizeram parar. Me fizeram pensar, refletir. Me fizeram até desistir… Mas eu não resisti. Não era hora de desistir. Voltei. Voltei por mim, pela minha família, pelo meu técnico, Xico, por tudo que o futuro ainda reservava pra mim. Se todos acreditavam, porque eu não acreditaria?

Hoje olho para trás e lembro da lesão de 2015… Do quão duro foi aquele golpe. Eu era uma menina e não estava preparada para aquilo. Depois em 2017… E depois em 2019… A dor se misturava à incerteza, a lesão trazia um sentimento ruim, de frustração, de agonia, de um certo desespero. Eu fiquei me perguntando porque aquilo estava acontecendo. Mas voltei. Todas as vezes. E cada vez mais forte.

E então veio Tóquio-2021, nos Jogos Olímpicos que foram adiados em um ano por causa da pandemia. Uma medalha de ouro. E uma de prata! E um choro de felicidade que só veio depois dos pódios. Tudo valeu a pena. Uma certeza que veio com a lembrança da voz da minha mãe, da Dona Rosa, falando que ela estava ali, que não ia me deixar desistir por medo, que eu tinha que acreditar. E acreditei. Todos acreditaram. E assim chegamos a Paris-2024.

Lembra do impossível? Ele se tornou possível. Até agora é difícil de acreditar tudo que aconteceu nesses últimos anos entre Japão e França. Da maneira como aconteceu. ‘Você pode ser o que quiser, Rebeca!’. E ela estava lá. Em Paris. Minha mãe estava lá, torcendo, vibrando, vivendo aquele sonho comigo. Ela tinha que estar lá… E ela viu a Rebequinha, que ela não deixou desistir, conquistar quatro medalhas. Meu! Quatro medalhas olímpicas! E que agora são seis! (rs) E ela tinha que estar lá. Eu não poderia pedir mais nada…

Tenho muito orgulho do que conquistei. Não conquistei nada sozinha. Tem pedacinhos de muita gente nessas medalhas… E muita gratidão por todos que torcem, vibram e comemoram cada conquista minha, que sabem o quanto é difícil o caminho e o quão valiosa é uma medalha olímpica. Acreditar sempre. Foi isso que a Rebeca, aquela pequena, de 4 anos, aprendeu. Lutar pelos sonhos. Foi isso que aquela menina colocou como objetivo depois que se encantou pelo ginásio. E voar, o mais alto que puder, sem medo de cair. É o que eu penso todos os dias.

Sonhe! Lute! Acredite! Voe alto! O mais alto que puder!

Rebeca Andrade

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Rebeca Andrade escreve carta sobre trajetória; veja na íntegra no site CNN Brasil.

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